Centenas de pessoas, muitas descalças para cumprir promessas, participaram, na sexta-feira, na Procissão do Enterro do Senhor, entre a Capela de S. Sebastião, em Entre-os-Rios, Penafiel, e a Igreja Paroquial de Santa Clara do Torrão, no Marco de Canaveses.

A cerimónia religiosa insere-se na celebração das Endoenças que, na quinta-feira à noite, contou com uma procissão, no sentido inverso, iluminada por 50 mil tigelinhas colocadas nas margens dos rios Douro e Tâmega.

Quem cumpre promessas normalmente participa nas duas procissões. Foi o caso de Maria de Lurdes. “Ontem já vim do Torrão para cá. Participo nestas cerimónias desde pequena”, conta. Desta vez seguia descalça. “Fiz uma promessa por causa do meu irmão. Ele teve um acidente e ficou muito mal e eu prometi a Nossa Senhora das Dores que vinha”, justifica a mulher de 48 anos.

Também Luzia Vieira, do Torrão, participa nestas procissões das Endoenças desde que se lembra. “Os meus pais já vínhamos e fomos habituados assim. É uma tradição e junta muita gente”, garante. “Isto na nossa terra é uma semana vivida com muita fé com ou sem promessas”, acrescenta, referindo que o cumprimento de promessas de pés descalços é um hábito.

“Já vim descalça três anos. Este ano prometi que vinha por uma sobrinha que não fala”, diz Fátima Mendes, de Castelo de Paiva, que todos os anos vem à procissão. Este ano tanto ela como o marido e o enteado João Paulo, de 19 anos, vieram descalços. Ela por promessa, eles para a apoiar. “É um percurso difícil e com muito sacrifício”, não esconde, garantindo que ainda existe muita fé em torno destas cerimónias que antecipam a Páscoa.