Os alunos gostam, os pais organizam e os professores sentem-se acarinhados. Mais uma vez, a tradição, secular e única no país, que integra as festividades do Corpo de Deus, cumpriu-se e encheu as ruas da cidade de Penafiel com milhares de alunos que participaram no Cortejo do Carneirinho. A iniciativa tem como meta reconhecer e homenagear o trabalho desenvolvido por professores e educadores ao longo do ano lectivo. A oferenda é um carneiro, às vezes vivo e, noutros casos, simbólico.

Durante o desfile, as crianças entoam vivas aos professores, carregam cartazes com quadras e frases de agradecimento, cantam e fazem danças de homenagem. Ajudam ainda a puxar, com fitas, os carros onde vão os carneirinhos.

“Todos os anos trazemos o carneiro vivo porque essa é a verdadeira tradição e devemos mantê-la”

Aos pais de cada turma do pré-escolar e primeiro ciclo das escolas do concelho cabe organizar a iniciativa. Ana Meireles e Sílvia Couto fazem-no há três anos na EB de Igreja, em Guilhufe. “É uma tradição antiga, os miúdos gostam e os professores alinham connosco. É um agradecimento que fazemos aos professores no final do ano, mas é difícil de organizar”, reconhecem as mães. Este ano, à rua, saíram até caretos. “A professora Rosa Luís é de Bragança e resolvemos fazer uma homenagem mais personalizada”, explicam. Para as crianças não há dúvidas sobre o significado da festa, dizem estas mães. “Eles gostam e percebem o significado. Já desde o infantário que vêm a esta festa que representa o culminar de uma etapa”, referem.

Fábia Nunes, mãe de uma aluna do Centro Escolar de Penafiel, ainda se lembra dos tempos em que era ela a aluna a percorrer as ruas. “Ainda me lembro quando éramos a nós a vir no Cortejo do Carneirinho. Era uma das poucas saídas da escola. Adorávamos”, conta. Hoje, a iniciativa é mais difícil de organizar “porque os pais estão cada vez mais ocupados e é difícil conciliar horários”, admite. Mas consegue-se. “Todos os anos trazemos o carneiro vivo porque essa é a verdadeira tradição e devemos mantê-la. Há escolas a mudar a tradição e é pena. Além do carneiro, oferecemos um cabaz de produtos para confecionar o animal”, adianta a mãe. Ao lado, a filha, Leonor Borges, de oito anos, apresenta a sua versão. “Gosto do Cortejo do Carneirinho, que é para agradecer à nossa professora. É uma homenagem justa. Os professores fazem um trabalho importante”, diz.

“Falta mais reconhecimento aos professores em Portugal, que além de educadores são psicólogos e amigos”

“Estou em Penafiel há 29 anos e quando cheguei cá achei fantástica esta tradição que é única no país. É uma forma de homenagem aos professores e educadores pelo trabalho feito ao longo do ano e toda a gente participa de coração”, sustenta Maria Lurdes Barros, professora e directora do Jardim Escola João de Deus, onde o carneiro vem sempre vivo.

Também António Freire, de Bragança, se deparou com esta tradição há 10 anos, quando começou a leccionar no concelho. Hoje, teve direito a uma dança guerreira dos seus alunos do Centro Escolar de Penafiel. “Tenho esta turma de 27 alunos desde o primeiro ano e gerou-se um laço de carinho enorme. Gostei muito desta homenagem. Sensibilizou-me muito. Os pais são extraordinários”, salienta. “Quando vim para cá fiquei surpreendido com esta homenagem única. Falta mais reconhecimento aos professores em Portugal, que além de educadores são psicólogos e amigos. Isto dá motivação para continuar”, admite o docente.

Para a Câmara Municipal é um orgulho ver que esta tradição é mantida. “É uma festa que enche a nossa cidade de cor, alegria, movimento, mas sobretudo de afectos porque é o reconhecimento dos mais pequenos e dos papeis pelo papel tão importante que o professor e educador têm na vida dos filhos”, sustenta Susana Oliveira. “Estas crianças são os adultos de amanhã e vão defender esta tradição no futuro”, acredita a vice-presidente da autarquia.