POLÍTICA PARA TOTÓS: Foi bonita a festa, pá!

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A autarquia de Paredes assinalou o dia do município com a tradicional sessão solene de homenagem às personagens, empresas e associações que, segundo critérios que desconheço, mereceram essa distinção. No caso, a medalha de ouro da cidade.

Esta foi, para nós, muito provavelmente, a melhor cerimónia que sempre se realiza nesta data, em Paredes, desde o 25 de abril. Estes tipos de apreciações serão sempre subjetivas, mas quando pensadas ganham mais sentido e razão de ser.

Quem ler este texto poderá pensar que esta avaliação resulta do facto de entre os homenageados se encontrarem muitas figuras que conhecemos há muito tempo e pelas quais nutrimos sentimentos de amizade desinteressada e até de admiração por alguns deles. O Rui Orlando Costa, “nasceu” comigo aos 16 anos, nas rádios que dirigi, para a profissão que tanto dignifica. Tem sido, podemos dizê-lo, um irmão mais novo ao longo de muitos anos. Tratamo-nos como familiares e somos. O Joaquim Alves Faria, sobretudo nos últimos anos, é, podemos dizê-lo, o irmão mais velho que nos aconselha e honra com a sua incomensurável amizade. Domingos Barros, figura incontornável na vida do concelho desde que nos conhecemos, em tempos que remontam ao início da nossa atividade política. Um homem de trato nobre e com quem partilhamos episódios inenarráveis, mas sempre respeitáveis. Juvilte Madureira, cuja distinção foi exaltada sobretudo pela profissão de ferroviário, é muito mais do que isso. Convivemos com ele desde os inícios da democracia e encontramos-lhe outros méritos. Tornar-se-ia, por extensa, quase interminável esta declaração de interesses que nos fizeram gostar mais desta cerimónia e, por isso, olhá-la de maneira ainda mais parcial. Aliás, conhecemos pessoalmente quase todos os homenageados e reconhecemos o mérito daqueles de quem só ouvimos falar.

Contudo, o conhecimento pessoal de quase todos os homenageados já nos ocorrera em outras sessões do género. O que nos fez, de forma mais objetiva, escolher esta como a melhor a que assistimos desde que temos memória?

Primeiro, porque, não colocando em causa a justeza de anteriores agraciações, desta vez, parece-nos que os critérios de escolha foram muito além do “lambe-botismo” partidário e a bajulação política que, muitas vezes, orientaram outras distinções.

Mas, para além desta razão quase sempre evidente, que outros motivos teremos para tamanho contentamento?

Desde logo, a homenagem ao poeta Daniel Faria. É, seguramente, o maior poeta que o concelho de Paredes alguma vez viu nascer. O estudo da sua obra que agora se começa a fazer nas universidades, algumas delas no estrangeiro, muito brevemente, dará razão a estas palavras.

Homenagear as carreteiras, na figura de Maria Carneiro Alves Lamas, é um ato de reconhecimento histórico da importância das mulheres no concelho de Paredes. Uma História que está ainda por fazer, mas cuja importância ninguém deverá ignorar.

Poderíamos estender esta crónica por aí fora que nos restaria sempre a sensação de que ficaria sempre algo por dizer.

Terminamos com duas observações que, por serem o rodapé da crónica, não serão menos importantes e, porventura, constituirão novidade para alguns.

Ao homenagear Juvilte Madureira, a câmara não homenageou só o ferroviário. Em Paredes, foi o primeiro executivo desde o 25 de Abril a homenagear um comunista. Não se trata de um ato de coragem, mas é, estamos certos, o reconhecimento de que para além das ideias e acima delas estão as pessoas e, acima de tudo, lembra-nos que a democracia só se designa assim por ser plural. De Juvilte Madureira lembramos também que foi o primeiro autarca deste concelho, ainda na década de 80, a atrever-se e a promover a discussão pública e o debate plural sobre o Ambiente. Uma antecipação do que são hoje os maiores problemas do planeta.

Por fim, o discurso do presidente. Talvez o melhor desde que tomou posse. Um discurso equilibrado, com várias citações, mas sem ser excessivo e sobretudo por nos trazer algo de novo e essencial. O anúncio de um congresso para pensar caminhos, subordinado ao tema “Paredes, que passado, que presente e que futuro” é uma ideia tão útil quanto necessária num concelho que sofre permanentemente desta ameaça de nem ser litoral nem ser interior e de se tornar – se ainda não é – num mero dormitório originado pela proximidade do Porto, o segundo maior centro urbano do país.

Foi bonita a festa, pá!

FEL

Tinha tudo para terminar bem

Não fosse, no final da cerimónia de homenagem do dia do concelho de Paredes e quando se ia proceder ao descerramento da placa evocativa da cerimónia, os que não couberam no salão e assistiram no espaço destinado ao público – quase tantos como os que se encontravam no salão e entre eles alguns familiares e amigos convidados pelos homenageados- se viram barrados por ideia de alguma alma esdrúxula, que deve pensar que a democracia ainda está para vir e o povo só passa depois da nobreza. E não, não foi, de certeza, a simpática menina incumbida da tarefa que teve a infeliz ideia. Obedeceram os que quiseram. Desobedeceram os que acham que os socialistas não podem ser assim. A festa tinha tudo para terminar bem!

MEL

Cortejo Etnográfico

Vão ser sempre muitos os que  comem mais com os olhos do que com as avantajadas barrigas a preferirem  ver os corpos seminus a “sambar” no meio das ruas como se estivéssemos num qualquer carnaval brasileiro do que a aprender donde viemos e o que somos, mas valerá sempre a pena substituir a “batucada” pelo cortejo etnográfico que agora acontece nas festas do concelho de Paredes. Vale a pena insistir, mesmo que seja necessário alterar o dia da sua realização.