O objectivo do primeiro EntreLinhas – Festa do Ferroviário, uma nova iniciativa cultural lançada pela Câmara Municipal de Valongo, é homenagear e perpetuar a ligação do território e da comunidade à história da ferrovia e dos ferroviários. Mas vai além disso, salientou o presidente da autarquia na abertura do evento, no Fórum Cultural de Ermesinde.

“É uma oportunidade, de todos os anos, termos em Ermesinde o mundo da ferrovia, a pensar o passado, o presente e o futuro”, concordou. Mas é também um reconhecimento da importância do comboio. “É impossível acabar com o comboio. É um meio de transporte de massas que está condenado a ter sucesso, porque as cidades não suportam tantos carros. É um meio amigo do ambiente, importante para as pessoas. É um instrumento de coesão e de competitividade dos territórios. O único porto seco está em Valongo”, deu como exemplo.

José Manuel Ribeiro tinha, antes, frisado que com esta homenagem aos ferroviários se pretende “dar voz àqueles que normalmente nunca têm voz na história”. Pelo que a meta é manter este evento nos próximos anos, até porque esta ligação de Valongo, e em particular de Ermesinde, à ferrovia, também faz parte da construção da identidade do concelho em que têm vindo a trabalhar nos últimos anos.

Desta vez já há iniciativas, como exposições e espectáculos, dos dois lados da linha. O objectivo é crescer nas próximas edições. “Esperamos ter mais gente a contar histórias e fazer uma grande exposição nacional e internacional sobre o comboio, quero ter cá ferroviários de outros pontos do país”, afirmou o autarca, que pretende ainda que seja criado um conselho consultivo composto de ferroviários para acompanhar a iniciativa e garantir que não desaparece.

“Não há mais nenhum evento que junte a família ferroviária e que permita esta partilha”, sustentou.

“Cada comboio pode tirar 1500 carros da estrada”

José Carlos Barbosa, deputado à Assembleia da República e quadro sénior da CP que é comissário do evento, falou da paixão de muitos pela ferrovia e da luta que foi conseguir pôr em marcha um plano de recuperação para a CP.

“Escolhemos os melhores para vir cá falar, pessoas que têm ideias estruturais para a ferrovia”, explicou, dizendo esperar que saiam desta conferência, como aconteceu numa outra em 2018, ideias a desenvolver. Na última, isso passou pela criação da linha do Vale do Sousa, a criação do comboio português e um ‘Plano Marshall’ de recuperação da CP, tudo objectivos já em curso.

Este evento, realçou, quer ser mais um “momento de discussão da ferrovia”. José Carlos Barbosa defendeu, por exemplo, que Portugal tem capacidade produtiva para fabricar peças e que já tem também um centro tecnológico para formar pessoas. “Queremos cada vez mais produzir cá e gerar empregos de qualidade”, disse o comissário.

Destacou ainda a importância do último painel do EntreLinhas, ao final da tarde, sobre novas ligações ferroviárias, em que será abordado o plano ferroviário nacional e as linhas do Vale do Sousa, Trás-os-Montes e Leixões.

“Cada comboio pode tirar 1500 carros da estrada”, deu como exemplo, argumentando que a CP não tem autonomia e que é preciso ter comprar mais comboios para aumentar a frequência e o número de passageiros.

“É este amor à ferrovia que nos deve guiar e teremos de influenciar o poder político para a necessidade de investir mais no comboio. É isso que vou fazer no Parlamento e que os autarcas também farão: apelar à necessidade de investir mais na ferrovia. Se queremos melhorar a nossa balança comercial temos de diminuir os litros de petróleo que compramos e a melhor forma de fazer isso é meter as pessoas a andar de comboio em modo eléctrico”, sentenciou o quadro sénior da CP.

“Não é preciso trabalhar na ferrovia para ser ferroviário, basta ter paixão pelos comboios”, disse ainda aos presentes.

O EntreLinhas termina domingo. Conta com animação itinerante e dinâmicas culturais variadas com espectáculos, gastronomia, exposições e tertúlias. Os grandes concertos ficarão a cargo de HMB, Gisela João e NOBLE. Acontece no Parque Urbano e Fórum Cultural, Largo da Estação e Gandra.