Depois de ter sido notícia quando concebeu e produziu palcos e tendas para a Cimeiro Ibero-Americana, para diversas edições do Rock in Rio, para a visita do Papa a Lisboa e Porto ou para a final da Liga dos Campeões realizada no Estádio da Luz, uma empresa de Paços de Ferreira volta a destacar-se. Desta vez, a Irmarfer vai montar a maior tenda do mundo durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no Brasil, que estão marcados para o próximo ano.

A estrutura terá 75 metros de largura, 22 metros de altura, 400 metros de comprimento e um custo de produção de cinco milhões de euros. Números que empresas de França ou Alemanha garantiram ser impossíveis de alcançar, mas que os irmãos Ferreira provaram estar ao alcance de quem domina a mais avançada tecnologia do sector.

Irmarfer foi a única empresa a aceitar o desafio

O convite surgiu há mais de um ano, quando o Comité Organizador dos Jogos Olímpicos 2016 informou que pretendia uma tenda com 75 metros de largura para confeccionar e servir refeições, em simultâneo, a 7500 atletas. “A organização convidou mais de 200 empresas e, depois de várias etapas de selecção, ficaram apenas três: nós, uma francesa e outra do Dubai. Os restantes concorrentes disseram que era impossível construir uma tenda com 75 metros de largura. Mas nós aceitámos o desafio”, refere Júlio Ferreira, um dos cinco administradores da Irmarfer. Segundo este responsável, a grande dificuldade estava em “construir um arco de 75 metros de largura sem pilares de sustentação”. “Nunca ninguém o fez, mas nós aplicámos uma tecnologia que já tínhamos usado num projecto que fizemos para a Airbus e conseguimos alcançar o objectivo”, diz.

Apesar do know-how adquirido, a Irmarfer teve quatro pessoas (dois arquitectos, um engenheiro e um dos administradores da empresa) totalmente dedicados ao projecto durante um ano. “Todo o estudo e todos os cálculos foram feitos por nós. Só fomos obrigados a recorrer ao estrangeiro para produzir a viga principal, porque não há em Portugal uma máquina com essa capacidade”, acrescenta Júlio Ferreira.

Neste momento, nas instalações da empresa situadas em Freamunde, já está montado um dos 80 arcos que irão compor a maior tenda temporária do mundo, que será equipada com estrados, fachada de vidro, iluminação, 80 telas de PVC, com cinco metros de largura e 800 quilos de peso, e 20 geradores para abastecer os muitos aparelhos de ar condicionado. “Foi montado para testar a sua resistência. Provámos que resiste a ventos até 170 quilómetros/hora e que consegue suspender cinco toneladas”, diz Júlio Ferreira.

Entretanto, no interior da fábrica, 80 trabalhadores continuam dedicados inteiramente ao projecto dos Jogos Olímpicos e a, partir de Fevereiro do próximo ano, uma equipa de 60 elementos irá radicar-se no Rio de Janeiro até Junho para montar a maior tenda do mundo, mas também mais 230 palcos, estrados e tendas de menor dimensão. “Vão ser precisos 400 contentores, de 40 pés, para transportar as 10 mil toneladas de equipamento para o Brasil. E o objectivo é vender todas as estruturas quando acabarem os Jogos Olímpicos”, revela Júlio Ferreira.

Gestão familiar de empresa líder de mercado

Fundada em 1981 por José Ferreira Nunes, um antigo torneiro, a Irmarfer passou para as mãos dos cinco filhos 17 anos depois. Leonardo, António, Eduardo, Júlio e Adão começaram, então, um trabalho que levou a que a empresa de Paços de Ferreira se consolidasse como líder nacional do sector e um dos principais intervenientes do mercado internacional. “Estamos entre as dez maiores empresas do mundo e, seguramente, entre as três com melhor tecnologia”, reivindica Júlio Ferreira. Os dez milhões de euros de facturação em 2015, do grupo que integra quatro empresas, inclusive a Irmarfer Brasil criada em 2010, e um crescimento de 27% a nível interno e de 100% em mercados como o francês e o alemão são números que lhe dão razão. “Este ano, só com a Irmarfer Portugal, já facturámos dez milhões de euros e temos previsões para fechar o ano com 12 milhões de euros de facturação”, acrescenta.

Com 240 funcionários, a Irmarfer investiu, em Novembro de 2013, oito milhões de euros numas instalações situadas em Freamunde e que têm 15 mil metros quadrados de área coberta. E manteve a fábrica de Figueiró com seis mil metros quadrados.

Mesmo administrando uma das referências internacionais do sector, os irmãos Ferreira continuam a promover uma gestão familiar e a respeitar as directrizes que o pai impôs quando lhes confiou o destino do negócio. Assim, ainda hoje mulheres e filhos dos administradores estão proibidos de trabalhar na empresa e a presidência da Irmarfer continua a rodar, de dois em dois anos, pelos irmãos, cada um com um departamento sob a sua responsabilidade.

Os estatutos da Irmarfer estipulam ainda, por vontade do fundador, que a empresa seja vendida antes de o mais novo dos irmãos festejar 50 anos de idade. Leonardo, António, Eduardo, Júlio e Adão mostram-se disponíveis para concretizar este desejo do pai e até compreendem a ideia do progenitor. “Há uma altura em que as pessoas deixam de ter as mesmas capacidades e começam a ser ultrapassadas”, explica Júlio Ferreira.

Números

6,8 milhões de euros de facturação em 2014 só na Irmarfer. Grupo facturou 10 milhões de euros

5 milhões de euros é o custo de produção da tenda

6 mil metros quadrados de área coberta tem as novas instalações. Área total é de 13 mil m2 e a obra custou 8 milhões de euros

400 contentores, de 40 pés, são necessários para transportar todo o material para o Brasil. São 10 mil toneladas de equipamento

240 funcionários tem a empresa

60% das tendas dos Jogos Olímpicos serão construídas pela Irmarfer. São mais de 230 estruturas diferentes

75 metros de largura terá a maior tenda do mundo. Terá ainda 400 metros de comprimento e 22 metros de altura. São necessários 80 arcos, sendo que cada um pesa 4500 quilos. Tenda será coberta com 80 telas de PVC, com 5 metros de largura e 800 quilos de peso.

60 trabalhadores estarão no Brasil de Fevereiro a Junho

20 geradores são necessários para colocar em funcionamento o sistema de ar condicionado

4 pessoas dedicaram-se ao projecto durante um ano