José Baptista PereiraAfinal a Europa não vai aplicar sanções a Portugal. Estou certo que a maioria dos portugueses ficou agradado com esta decisão. Mais uma boa notícia a contribuir para a subida do astral português. Mesmo aqueles que achavam impossível que tal acontecesse têm que se render à evidência dos factos. Agora modificam o discurso. Há comentadores que viraram o seu discurso do avesso. Agarram-se a pormenores para negar o que disseram antes com pompa e circunstância. Pedro Passos Coelho e companhia evitam aparecer fora do seu círculo restrito. A azia deve ser grande e nem aos convites do presidente Marcelo respondem. Contrariamente ao que diziam, afinal a solidariedade europeia funcionou. Os socialistas europeus ajudaram mas o que funcionou realmente foi a resiliência de um governo de Portugal que não modificou o seu discurso desde a primeira hora. Não aceitamos sanções, nem agora nem em Setembro. Não há razão para penalizar quem dá sinais de recuperação apesar do mau serviço prestado pelos conselheiros do FMI e do BCE. Os próprios admitem agora que houve erros na sua orientação. Mas admitem agora porque deixamos de ser subservientes. Respondemos à ameaça de sanções e de cortes nos fundos europeus com a ameaça de denúncia da má prática dos gestores europeus e de defesa nos tribunais pela desigualdade de tratamento. Sempre ouvi dizer que a melhor defesa é o ataque. Parece que resultou. Estamos a conseguir o que parecia impossível. Mas apenas porque não dobramos. Recordo o drama das quotas da apanha da sardinha. Em 2015 a então ministra da agricultura e pescas anunciava aos armadores e pescadores que tudo tinha feito mas que era impossível aumentar as quotas de pesca da sardinha. Em 2016, com este governo, as quotas aumentaram. Este é mais um exemplo da diferença de atitude. Não podemos aceitar que nos imponham limites ao desenvolvimento sem contrapartidas. O que preside à existência de uma União Europeia é precisamente a possibilidade de dar força aos mais fracos porque deles também precisa.

Mas a União Europeia também está a mudar. Já se percebeu que o seu calcanhar de Aquiles é a grande dependência do sistema financeiro. A alta finança, poderosa e anónima, manobra e manipula. Os grandes lobbies internacionais, económicos e financeiros, manobram e manipulam. São os políticos quem se expõe e quem assume o ónus da culpa quando o sistema falha. Mas há prémios de consolação. A entrada de Durão Barroso na Goldman Sachs cheira a premio de consolação.

Entre nós não é menos verdade. Em Portugal também temos lobbies económicos e financeiros que procuram manipular as decisões do poder. E temos a Maçonaria e outras sociedades mais ou menos secretas que ao serviço daqueles e de outros interesses, mais ou menos complexos, se enredam numa teia de influências sem cor nem identidade. Estas redes envolvem todos os setores. Nos últimos tempos, a sociedade portuguesa tem sido abalada pela denúncia pública de algumas destas redes de poder. Não tenhamos dúvidas. Zangam-se as comadres sabem-se as verdades. Até que ponto é que esta guerra de interesses e de posicionamento no poder tem contribuído para o conhecimento de tantos escândalos económicos e políticos? Não devemos recear ou criticar os políticos, que só o são porque se disponibilizam para o ser, mesmo arriscando a sua atividade profissional e a sua privacidade. “Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância” (Wikipédia). Se não houver quem se disponibilize, quem dê a cara pela causa pública, como se gere e administra o que é de todos nós? Seria o caos e a anarquia. Devemos recear e afastar aqueles que através da política e dos cargos que ocupam, mais ou menos políticos, servem outros interesses de poder em que se encontram filiados ou a que se encontram vinculados e devem obediência. Podem ser empresários, banqueiros, juristas, magistrados, ministros, presidentes de Câmara ou vereadores. Estão por todo o lado e a esses devemos recear. Eles posicionam-se já para as próximas eleições autárquicas. Se não forem os candidatos serão os seus pupilos. Estejamos atentos.

Nas próximas eleições interessa-nos escolher quem se disponibilize, livre de compromissos destas forças secretas de poder, quem tenha competência e formação para gerir e valorizar a terra, o concelho ou a freguesia a que se candidata. Devemos preferir quem demonstre ter capacidade para dar oportunidade a todos por igual, sem diferenciar o credo ou a ideologia, porque todos somos poucos e porque a união faz a força.