A dirigente nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Fátima Monteiro, afirmou, esta manhã, no decorrer de uma conferência de imprensa, que a situação que se vive na urgência do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, nomeadamente no Hospital Padre Américo, é “caótica”.

A dirigente reconheceu que este ano, à semelhança de outros, o Ministério da Saúde/instituições não acautelaram a admissão de enfermeiros em tempo útil, e em consequência disso o serviço de urgência do CH Tâmega e Sousa confronta-se com a ausência de enfermeiros alocados a postos de trabalho.

“Não há espaço entre macas, os doentes não têm camas no internamento e estão internados no serviço de urgência”

Fátima Monteiro atalhou, também, que a urgência do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa além da falta de enfermeiros, debate-se com problemas físicos que impossibilitam que seja dada uma resposta em tempo real e adequado a essas mesmas solicitações.

“Não há espaço entre macas, os doentes não têm camas no internamento e estão internados no serviço de urgência. O serviço de urgência é um serviço de passagem onde se faz o diagnóstico, se intervém e vai-se para o internamento. Aquilo não tem condições para os utentes estarem a ser tratados com os cuidados que necessitam, com os cuidados de privacidade, nem nada”, disse, referindo que a situação nas urgências do Hospital Padre Américo é das mais graves que encontrou no distrito do Porto.

“Já não me recordo de ver uma situação tão deprimente como esta. Há doentes que se estenderem a mão dão a mão ao colega do lado”, disse, confirmando que a permanência por tempo indeterminado de doentes internados no serviço de urgência por falta de vagas nos serviços de especialidade coloca em causa o processo de tratamento e reabilitação dos doentes.

A dirigente do Sindicato dos Enfermeiros de Portugal afirmou mesmo que existem, neste momento, 31 pessoas internadas nas urgências.

“Na urgência há 31 doentes internados. Os colegas são insuficientes para dar resposta, muitas vezes, há postos de trabalho que ficam sem enfermeiro alocado, ou seja, na sala de emergência quando é accionada, sai um colega que está a prestar cuidados nessa zona de pseudo-internamento e fica só um enfermeiro para dar resposta a 15 ou 20 doentes”, sustentou, concretizando que está em causa a qualidade dos cuidados que prestam em tempo útil, a segurança dos utentes e dos próprios enfermeiros.

Fátima Monteiro recordou, também, que estas condições são propícias à propagação da infecção, tendo o Sindicato conhecimento da falta de material, nomeadamente cateteres.

Quanto ao plano de contingência sazonal definido pelo Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa que tem como propósito prevenir e minimizar os efeitos negativos do frio extremo e das infecções respiratórias, Fátima Monteiro defendeu que não é conhecida a sua operacionalização, caso contrário  estes doentes não estariam na urgência, existindo enfermeiros que estão a fazer trabalho extraordinário.

Referindo-se às obras feitas na urgência do Padre Américo, a dirigente assegurou que estas não foram suficientes, continuando a subsistir os problemas, lamentando que o Hospital de Amarante, uma unidade que reputou com tendo excelentes condições, continue a não acomodar muitos dos doentes que acabam por afluir para o Padre Américo.

“É um hospital que tem espaço que chegue. Não se compreende esta cegueira económica, economicista de não criar condições. Está ali um elefante branco desocupado com meia dúzia de salas a funcionar”

“É um hospital que tem espaço que chegue. Não se compreende esta cegueira económica, economicista de não criar condições. Está ali um elefante branco desocupado com meia dúzia de salas a funcionar”, sublinhou, reconhecendo que este é um problema, também, partilhado pelo Conselho de Administração do Tâmega e Sousa que defende a amplificação do número de camas e aproveitamento daquelas instalações, com mais capacidade instalada, mais número de camas para dar resposta a esta população.

“Com mais 20 enfermeiros a situação ficaria mais ou menos resolvida no Padre Américo”, confessou, lamentando que a tutela não intervenha desbloqueando verbas para a admissão de mais enfermeiros.

“Não é só um problema do pico da gripe. Esta região precisa de maior número de camas”, afirmou, avançando que o Sindicato de Enfermeiros Portugueses já solicitou uma reunião com carácter de urgência ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.

Contactado, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa lembrou que associada ao período sazonal, a área de influência do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, debate-se com uma elevada carga assistencial, factores que ajudam a explicar o aumento da afluência ao Serviço de Urgência.

“Foi definido um plano de contingência sazonal que tem levado a um aumento do número de camas e à afectação de mais recursos de acordo com as autorizações obtidas da tutela. Importa dizer que a situação está a ser acompanhada e foram contratados mais enfermeiros e assistentes operacionais que vão permitir não só reforço do número de efectivos como também a sua distribuição nos turnos e nos postos de trabalho”, lê-se no comunicado enviado.