A Casa da Cultura de Paredes acolheu, ontem, a conferência que assinalou o bicentenário do nascimento de José Guilherme Pacheco, que ficou conhecido como “Rei de Paredes”.

Foi presidente da Câmara Municipal de Paredes durante sete anos e é lembrado pela visão e contributo que deu para o desenvolvimento do concelho em áreas como o telégrafo, a rede viária, a passagem do comboio e a construção de várias escolas.

Pela sessão passaram os historiadores Fernando de Sousa e José Pacheco Pereira, assim como o secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, Jorge Botelho, e o presidente da Câmara Municipal de Paredes, Alexandre Almeida.

“O Conselheiro José Guilherme, no seu tempo, foi exemplo de actuação estratégica e integrada com aposta na inovação”, afirmou Alexandre Almeida, traçando aquilo que se quer para o futuro do concelho. “Foi um homem do seu tempo, mas, se calhar, foi um homem com uma visão muito à frente do seu tempo”, reconheceu o secretário de Estado, que abordou o tema “Os Municípios e o Desenvolvimento”.

O poder local é “motor do desenvolvimento e do investimento”

Numa reflexão sobre o poder local, Jorge Botelho caracterizou José Guilherme Pacheco como “a expressão personificada de promotor do poder local e das suas potencialidades de atrair investimento e obra pública para melhoria de vida das populações, contribuindo significativamente na vida e no desenvolvimento de Paredes”, o que o leva a ser recordado como benfeitor.

O governante afirmou depois que “o poder local como o conhecemos hoje, democrático, com eleições livres resultado da vontade popular, é uma das conquistas mais importantes do nosso regime democrático” sendo “motor do desenvolvimento e do investimento”.

“As autarquias locais democraticamente eleitas, uma das concretizações mais notáveis e relevantes do nosso regime democrático, assumem um papel essencial e determinante na execução de medidas necessárias para o bem-estar das populações, uma vez que são os autarcas que estão mais próximos das populações e quem conhece melhor do que ninguém as especificidades do seu território, da sua comunidade, das suas preocupações e objectivos”, sustentou o secretário de Estado.

Se ao Estado cabe conceber e realizar políticas públicas para todo o território, com meios adequados, às autarquias locais é pedido que sejam “capazes de executar políticas e medidas, de forma robusta e capacitada (…), promovendo políticas que gerem investimento e coesão social, promovendo o emprego e a atractividade dos concelhos”, gerando desenvolvimento, atestou Jorge Botelho.

O Governo, frisou, tem procurado aprofundar o trabalho com as autarquias locais “porque acredita que, na lógica de subsidiariedade, há competências e assuntos que requerem uma gestão mais próxima dos cidadãos, pelo poder local”. Nesse sentido, lembrou, está a ser concretizado o processo de descentralização administrativa.

“Os desafios do poder autárquico passam também pelo reforço gradual das suas competências e pela criação de condições para que essa assunção de competências beneficie as populações”, defendeu o governante. Estão a ser transferidas para as autarquias um conjunto de competências que permitem prestar “um melhor, mais eficiente e mais próximo serviço público”. “Quem melhor do que os eleitos locais para gerirem as suas estruturas de atendimento ao cidadão, o seu estacionamento público ou para acompanhar mais próximo e atentamente os cidadãos mais carenciados”, questionou.

“Cumprir a descentralização é fundamental para que Portugal possa emergir no pós-pandemia como um território mais coeso”, garantiu, fazendo um balanço do trabalho feito nessa matéria.

“O papel do autarca, dos autarcas, nos dias de hoje é, promover em permanência, muitas vezes em parcerias, políticas de desenvolvimento, de atractividade dos territórios, de investimento, de execução de verbas (nacionais ou europeias) e de promoção de uma visão para o progresso dos seus territórios, a uma escala local, intermunicipal ou mesmo regional, geradoras de emprego e de respostas sociais e apoio à população”, concluiu o secretário de Estado.

Existem ainda “problemas à espera de solução na área do saneamento básico, da habitação e da rede viária no interior do concelho”

Já o presidente da Câmara Municipal de Paredes começou por destacar que a melhor forma de homenagear José Guilherme Pacheco é “lembrar o passado, trabalhar intensamente no presente e ousar projectar o futuro com ambição, humildade e coragem”.

Alexandre Almeida traçou o retrato do concelho que é um dos mais jovens do país e tem uma forte componente empresarial – com empresários empreendedores e boa mão-de-obra -, assumindo-se como “um dos centros nevrálgicos da Área Metropolitana do Porto” em termos económicos. Destacou ainda a localização geográfica “de excelência” do concelho e as suas belezas naturais que é preciso potenciar em termos turísticos, além de uma boa rede escolar e de associações de solidariedade social, cultura e desporto.

O autarca não deixou de dizer que “apesar do plano de investimentos em curso, e sem paralelo nos últimos anos em Paredes” existem ainda “problemas à espera de solução na área do saneamento básico, da habitação e da rede viária no interior do concelho”, pelo que há “ainda muito a fazer”.

Seguindo o exemplo de José Guilherme, o presidente da Câmara sustentou que a crise encerra oportunidades e que o concelho pretende aproveitá-las “ao máximo”, como é o caso das verbas que serão disponibilizadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência, mais conhecido como “bazuca europeia” e dos fundos comunitários. A meta é resolver os problemas já citados, apostando ainda nas tecnologias, na eficiência energética e na transformação digital.

“Estamos conscientes que só com emprego é que conseguimos fixar e atrair pessoas para Paredes. Assim, iremos apostar fortemente no alargamento das nossas zonas industriais e na melhoria das acessibilidades às mesmas”, adiantou o edil, referindo que pretendem ainda apostar no turismo, sobretudo no sul do concelho, onde, em conjunto com a Associação de Municípios do Parque das Serras do Porto, estão a nascer infra-estruturas, como uma rede de percursos pedestres. Mas o objectivo é também “explorar o turismo industrial”, nomeadamente com um Centro de Interpretação e Museu da Indústria do Mobiliário que está a ser projectado para o Mosteiro de Vilela.

Para apoiar os jovens, será feita “uma forte aposta em habitação social e na disponibilização de habitações com arrendamento a preços controlados” assim como será prosseguida “a política de investimento em infra-estruturas de desporto e parques de lazer por todo o concelho”, indicou Alexandre Almeida. Será mantida a aposta na educação e alargada a rede de creches em 2022. A autarquia, frisou, quer também “o desenvolvimento do ensino universitário em Paredes. “A CESPU e nós não desistimos da sua e nossa grande ambição de ter um Curso de Medicina em Paredes”, garantiu.

A par disso, juntamente com as IPSS, vai manter-se o apoio aos idosos e promoção do envelhecimento activo. “Ainda a pensar nos menos jovens, já estamos a projectar mais uma Unidade de Cuidados Continuados, que entendemos ser fundamental no nosso concelho”, afirmou.

“O Conselheiro José Guilherme Pacheco e a sua obra em Paredes inspiram-nos a querermos o melhor e o desenvolvimento mais sustentado para a nossa terra”, sustentou.