A história já lhe preenchia o imaginário, mas foi numa viagem à Índia, em 2015, que Beatriz Meireles sentiu o clique que faltava para colocar no papel o livro que trazia na cabeça. Nesse mesmo ano, numa outra viagem, desta vez a Montenegro, decidiu o título, “Depois da Morte”, quando percorria uma estrada sinuosa. Acabaria por lhe acrescentar o “amendoal em flor” para dar a ideia de renovação e de esperança na mudança que o livro traz.

A novela da advogada e actual vereadora da Câmara Municipal, que retrata duas gerações de uma família de Paredes, é apresentada, este sábado, pelas 21h30, na Escola Secundária de Paredes. O local, assume, não foi escolhido ao acaso. “É pelo simbolismo. Foi lá que estudei e me construí como pessoa e lá existe um amendoal plantado”, diz.

Acreditando que todos “podemos ser muitas coisas a vida toda”, Beatriz Meireles promete continuar a dedicar-se à escrita, como hobbie, e talvez, no futuro, fazer alguma coisa ligada à História da Arte.

Crónicas em jornal deixaram “bichinho” pela escrita

Beatriz Meireles tem 33 anos e é paredense. Já viveu em Penafiel, no Porto e até em Lisboa (este último o sítio onde gostou menos de morar) e assume-se como “uma mulher do Norte”.

É licenciada e mestre em Direito, por influência do pai, também advogado, não esconde. “Nunca pensei em seguir mais nada”, confessa. Exerceu advocacia durante alguns anos. A partir de certa altura pôs em causa o jornalismo. Ainda fez um curso profissional de Jornalismo de Televisão, no CENJOR, em Lisboa, e frequentou uma pós-graduação em Coimbra.

Escreveu, entretanto, não notícias, mas crónicas num jornal local e isso despertou-lhe ainda mais o “bichinho” pela escrita. “Sempre gostei muito de escrever”, sustenta.

Até que, em 2015, numa viagem à Índia, diz que teve o “clique” para escrever este livro, numa cidade chamada Fattehpur Sikri. O título do livro surge-lhe nesse mesmo ano, numa viagem a Montenegro, quando estava a andar de carro numa montanha altamente sinuosa. “Ao virar a curva pensei ‘o livro pode-se chamar depois da morte’”, conta a advogada. Já o amendoal “vem dar a ideia de paz e renovação, de que depois de algo mau podemos dar a volta, que o ser humano pode aprender a ser melhor”, temáticas que aborda no livro.

A história, recorda, já estava há algum tempo na sua cabeça, mas o tempo para a pôr no papel não era muito. “Não parei para escrever isto. Estava na advocacia, depois tive um filho, depois veio a campanha política e agora o meu trabalho é muito absorvente. Também a história que ando a escrever agora já a tinha na cabeça quando terminei esta”, explica, adiantando que está a escrever mais um livro.

Não quer “confundir papéis” e não se assume como escritora

“Depois da morte (um amendoal em flor)” conta a história de um comerciante, o senhor Gomes, que tem uma mercearia e quatro filhos com as vidas autónomas, cada um com a sua profissão. Um é médico, outro é advogado, outro é engenheiro e o outro acompanha o negócio do pai na mercearia. “Esse filho é o eco do pai e vive num problema existencial de ser tão bom como o pai na mercearia. Já o branco da capa representa o senhor Gomes, a figura central do livro, com os seus quatro filhos. No livro há uma única figura feminina que é a Maria Helena, casada com um dos filhos, altamente influenciável. É fruto da educação que teve”, acrescenta a autora. A pequena novela é editada pela Idioteque e já está nas livrarias nacionais.

Beatriz Meireles não se intitula escritora e garante que não quer “confundir papéis”. “Não me considero escritora, mas uma advogada e uma vereadora com gosto pela escrita”, diz.

A política, assim como o Direito, entrou na sua vida por influência familiar. “Tive um bisavô presidente de câmara, o meu avô pertenceu à junta, o meu pai foi vereador da oposição. Há assim uma componente genética qualquer que nos leva para a política”, brinca.

Quando foi convidada a integrar as listas do actual presidente da Câmara resolveu aceitar o desafio. Foi primeiro vereadora da oposição, durante quatro anos, e agora assume os pelouros da Cultura, Acção Social e Turismo.

“Gosto do que estou a fazer com os pelouros que me foram atribuídos e gosto de política, não gosto da intriguice política”, confessa. No futuro quer continuar a escrever, como hobbie, e fazer algo relacionado com História da Arte, uma área que também gosta.

Conciliar tudo é possível “com muito suporte familiar”. “Evito ver televisão e dedico à leitura e à escrita. E também reduzo o tempo das tarefas domésticas. Posso ser uma boa mãe, mas não sou uma boa dona de casa”, diz com um sorriso.