O penafidelense Bruno Silva, médico interno de Gastroenterologia no Complexo Hospitalar Universitário de Palência, em Espanha, participou, em Novembro, no XXXVII Congreso Nacional Espanhol de Endoscopias e viu um dos seus trabalhos de investigação distinguidos. A sua comunicação em formato poster foi premiada como a melhor do congresso entre mais de 200 trabalhos de toda a Espanha. Em Junho último, o médico de 34 anos já tinha conquistado um outro prémio no concurso de casos clínicos da Ordem de Médicos de Palência.

Trocou a Gestão de Empresas pela Medicina

Nasceu em Vila Boa de Quires, Marco de Canaveses, mas define-se como penafidelense, já que viveu em Croca a partir dos nove anos de idade até ir para a universidade.

A Medicina não surgiu como primeira escolha. “Quando acabei o 12.º ano, entrei no curso de Gestão de Empresas, na Faculdade Economia da Universidade de Coimbra. Mas não gostava do curso e decidi mudar para não viver frustrado o resto da vida”, conta Bruno Silva.

Por volta dos 21 anos, uma doença obrigou-o a consultas durante mais de dois anos. Foi nessa altura que a ideia de ser médico foi ganhando forma. “Apercebi-me do quão grato é ter uma profissão em que podes curar ou, pelo menos, melhorar a qualidade de vida de uma pessoa”, explica.

Havia no entanto um grande impedimento: não tinha tido nem Biologia nem Química durante o ensino secundário. Não desistiu. Procurou alternativas e encontrou-a uma na República Dominicana onde os alunos, antes de ingressarem na faculdade de Medicina têm disciplinas como Biologia, Química ou Genética. Candidatou-se e ingressou na Universidad Iberoamericana (UNIBE). Acabou por escolher a especialidade de Gastroenterologia, por gostar “mais de especialidades clínicas que cirúrgicas” e por “tratar-se de uma especialidade bastante completa já que combina a parte clínica (internamento e consultas externas) com técnicas (endoscopia básica e avançada) e ecografia abdominal”.

Está há dois anos e meio em Espanha, onde conseguiu homologar, mais facilmente, o seu título universitário. “Em menos de dois meses consegui a homologação, enquanto em Portugal demorava entre um ano e meio a dois anos”, justifica. Está no Complexo Hospitalar Universitário de Palência, que fica a “apenas” três horas e meia de casa”.

Prémios dão motivação extra

PNF_medico premiado_no congressoBruno Silva viu agora o seu trabalho de investigação reconhecido no Congresso Nacional de Endoscopias, evento anual para médicos de Gastroenterologia, que pretende actualizar os médicos sobre os avanços de técnicas e tratamentos e divulgar trabalhos de investigação dos hospitais nacionais. O último aconteceu este mês de Novembro, em Saragoça, sendo que a investigação do penafidelense sobre as vias biliares e uma técnica endoscópica inovadora, sobretudo para pacientes com mais de 80 anos de idade, para evitar a cirurgia (considerada de alto risco nessas idades) foi distinguida como o melhor poster, entre mais de 200 a concurso.

O médico confessa que vencer foi uma surpresa. “Sabíamos que o estudo era prometedor, inovador e de qualidade, com poucos casos publicados, mas estávamos a competir com toda a Espanha, onde existem hospitais de dimensões superiores e com muito mais historial de investigação que o meu. No entanto, aqui fica a prova que não é necessário trabalhar num hospital grande para realizar-se excelentes trabalhos”, afirma.

Em Junho, Bruno Silva já tinha também conquistado o primeiro prémio do concurso de casos clínicos realizado pela Ordem dos Médicos de Palência. Agora publicou um caso clínico no Jornal Português de Gastroenterologia e adianta que tem um estudo quase terminado para ser publicado numa revista científica espanhola, além de estar a realizar outro estudo na área do cancro colo-rectal. “Não falta motivação” para continuar a trabalhar, garante.

Para já diz-se feliz em Espanha, mas diz que não descarta a possibilidade de ir para outro país da União Europeia ou de regressar a Portugal, onde tem as suas raízes e toda a família. “Irei fazer dois estágios em Portugal, um em Lisboa e outro no Porto. Terei contacto com a realidade portuguesa e ajudar-me-ão a decidir”, conclui.