O dono de um café e padaria em Louredo diz-se alvo de “perseguição” e “difamação” face a constantes denúncias anónimas que levam a GNR a investigar.

Nega que, como veio a público, tenham estado na cave da habitação anexa ao café cerca de 30 pessoas, no último domingo, violando as regras impostas pelo estado de emergência. Filipe Morais alega que as pessoas que têm sido lá encontradas, identificadas e autuadas nas visitas da GNR são familiares e funcionários e amigos que estão a ajudar na obra de reabilitação da casa e aí almoçam e jantam. Garante ainda que não vendeu bebidas nem recebeu clientes.

Mas esta não é versão da GNR que, informa ao Verdadeiro Olhar, diz que as pessoas identificadas assinaram os autos dizendo que foram ao café tomar bebidas. Nas várias visitas já realizadas pela Guarda foram detectados crimes de propagação de doença, de venda de bebidas alcoólicas em horário proibido e não cumprimento do dever geral de recolhimento.

Proprietário diz que não são clientes mas amigos

“Repor a verdade”. Foi isso que levou Filipe Morais a querer dar a cara. No entendimento do dono do café e padaria São Cristóvão não há irregularidades. Não culpa a GNR, mas afirma que estas constantes visitas têm sido fruto de “denúncias anónimas constantes” numa atitude de “perseguição” e “difamação”.

Sentado na cave onde têm sido visitados pela GNR, Filipe Morais explica que ele e a esposa estão a reabilitar essa casa ao lado do café que exploram, que além daquele espaço tem um rés-do-chão e primeiro piso. Ali têm estado familiares e funcionários do café, que são também amigos da família, que têm ajudado com a obra. “Não são clientes”, frisa.

À hora de almoço e depois do trabalho, juntam-se para almoçar e jantar na dita cave, onde tem uma mesa de madeira, um sofá, máquinas de bebidas e de café para esse consumo próprio e não para vender, alega. “Tenho aqui as arcas com as bebidas já para não ter de abrir a porta e ir ao café. Mas ninguém paga, é para nós bebermos aqui”, garante o proprietário.

Filipe Morais salienta que sempre cumpriu os horários de fecho dos espaços – ele e a esposa têm esse café em Louredo, um outro na freguesia, e outros dois em Bitarães e Duas Igrejas –, sendo que estavam a funcionar na vertente de padaria e take away nas últimas semanas, actividade para a qual têm CAE.

Diz que não foi alvo de nenhuma multa em Dezembro, como foi noticiado, embora a GNR tenha ido ao local na passagem de ano.

A 15 de Janeiro, a GNR encontrou lá sete pessoas a assistir a um jogo de futebol e foram multadas por não terem máscara e estarem a violar o confinamento. “Estávamos aqui a jantar depois da obra e sete pessoas estavam a ver o jogo quando chegou a GNR. Abri a porta. Tenho aberto sempre. Sei que há gente que não abre. Estamos a ser penalizados por ser honestos. Fomos identificados, não chegou multa. Não estávamos de máscara, estava debaixo do queixo porque estivemos a jantar”, justifica Filipe Morais.

No sábado passado a GNR voltou ao local devido a novas denúncias. Estavam lá 10 pessoas que foram autuadas. “Estávamos umas 10 pessoas, mais uma vez eu, a minha mulher, o meu pai, e funcionários/amigos, alguns são quase família. Estávamos a descansar um bocado depois da obra. Disseram que não podíamos estar aqui. Mas isto é a nossa casa!”, defende o dono do café.

GNR tem ido ao local e identifica e multa os presentes

Café e habitação contígua onde fica a cave

A visita da GNR repetiu-se no domingo à tarde, desta vez com um alerta da presença de 30 pessoas na dita habitação em obras contígua ao café, com parte a fugir antes da chegada da patrulha. “Éramos cinco pessoas, duas na cave e três aqui em cima na obra quando chegou mais uma vez a GNR. Perguntamos o porquê e falaram numa denúncia para uma festa privada com 30 pessoas. Estávamos aqui com a roupa do trabalho, não era nenhuma festa”, conta, aludindo ao aparato com cerca de 20 guardas e cinco carros patrulha. “A culpa não é da GNR é das denúncias anónimas”, sustenta.

Desde segunda-feira passada fecharam os quatro cafés que exploram, revoltados com a situação e accionaram um advogado. “Mandamos os 10 funcionários para casa e não sabemos se vamos conseguir manter os postos de trabalho”, diz.

Contactada, a GNR confirma as constantes denúncias quanto a este café, estando em causa o receber clientes na casa ao lado, mas salienta que mais que o facto de serem anónimas importa a veracidade das mesmas quando chegam ao local. Já foram elaborados três autos de notícia quanto ao proprietário do estabelecimento e as pessoas lá encontradas e consta dos testemunhos que “foram ao café tomar bebidas” convidados pelo dono, explica a mesma fonte. “As declarações estão nos autos”, acrescenta a Guarda. Os presentes foram multados. Estão em causa crimes de propagação de doença – por não usarem máscara -, de venda de bebidas alcoólicas em horário proibido e não cumprimento do dever geral de recolhimento.

Este local está sinalizado pelo número de infracções já detectadas.