Ana Rafael, atleta do Clube de Basquetebol de Penafiel, é a única portuguesa que vai representar o Special Olympics Portugal nos Special Olympics World Games Abu Dhabi 2019, na modalidade desportiva de Ginástica Artística feminina.

A jovem de 18 anos, estudante na Escola EB 2,3 do Pinheiro, nas Termas de São Vicente, parte esta sexta-feira para se juntar aos mais de 7.500 atletas de 190 países que vão disputar provas em 24 modalidades desportivas, entre os dias 14 e 21 de Março.

No currículo, Ana Rafael tem já quatro medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze conquistadas nos Jogos Europeus de Antuérpia, em 2014, e nos Jogos Mundiais de Los Angeles, em 2015.

Foto: DR

Entre sorrisos não esconde que o objectivo é conseguir mais títulos. “Estou confiante que vou trazer pelo menos uma medalha”, afirma, não escondendo o “nervoso miudinho” de ir para um país diferente.

“Representar Portugal é uma coisa importante”

Ana Rafael vive com uma tia e os avós paternos em Penafiel. Começou a praticar ginástica artística em Dezembro de 2013. “Lá na escola andavam à procura de alunos que quisessem praticar e o meu professor achou que eu tinha jeito. Vim experimentar, gostei e fiquei”, conta a jovem. Foi evoluindo e arrecadando medalhas, de participação e de pódio.

Actualmente treina no departamento de Ginástica do Clube de Basquetebol de Penafiel, está inscrita na Federação de Ginástica de Portugal e nos Special Olympics de Portugal e compete. Ana é uma de um grupo de três ginastas “que praticam ginástica artística adaptada às suas características” e representa o clube nas provas distritais e nacionais em que participa, na categoria de seniores e nos encontros internacionais do Special Olympics.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Em 2014, participou nos Jogos Europeus de Antuérpia onde arrecadou uma medalha de ouro (na geral), duas de prata e uma de bronze, além de um 5.º lugar no Solo. Um ano mais tarde, seguiu junto com mais colegas para Los Angeles onde voltou a provar o seu valor nos Jogos Mundiais Special Olympics e conquistou cinco medalhas: três de ouro, uma de prata e uma de bronze.

Foram essas idas a provas internacionais que mais a marcaram. “Representar Portugal é uma coisa importante”, diz com orgulho a jovem. “É a terceira vez que vou lá fora e estou ansiosa, sobretudo porque é um país diferente”, explica Ana Rafael.

Quanto à competição tem um truque: “se pensar que estou num treino normal corre tudo bem. Só se pensar que estou numa prova é que fico nervosa”, diz a penafidelense que treina três vezes por semana num total de cerca de nove horas.

Futuro pode passar pela restauração

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Conciliar as aulas e os treinos nem sempre é fácil, mas garante ter o apoio da escola, da família e da treinadora.

Já ser a única atleta portuguesa a representar a ginástica artística é “uma grande responsabilidade”, assume a jovem que frequenta o 12.º ano de um currículo especial e está a fazer estágio de atendimento ao público num Supermercado das Termas de São Vicente.

Tendo raízes angolanas, a jovem escolheu uma música de quizomba para o solo que vai apresentar. “Quis homenagear as minhas origens”, refere.

No futuro, não sabe se continuará na ginástica artística. Gostava de trabalhar na restauração e juntar-se ao pai, que está emigrado em França, o que pode significar o abandono da modalidade.

“A Ana já vai executar exercícios do Nível III, que para as suas capacidades já são bastantes difíceis, mas tenho a certeza que representará bem Portugal”

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Em anos anteriores, Paula Oliveira treinou outros atletas que foram aos Special Oplympics, mas, este ano, como Portugal perdeu cota internacional, só pode levar uma atleta feminina de ginástica artística e outra de ginástica rítmica, explica. “Uma das formas de conseguirmos aumentar a cota portuguesa é termos mais crianças e jovens portadores de deficiência a praticar ginástica nos clubes e a filiarem-se no Special Olympics de Portugal”, avança.

Ana Rafael foi uma das escolhidas para integrar a comitiva portuguesa que conta com 28 atletas de nove modalidades.

“A Ana é uma boa ginasta no desporto adaptado do Special Olympics. E ser uma óptima ginasta envolve não só as capacidades atléticas, mas também a capacidade de gerir os seus aspectos emocionais/psicológicos, de forma a ter a atitude certa para dar o seu melhor, em especial na altura das competições”, salienta a treinadora. “Ao longo da sua carreira gímnica a Ana tem conseguido, com garra, gerir todas estas emoções de forma muito positiva atingindo a nível dos Special Olympics Internacional, uma performance que lhe permite nestes mundiais ir competir no Nível III dos IV possíveis”, acrescenta.

“A Ana já vai executar exercícios do Nível III, que para as suas capacidades já são bastantes difíceis, mas tenho a certeza que representará bem Portugal”, defende Paula Oliveira que, na secção de ginástica artística do CB Penafiel impõe a filosofia das provas Special Olympics: “Quero vencer, mas, se não conseguir, deixem-me enfrentar o desafio, corajosamente”.

A treinadora não esconde que “é com um grande orgulho e com um grande sentimento de satisfação que recebemos os méritos e as alegrias com que a Ana nos tem presenteado ao longo da sua carreira gímnica”. Esta ida a Abu Dhabi é “mais um grande motivo de orgulho”.

“No entanto, também estamos um pouco tristes por saber que no final deste Mundial, a Ana, pretende abandonar a sua carreira gímnica”, confessa.