Foto (DR)

“Levar a Santa Casa mais além” é o grande objectivo do provedor da instituição que garante estar rodeado de pessoas que “têm uma visão longínqua” e que lutam por uma Misericórdia “cada vez mais aberta”.

Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, Joaquim Barbosa Esteves frisou que sempre trabalhou em prol de uma instituição que “servisse cada vez melhor os utentes”. A prova-lo está o facto de, há poucos dias, ter conseguido cortar a fita a um sonho antigo: a nova cozinha que passa a servir cerca de 140 utentes e que tem a capacidade de confeccionar “entre 400 a 500 refeições por dia”.

Os utentes dos lares, assim como todos aqueles a quem a Santa Casa presta apoio domiciliário, vão beneficiar desta nova estrutura que nasceu no espaço da antiga adega. A intervenção ficou orçada em cerca de 900 mil euros, sendo que mais de 400 mil saíram dos cofres da Misericórdia e os restantes foram comparticipados pelo programa ‘Portugal 2020’.

“A cozinha era um espaço há muito desejado pela Misericórdia de Penafiel”

Apesar de dizer que este equipamento “era há muito esperado e desejado” pela Santa Casa e só “há cerca de um ano e meio” foi possível tirá-lo do papel, Joaquim Barbosa Esteves destaca que, a partir de agora, vai ser possível “concentrar recursos, para além de controlar e melhorar a qualidade do serviço de cozinha prestado a todos os utentes”.

Nova cozinha da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel (Foto DR)

Além da inauguração da cozinha, a Santa casa aproveitou a cerimónia, onde esteve presente o autarca de Penafiel, Antonino Sousa, para proceder à benção de uma carrinha de transporte dos alimentos para o apoio domiciliário.

Mas os projectos não se ficam por aqui.  O provedor continua a sonhar com outros espaços e valências que façam com que a Misericórdia se torne, cada vez mais, um lugar de excelência para acolher aqueles que precisam.

Um novo lar, que já tem edifício destinado, e que se situa em frente à Igreja Matriz de Penafiel, que “permita fazer a separação de utentes”, é outras das obras ansiadas. De um lado vão ficar aqueles que têm mais autonomia, não só do ponto de vista físico como intelectual, e o outro será para receber aqueles que estão totalmente dependentes. “Esta separação vai possibilitar “optimizar e melhorar as condições, não só dos utentes, mas também de todos aqueles que lhes prestam cuidados”.

Este é um projecto que já se arrasta há vários anos, devido a contrariedades processuais, mas que o provedor espera ver começar o mais rápido possível.

Para além desta estrutura, Joaquim Barbosa Esteves quer também proceder à “remodelação do sistema eléctrico da instituição, de forma a cria energia para consumo”, assim como de todo o sistema de aquecimento. Tal como as outras ideias, também esta tem como meta “a melhoria de condições para os utentes”, não só ao nível do conforto, mas também da segurança.

Provedor Joaquim Barbosa Esteves (foto DR)

Aos 74 anos, o provedor reconhece que “os tempos têm sido difíceis”, sobretudo porque “as despesas são cada vez maiores”. Primeiro “tivemos a pandemia e, agora, a guerra na Ucrânia”, que se têm traduzido numa “escalada de preços”.

Uma estrutura como a Misericórdia implica “uma gestão ao cêntimo” e “há dias em que chego a casa e não consigo dormir a pensar como vou resolver os problemas”

Os produtos e consumíveis “estão sempre a aumentar e os utentes continuam a pagar o mesmo”. Por isso, reconhece que uma estrutura como a Misericórdia implica “uma gestão ao cêntimo”, algo que não deixa de ser “desafiador”.

“Há dias em que chego a casa e não consigo dormir a pensar como vou resolver os problemas”, contou ao Verdadeiro Olhar.

Apesar de todas estas contrariedades, Joaquim Barbosa Esteves fez questão de sublinhar todo o trabalho que a equipa que trabalha na instituição tem feito. “Os funcionários têm sido inexcedíveis” e, reconhece que gostava muito de “os compensar mais”, porque é premissa desta casa “que as pessoas se sintam felizes e motivadas a trabalhar”. Mas, e tendo em conta os recursos, o provedor garante que “faz o possível”, mas que todos mereciam “ainda mais”. Ainda assim, frisa que a “equipa, os utentes”, assim como a autarquia e outras instituições do concelho de Penafiel “acarinham” esta instituição que tem sentido o apoio de todos”.

De salientar que a Misericórdia de Penafiel tem cerca de 160 funcionários, onde se incluem três médicos de clinica geral, um médico psiquiatra, um psicólogo, três enfermeiros e um fisioterapeuta, para além de todo o pessoal auxiliar e administrativo.

“Os funcionários da Santa Casa têm sido inexcedíveis”

Ligado à instituição há mais de 14 anos, com passagem em várias áreas desta estrutura, quer de tesouraria, obras e até da parte agrícola, uma vez que esta Misericórdia produz tudo aquilo que consome, Joaquim Barbosa Esteves reconhece que “está pronto para a reforma”, no que à função de provedor diz respeito. Quase a completar dois anos na provedoria desta instituição, falta pouco para fechar este ciclo de vida, considerando que a partir daqui começa a ser “um trabalho que deixa de ser saudável”. Por isso, está quase a “chegar a hora de me dedicar à minha mulher, que passa demasiado tempo enclausurada”, devido à sua ausência, e a ter algum “descanso”, avançou.

Mas enquanto esse dia não chega, Joaquim Barbosa Esteves vai continuar a dedicar-se de alma e coração a esta instituição, porque, e apesar das noites sem dormir e de a Misericórdia lhe tirar tempo com a família e até descanso, o provedor é peremptório em afirmar que todo o trabalho que fez na Santa Casa “tem sido compensador”. Aliás, refere, “devia ser obrigatório todas as pessoas passarem por uma instituição como esta”, porque é uma experiência única, quer do ponto de vista “pessoal, quer social”.

Talvez por isso, e quase a completar 75 anos, não hesite em se considerar “um homem feliz”. Tem conseguido realizar os seus sonhos e, enquanto não fechar a porta, vai continuar a lutar para que a instituição que dirige “seja cada melhor”.