Na gíria popular é costume dizer-se que “filho de peixe sabe nadar”. Diogo Barbosa é uma jovem promessa do ciclismo português que quer provar que “filho de ciclista sabe pedalar”. Mas também não esconde que ser filho de quem é – o campeão Cândido Barbosa, que alcançou mais de 120 vitórias, 25 delas em etapas da Volta a Portugal – lhe traz mais pressão e responsabilidade.

Diogo Barbosa tem 17 anos, é júnior de 2.º ano e compete pela equipa Vito-Feirense-BlackJack. Os pódios em equipa e individuais da última época valeram-lhe uma chamada à Selecção Nacional e agora anseia representar o país em provas internacionais.

O mundo do ciclismo sempre fez parte da sua vida mas o sonho de ser ciclista profissional é vivido com os pés assentes na terra. Continua a estudar e, se a sua incursão pela competição velocipédica não correr bem, tem como plano B um curso na área do desporto.

Mas o primeiro sonho, não esconde, é “correr lá fora” e conhecer o mundo.

Começou a competir aos 11 anos, como o pai…

Foto: DR

A bicicleta e o pai ciclista fazem parte das memórias mais antigas do jovem paredense. Foi logo por volta dos três a quatro anos que aprendeu a dar as primeiras pedaladas, ensinado pelo pai. “Lembro-me de o ver sair para treinar e de me doer a barriga quando assistia ao momento das decisões finais das provas”, recorda Diogo Barbosa. Só mais tarde haveria de perceber que também queria ser ciclista profissional.

Acabou por iniciar-se no ciclismo de competição aos 11 anos. “Como o meu pai”, salienta. A sua vontade era começar mais cedo, mas o pai foi adiando a sua entrada nesse mundo. “Por conhecer a modalidade, os seus pontos negros e o esforço e sacrifício que exige e por saber que cada vez é mais perigoso andar na estrada”, explica Cândido Barbosa. “Ele demonstrava vontade, mas sempre lhe disse que tinha tempo, para ir vendo se ele pensava noutra coisa. Até que ele me disse ‘já não me podes dizer que não porque também começaste com 11 anos’”, conta o ex-ciclista, conhecido por “Foguete de Rebordosa”.

Diogo Barbosa começou então a competir nas escolas da ADRAP – Associação Desportiva Recreativa Ases de Penafiel e, no ano seguinte, passou para a equipa de ciclismo de São João de Ver, agora profissional, onde ainda se mantém e pela qual vai competir esta época, que começa já em Março.

O pai foi acompanhando de perto o percurso. “Fui-lhe ensinando as boas regras e a técnica das bicicletas”, refere.

Cândido Barbosa não esconde que gosta de ver o filho seguir-lhe as pisadas, mas salienta que nem todos têm que seguir o percurso dos pais. “Não quero incutir-lhe a responsabilidade de ‘ser filho de’, não acho que isso seja benéfico nesta fase em que está a entrar numa competição mais séria. Ainda pode usar o próximo ano para ver se é mesmo isto que quer”, afirma o outrora conhecido como “ciclista do povo”.

“Fico satisfeito e vou dando apoio, mas sem exageros. Vejo muitos potenciais atletas que se perdem porque os pais têm mais vontade que os filhos e porque colocam pressão e exigem resultados em fases desajustadas”, defende o ex-ciclista.

“A minha primeira vontade foi que não entrasse na vida do ciclismo, mas agora que demonstrou vontade e potencial para ser um atleta de referência compete-nos acompanhar o sonho dele e dar-lhe apoio”, acrescenta o também ex-vereador da Câmara Municipal de Paredes.

Foto: DR

Diogo Barbosa diz que sente o apoio do pai – e também da mãe, Lurdes Garcês – mas não esconde que “o facto de ser filho do Cândido Barbosa traz uma pressão acrescida”. “As pessoas têm mais expectativas em relação a mim”, admite o jovem, “mas isso também me motiva”. “Para podermos ser alguém temos que acreditar em nós próprios”, acrescenta.

Por isso, promete continuar a acreditar e a trabalhar para atingir os objectivos. “Não vai ser fácil. É um mundo competitivo”, reconhece o atleta.

Por outro lado, defende que não vai ser um ciclista igual ao pai. “Vamos ser ciclistas diferentes. Ele era um sprinter e eu serei mais um ciclista completo e de montanha. Mas se conseguir fazer o que o meu pai fez já era bastante bom”, argumenta.

Pai e filho defendem a importância de manter o equilíbrio entre os estudos e a vida de atleta

A Cândido Barbosa cabe agora o papel de manter o filho com os pés bem assentes na terra e fazê-lo perceber que deve evoluir ao seu próprio ritmo e não querer tudo depressa demais. O pai continua a “amparar” as suas aprendizagens, como quando era criança e o ensinava a dar as primeiras pedaladas.

Às vezes treinam juntos. Desde que deixou o cargo de vereador, em Outubro, ficou-lhe mais tempo para isso, confessa. Ao mesmo tempo, a preocupação é mantê-lo focado nos estudos.

“Não há a ideia do vou ser só ciclista. É preciso haver equilíbrio, se não amanhã a desilusão pode ser muito maior”, acredita Cândido Barbosa que, hoje, dá conselhos ao filho com base na sua experiência de ciclista profissional, mas também ideias que ouviu do próprio pai e que vê agora que estavam certas.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Diogo Barbosa tem procurado manter esse equilíbrio entre a escola e o sonho do ciclismo. “Sou um aluno razoável. Frequento o curso técnico profissional de Gestão de Equipamentos Informáticos na Escola Secundária de Paredes e estou actualmente a estagiar”, explica.

Depois de terminar o ensino secundário, o jovem quer “parar um ano” e dedicar-se só ao ciclismo. “Para perceber se corre bem”, sustenta. “Se correr mal vou fazer faculdade, um curso ligado ao Desporto”, adianta.

Para já, o tempo é dividido sobretudo entre a escola e os treinos. O plano mensal elaborado pelo seu treinador pessoal, João Cabreira, envolve treinos de uma a duas horas diárias, durante a semana, e de até cinco horas ao fim-de-semana. Só descansa à sexta-feira.

“Dá-me tempo para tudo. Às vezes chego mais cansado a casa, mas foi o que eu escolhi”, afirma.

“O meu objectivo era representar Portugal no Campeonato do Mundo”

Na última época, os vários pódios individuais e em equipa alcançados chamaram a atenção do seleccionador nacional e foi convocado, com 11 outros ciclistas da sua categoria, para estagiar.

Agora, pode ser chamado a servir a Selecção Nacional de Ciclismo Júnior nos campeonatos do mundo e Europa, assim como noutras provas internacionais. “O meu objectivo era representar Portugal no Campeonato do Mundo”, assume o jovem.

Com o treinador Filipe Amorim, que é “super amigo e o incentiva” a ser melhor, e a equipa Vito-Feirense-BlackJack

No nosso país, o sonho passa por vencer as provas mais importantes do ciclismo nacional como a Volta a Portugal, o campeonato e a Volta ao Minho, e ajudar a equipa a conquistar títulos colectivos.

Além do pai, tem Alberto Contador e Mark Cavendish como ídolos do mundo velocipédico.

Cá em Portugal, argumenta, o ciclismo “já esteve pior”. “Agora está a crescer novamente, até pela entrada das equipas apoiadas pelo FC Porto e Sporting CP, mas o meu sonho era correr lá fora”, diz. “Preferia ser um trabalhador lá fora do que um chefe de fila cá. Há mais condições, melhores salários e podia conhecer o mundo”, acredita Diogo Barbosa.

O jovem atleta lamenta que não haja mais investimento no ciclismo em Portugal. “Acredito que é uma modalidade que as pessoas adoram. Gostava de ver o ciclismo encher ruas como antigamente”, salienta.

Sobre o futuro, diz que tudo se resume a continuar a trabalhar. “Acho que tenho potencial, agora resta-me trabalhar e seguir as indicações do meu pai”, conclui.