Nas últimas semanas, têm acontecido descargas sucessivas no Rio Ferreira que o têm transformado num “verdadeiro esgoto a céu aberto”, denuncia o presidente da Junta de Freguesia de Lordelo, Nuno Serra, que fala em “crimes ambientais”.

Segundo o autarca, em causa estão as obras de remodelação e ampliação da ETAR de Arreigada, em Paços de Ferreira. Defende, por isso, que é preciso “uma fiscalização rigorosa” e que não seja permitido “efectuar descargas sem tratamento no Rio Ferreira”. “Isto agravou-se na última semana. Estamos a falar de dejectos em estado sólido e de um cheiro tremendo”, explica. “Foi dito que haveria descargas, mas com regras. Tem de haver transporte de lamas e há requisitos a cumprir”, salienta. O autarca já apresentou queixa junto de diversas entidades. “Mais uma vez, estão a desrespeitar o povo de Lordelo atentando à saúde pública e meio ambiente. Desde a semana passada já recorremos a todos os meios ao nosso alcance, denunciando os crimes cometidos nas entidades competentes”, explica Nuno Serra, pedindo à população que também denuncie.

Ao longo do rio, depois da ETAR, a água turva, o lodo e o cheiro nauseabundo são fáceis de encontrar.

“Ou morro com o calor ou com o cheiro. Nem as janelas podemos abrir”

A população está cansada. “Isto foi-se agravando e é complicado levar com estes cheiros o dia todo. Nas últimas semanas há mais cheiros e detritos na água. O importante é resolver o mais rápido possível o problema”, sustenta Manuel Machado que mora à beira rio. “Ou morro com o calor ou com o cheiro. Nem as janelas podemos abrir. Deviam ter preparado melhor este processo das obras”, acrescenta a filha, Mariana Machado.

Para Manuel Leal, o baixo caudal do Rio Ferreira nesta altura veio acentuar o problema. “A água é pouca. Andam a fazer obras e os resíduos têm de ir para algum lado, mas deviam transportá-los para outras ETAR, em cisternas, para tratamento”, defende o morador. “Vão acabar por matar o rio, que já vai quase morto”, constata.

“Estão a gastar milhões, mas aquilo está a descarregar a céu aberto. O cheiro é insuportável. Não se podem abrir as janelas. Já falei com o vereador que me diz que em breve fica pronta a ETAR. Só aí acaba este inferno”, acredita Joaquim Carneiro, também de Lordelo.

Os problemas com a ETAR de Arreigada são antigos. A obra está a remodelar e a ampliar o equipamento que há vários anos estava obsoleto e a funcionar acima da capacidade, que será agora duplicada. O investimento é de 5,1 milhões de euros e promete acabar com a poluição no rio.

A obra está “devidamente licenciada”, “sem que haja ou se cometam ilegalidades ou atentados ambientais”

Questionada, a Câmara de Paços de Ferreira, que tutela a obra da ETAR, “lamenta a falta de serenidade” sobre a ampliação em curso. “Foi precisamente por estar consciente do perigo ambiental que a ETAR de Arreigada constituiu durante 27 anos, não só para os moradores de Paços de Ferreira, mas também para os habitantes de Paredes, que este executivo municipal avançou com a obra em causa”, recorda. A obra está “devidamente licenciada”, “sem que haja ou se cometam ilegalidades ou atentados ambientais”, acrescenta o município. “Agora que a obra está em curso, cumprindo os prazos e os acordos estabelecidos, a Câmara de Paços de Ferreira lamenta quaisquer aproveitamentos, cujos fins são absolutamente desconhecidos”, diz comunicado, que lembra ainda que “o senhor presidente da Junta de Freguesia de Lordelo comprometeu-se a promover e desenvolver uma campanha de sensibilização junto dos seus concidadãos, sensibilizando-os para o impacto que uma obra desta dimensão tem”.

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Também a Câmara de Paredes emitiu um esclarecimento à população, dizendo que está a acompanhar de perto e com preocupação a situação do Rio Ferreira e lamenta os transtornos existentes em Lordelo. “O município de Paredes, atento às questões ambientais, tem alertado constantemente as autoridades competentes para a necessidade de fiscalização e acompanhamento das obras da ETAR de Arreigada”, refere a autarquia, informando que, “segundo informação recolhida com o promotor da obra, em breve, os constrangimentos verificados com os resíduos sólidos depositados na água do rio deixarão de existir fruto da conclusão da empreitada de requalificação da ETAR prevista para o final do mês de Setembro”.

Com a entrada em funcionamento do novo equipamento, a câmara acredita que o Rio Ferreira vai normalizar.