Peritos em cibersegurança alertaram os mais novos em Ermesinde sobre comportamentos de risco

Utilizar palavras-passe difíceis e diferentes para cada plataforma assim como ter em atenção e-mails que possa suscitar dúvidas são algumas medidas de prevenção

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Nesta sexta-feira, celebra-se o Dia Mundial da Internet e, nem de propósito, o Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde ficou repleto de alunos de informática para ouvirem dois peritos em cibersegurança.

“As novas gerações, como estão em contacto com a tecnologia desde muito cedo, acabam por cometer erros, em termos de segurança, mais cedo e têm acesso a muito mais informação. O facto de interagirem uns com os outros através do Whatsapp e outras aplicações, faz com que fiquem com muito mais conhecimentos em termos de tecnologia”, defende André Baptista, considerado “o hacker mais valioso do mundo”, acrescentando que os mais jovens “estão muito mais conscientes para os problemas que existem”.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Miguel Costa e Miguel Dias são dois dos alunos do 12º ano da área de informática presentes na sessão e que são exemplo de como as novas gerações e as novas tecnologias andam de mãos dadas, mas que nem sempre sabem como combater os riscos. Ambos utilizam a internet diariamente e partilharam com o Verdadeiro Olhar que já tinham conhecimento de alguns dos comportamentos a evitar, como a “utilização de passwords que não são difíceis” e até mesmo “o facto de expor muito a vida pessoal nas redes sociais”. “Este fenómeno de partilharmos o que é a nossa vida ganhou um volume muito grande e também é perigoso. Qualquer pessoa que nos siga no Instagram sabe onde andamos e o que estamos a fazer e isso não é seguro”, conclui Miguel Costa.

“Pretendemos captar a atenção deles, dizer-lhes o que podem ser num futuro próximo e que o desempenho deles depende deles e de mais ninguém. Queremos que cresçam como pessoas, como profissionais e que, quando saírem daqui, levem qualquer coisa de bom naquela cabeça e naquele coração”, sublinha Trindade Vale, presidente da Associação para o Desenvolvimento Integrado da Cidade de Ermesinde (ADICE), promotora do evento.

Ter cuidado com os programas e aplicações que se instalam é uma das medidas preventivas de um possível ataque informático

Além da questão de utilizar passwords complexas e diferentes para cada plataforma, André Baptista destaca a “importância da utilização de software no qual se confie” e alerta para “não acreditar em e-mails, que possam ser muito bem construídos, inclusive a dizer que têm a password, porque é tudo automático”.

Por outro lado, chama também a atenção para “ter os computadores sempre actualizados, o que, às vezes, é um bocadinho chato no caso do Windows, mas é importante para prevenir certos ataques”. “Ter em atenção se o telemóvel está actualizado, se o fabricante lança actualizações com regularidade e ter cuidado com o que se instala também é um factor muito importante. Se forem um bocadinho mais paranóicos podem tapar as câmaras também”, remata.

“As empresas estão a ficar com medo do que possa acontecer”

A empresa portuense Adyta, que oferece soluções de cibersegurança especializadas, descobriu uma falha/bug de segurança que permitia a terceiros modificar as aplicações descarregadas através da Galaxy App Store, injectando código malicioso que, entre outras coisas, poderia dar acesso aos dados do telefone. Recebeu um prémio por essa descoberta e colabora, actualmente, com o Gabinete Nacional de Segurança, Comissão Nacional de Protecção de Dados e Procuradoria Geral da República e faz também análise a alguns órgãos de Governo.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

No mundo empresarial, Carlos Carvalho, da Adyta, acredita que “existe a preocupação com a cibersegurança porque têm percebido o valor que têm associado ao que está conectado à internet”. Por outro lado, refere que “o maior comportamento de risco que uma empresa tem e há muitas que ainda têm é ignorar que a cibersegurança é um tema fundamental para a sua gestão. Os riscos existem e se não existirem políticas de cibersegurança internas não se vão precaver esses riscos”.

Carlos Carvalho defende ainda que é preciso uma evolução em termos da “educação e cultura dos funcionários sobre o bom uso e a ciberhigiene, que é um conceito que hoje em dia se deve falar”.

Para André não restam dúvidas de que as empresas “estão a ficar com medo do que possa acontecer porque é uma ameaça cada vez mais real. Se os sistemas deles forem comprometidos, os negócios podem morrer, simplesmente”.

Há empresas que pagam a quem consiga descobrir falhas

Durante a manhã desta sexta-feira, os cerca de 120 alunos de informática da ADICE e da Escola Profissional de Valongo aprenderam também a fazer o crack de um jogo, apenas para a utilização própria. A presidente da ADICE lançou o desafio aos estudantes presentes para que, se fizessem algo semelhante, a associação atribuía um prémio. “Quero ver quem é o habilidoso aqui para ter orgulho em dizer que tenho um formando que é capaz”, sublinhou Trindade Vale.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

André Baptista tem 24 anos e começou desde muito novo a ter curiosidade em descobrir mais sobre a programação e a internet. Mostrou, durante a sessão, algumas partidas que fazia aos colegas na escola, mas “apenas a brincar”. Mais tarde, seguiu Engenharia Informática na faculdade e começou a participar em concursos para hackers, até mesmo nos EUA, em que tinha de descobrir vulnerabilidades em sistemas de empresas e, por cada uma pagavam um montante em dólares. O jovem referiu até existirem empresas na internet que pagam por esse serviço, efectuado pelos chamados “whiteheads” – hackers que entram nos sistemas com a autorização de quem quer corrigir, “com o intuito de defender as pessoas, de descobrir as vulnerabilidades”.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Acabou por ser distinguido em Março do ano passado como “o hacker mais valioso do mundo” após vencer uma competição que testa conhecimentos de cibersegurança nos EUA. “Foi muito fixe trazer para cá o título, mas não sou o mais valioso do mundo. Conheço gente melhor do que eu”, explica, destacando a colaboração em equipa que diz existir neste mundo.

Já trabalhou para grandes empresas como o Facebook, Instagram e a Dropbox e conta que, apesar de ser uma “sensação brutal”, fica “muito ansioso e acaba por ser assustador”, porque, com o poder com que fica, “podia destruir empresas”. “A recompensa é enorme, chegar aqui é muito complicado. Mas é algo que equiparo um bocadinho a um jogador de futebol, porque é muito desgastante e não me vejo a fazer isto até aos 40, por exemplo. Queimamos mesmo muito os neurónios e ficamos muitas horas sem dormir”, revela.