Esta semana, os presidentes socialistas das Câmaras de Lousada, Felgueiras, Paços de Ferreira, Paredes e Valongo entregaram um manifesto ao ministro do Planeamento e das Infra-Estruturas, pedindo a criação de uma linha de comboio, num total de 36 quilómetros de extensão, que ligue estes concelhos socialistas.

Embora a exigência tenha sido feita com pouca determinação, talvez por serem do mesmo partido do Governo, a intenção é nobre: permitiria facilitar o transporte de mercadorias, contribuiria para a mobilidade das pessoas numa região com défice de transportes públicos e seria um investimento muito mais acertado do que a construção de estradas, numa economia que diz que quer ser competitiva. Mas a ideia terá poucas possibilidades reais de ser posta em prática nos tempos mais próximos.

No que respeita à ferrovia, Portugal está atrasado em mais de 30 anos relativamente a Espanha. Por exemplo, em 20 anos de Alfa Pendular, ainda não houve um único dia em que ele circulasse à velocidade para que foi criado, porque a principal linha ferroviária do país está por renovar. Outro exemplo é o da electrificação do troço Caíde-Marco de Canaveses, na Linha do Douro, que deveria ter terminado há dois anos, mas que nem sequer começou. E há mais exemplos: a electrificação do troço Elvas-Caia, que deveria ter terminado em 2017 e não começou; a requalificação da Linha da Beira Alta, que está parada.

Para se ter uma ideia, nesta altura, segundo o plano apresentado pelo actual ministro, já deveria estar em curso a requalificação e construção de 1193 quilómetros de linhas férreas e ainda só foram intervencionados 79 quilómetros.

Se queremos ter um país competitivo, temos que centrar o investimento na ferrovia. Mas este investimento não pode ser feito com remendos, sem uma estratégia nacional. O investimento na ferrovia permitiria dar esperança ao interior do país. Num país que quer atrair turismo, não faz sentido que a viagem de comboio entre Braga e Faro demore hoje quase o mesmo que demorava há 50 anos.

Resumindo: a proposta destes autarcas é oportuna. No entanto, numa altura em que a política dos sucessivos governos tem sido a do desmantelamento do sector ferroviário nacional, é necessário que a determinação destes autarcas vá mais além do que uma simples carta de intenções.