Pode-se dizer que dentro da Banda Musical de São Martinho de Campo há uma família dentro de outra família. Há avós e netos, pais e filhos, tios e sobrinhos, entre outros graus de parentesco. Mas é sobretudo uma segunda família, uma segunda casa, escolhida por músicos de várias gerações. É assim há 90 anos.

Apesar da idade, ou por causa dela, esta banda filarmónica está cada vez mais jovem. Para isso muito contribui a escola de música, revitalizada em 2015, em novos moldes, que conta já com cerca de 120 alunos, cuja principal meta é formar pessoas e só depois músicos.

O que se pode esperar de uma banda desta idade? “Neste momento, com a juventude que temos, é uma banda que tem os próximos 90 anos garantidos”, sustenta o presidente da direcção, também músico, Jorge Benido.

Projectos não faltam, entre eles o aumento do número de salas de aulas e a construção de um auditório, além de converterem a escola de música no Conservatório de Valongo.

Para comemorar os 90 anos decorreram várias actividades. A mais marcante foi a criação de um poema sinfónico que aborda as logomarcas do concelho.

Criação do Espaço Musicultural de Campo permitiu crescimento

Foi em 1929 que José Teixeira Ferreira, um ferroviário destacado para o apeadeiro de São Martinho de Campo que tinha o gosto pela música, deu início à Banda. “Começou, nos tempos livres, a ensinar alguns músicos. Teve alguma ajuda por parte dos ingleses que exploravam as minas de ardósia na parte instrumental. Estamos a falar de uma altura de pobreza em que era impossível obter os primeiros instrumentos para a banda se formar”, realça Jorge Benido.

Anos mais tarde, em 1968, era inaugurada a primeira sede, “construída pelos músicos, de forma comunitária”.

A Banda foi crescendo e dedicou-se sempre ao ensino da música e à animação de romarias e outras festividades, indo aos mais variados pontos do país. Foi considerada instituição de utilidade pública em 2012.

Com o passar dos anos, as instalações tornaram-se exíguas para acolher tantos músicos. Até que, em 2015, reconstruíram a antiga Escola do Outeiro onde instalaram o Espaço Musicultural de Campo.

“Candidatamo-nos a um fundo comunitário e tivemos o apoio da Câmara de Valongo e da Junta de Freguesia de Campo e Sobrado. É um projecto que ainda não está concluído, teve de ser faseado”, recorda o dirigente. A meta passa por construir, em breve, mais cinco salas de aula, para completar a ideia inicial. De uma segunda fase do projecto, ainda sem data definida, consta a construção de um auditório com uma sala de ensaios e cerca de 120 lugares sentados para o público.

“Será esse o culminar daquilo que foi pensado para este terreno que o município de Valongo nos cedeu”, admite Jorge Benido.

Sobem aos principais palcos das romarias do Norte

Nos últimos anos, a Banda transformou-se. Sobretudo desde que o maestro Marco Araújo passou a reger os seus destinos musicais. “Houve muito empenho por parte da direcção em fazer coisas diferentes e alargar muito o âmbito das romarias que fazíamos”, diz Jorge Benido.

Se há 15 ou 20 anos as actuações se centravam nas freguesias do concelho e nos concelhos em torno do Porto, agora a Banda Musical de São Martinho de Campo é “muito procurada e solicitada”. E já pisou os grandes palcos das maiores romarias do Norte do país.

“Tivemos no ano passado um marco muito importante para nós. A Banda foi convidada, pela primeira vez, para ir à Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, e para actuar no domingo, um dos dias principais da festa. Foi um motivo de orgulho para todos os músicos e acho que para toda a população do concelho de Valongo ter a banda num local onde estavam milhares de pessoas”, dá como exemplo.

Normalmente, fazem mais de 30 actuações anuais em festas e romarias e nos principais eventos do concelho de Valongo, na sua maioria concentradas nos meses de Julho e Agosto, cujos sábados e domingos costumam ficar totalmente preenchidos. Muitas vezes têm de recusar convites.

Nesses eventos em que jogam em casa, como a Feira da Regueifa e do Biscoito, a Feira do Livro ou a Expoval, tentam sempre produzir espectáculos diferentes e apelativos, com recurso à multimédia, convites a outros artistas, por vezes solistas internacionais ou mesmo fadistas ou cantores.

“A Banda de São Martinho tem a felicidade de estar muito bem cotada. E isso obriga-nos a ter reportório para isso e a estar a um nível muito alto. Mesmo os protocolos que temos com a Câmara de Valongo são arrojados e obrigam-nos a estar ao nível de poder tocar com alguns grandes artistas do panorama musical, com alguns solistas da Orquestra do São Carlos, como já aconteceu”, atesta Marco Araújo. O aumento da qualidade está também ligado aos músicos. Cerca de quatro dezenas dos 120 alunos da escola de música da banda, frequentam conservatórios como o do Porto, do Vale do Sousa (Lousada), de Paredes ou a Academia de Música Costa Cabral. “São alunos que para além da formação que obtiveram aqui, sobretudo no início, optaram por continuá-la de forma oficial nessas escolas de ensino, o que os leva a estar bem preparado e num nível muito bom e isso no conjunto vai fazer com que a banda soe cada vez melhor”, acredita.

Além da Banda “sénior”, existe uma orquestra ligeira, uma orquestra juvenil, uma orquestra infantil e um coro infantil. Está a ser criada uma orquestra de cordas que quer ser percursora de uma orquestra sinfónica.

A maioria dos elementos é de Valongo, mas há também de concelhos vizinhos e de outros pontos do Norte.

Primeiro concurso internacional deu primeiro prémio

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

A Banda de São Martinho de Campo viveu, recentemente, um dos momentos marcantes da sua história. Em 2018, foi seleccionada para representar Portugal no Festival Internacional para Bandas Filarmónicas e Orquestras de Sopros, em Differdange, no Luxemburgo. “Foi um projecto ambicioso, nunca tínhamos participado num concurso fora do país”, explica Jorge Benido.

Depois de passar várias eliminatórias, enviando vídeos de actuações, foram chamados a participar na competição, a par de bandas e orquestras académicas de reconhecida qualidade e de países como os Estados Unidos da América, França ou Inglaterra. Angariaram fundos e meteram num autocarro os 55 músicos que tiveram oportunidade de viver uma experiência possivelmente irrepetível. “O terem privado com outros maestros, outras bandas, outras culturas foi muito bom e foi uma experiência única para muitos dos nossos músicos”, crê o presidente da direcção.

A cereja no topo do bolo foi terem trazido para Campo uma taça, a de primeiro lugar na categoria de banda filarmónica e orquestra de sopro. “Foi a primeira vez que participamos num concurso internacional e foi logo um excelente resultado”, diz o dirigente, com visível orgulho.

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30 anos de Banda, de músico a dirigente

O que também mudou com a chegada de Marco Araújo, garante Jorge Benido, foi a capacidade de agarrar os jovens e a assiduidade da banda.

“Tínhamos um problema grave que era às sextas-feiras conseguir ter metade ou 70% da banda num ensaio. Hoje em dia nos ensaios faltam dois a três músicos, às vezes por compromissos profissionais, por doença ou por exames. Em 63 elementos que actualmente compõem a banda normalmente estão sempre 55 presentes. É uma média de assiduidade muito grande”, afirma.

Ele próprio é um dos elementos que sempre disse ‘presente’ às solicitações da Banda de Campo, nos mais diferentes papéis. Está há mais de 30 anos na instituição musical.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Na altura não havia Playstation”, começa por brincar Jorge Benido, explicando depois que, mesmo sem ter músicos na família, a proximidade à casa do “Sr. Cunha”, conhecido por ensinar música, acabou por determinar-lhe o destino. “Em vez de ficar fechado fui aprender música. Comecei pelo clarinete. O meu pai, que me levava a casa do senhor Cunha, começou a interessar-se e ainda entrou para a banda primeiro do que eu”, diz com um sorriso.

Também ele se juntou ao grupo, primeiro só como músico, depois como membro da direcção e, desde há alguns anos como presidente. “Já tenho mais de 20 anos de direcção e já passei por vários cargos. Ajudar a colectividade a crescer é o que o move, assim como o gosto pela música”, sustenta Jorge Benido, saxofonista, que procura dar o exemplo participando nos ensaios e actuações. Entretanto, os filhos juntaram-se à escola de música da Banda. “Espero que sigam o meu exemplo e que sejam tão felizes como eu fui aqui por 30 anos”, refere.

Escola já vai nos 120 alunos e falta espaço

Marco Araújo não chegou há tanto tempo, mas isso não significa menos empenho na luta pela melhoria constante da Banda. É maestro em Campo desde 2012 e ocupa ainda o cargo de director pedagógico da escola de música.

Com um percurso longo, iniciado aos 10 anos no Conservatório de Música do Porto, passou pelas bandas militares, sendo sargento-ajudante do quadro de bandas e fanfarras do Exército. Estudou na Escola Superior de Educação de Coimbra e fez, recentemente, um mestrado em direcção de orquestras de sopro na Universidade de Aveiro.

A escola de música da Banda nasceu de forma igual a tantas outras e com a mesma meta: formar músicos para os quadros da banda. Existiu desde sempre, havendo normalmente músicos incumbidos desta missão.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Mas em 2015, já nas novas instalações, o projecto ganhou novo fôlego e adoptou novos moldes, “em tudo semelhantes àquilo que é feito nas academias oficiais e nos conservatórios do ensino público, com o mesmo número de disciplinas e carga horária” e com uma aposta nos 21 professores que passam a estar dedicados a cada um dos instrumentos, à formação musical e à classe conjunto, explica Marco Araújo.

Só que a escola de música teve uma afluência “gigantesca” e imprevisível. “Não contávamos ter uma adesão tão grande de alunos à escola. Neste momento temos 120 alunos. Há quatro anos atrás, nas nossas melhores ideias, pensaríamos ter 40 a 50 alunos, e essa meta foi logo atingida no primeiro ano”, refere Jorge Benido.

“A Banda tem um quadro de 63 elementos. Portanto, num futuro próximo, dificilmente todos poderão fazer parte do elenco da banda”, acrescenta Marco Araújo. Também por isso e pela procura, o leque de instrumentos a leccionar foi alargado também às cordas, ao piano ou à bateria, por exemplo.

Na escola de música não há limite de idade, começando desde logo na música para infância e bebés. “As crianças têm de ser a partir dos três anos, mas depois pode ser até aos 90 anos”, comenta o presidente da direcção. “É para quem quiser aprender, seja formação musical seja um instrumento, e não há nenhuma obrigatoriedade de integrar mais tarde a banda”, adiciona.

Alunos são acompanhados, mesmo em ensino paralelo

Esta apetência pela música e vontade de aprender deixou a Banda de São Martinho de Campo com problemas de espaço.

“Além das nossas salas estamos a usar as instalações da Escola do Outeiro, cedidas pelo município de Valongo. Ao sábado usamos as instalações durante todo o dia porque é a única forma que temos para conseguir distribuir nos vários horários que temos os 120 alunos que passam por aqui, sobretudo ao fim-de-semana”, justifica Jorge Benido.

Querem, por isso, ampliar a capacidade criando mais cinco salas de música e continuar a investir na manutenção dos instrumentos e aquisição de novos, assim como na formação dos músicos.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“A escola tem condições para crescer. Há uma grande vontade de todos que isso aconteça, desde os professores ao funcionário da entrada, ao director da escola e ao presidente da banda. Em termos de infra-estruturas, realmente já não conseguimos, em certos momentos, sobretudo ao sábado, ter salas livres para as aulas que são leccionadas”, lamenta o director pedagógico e maestro.

Prova da qualidade existente é o facto de os alunos ali preparados que fazem provas de ingresso em conservatórios e academias ficarem “muito bem classificados” e quase todos conseguirem entrar. “É essa outra aposta ao nível da direcção da banda. Tentar que os nossos músicos tenham o máximo possível de formação no ensino oficial. Tentamos dar esse incentivo para que sigam”, refere Jorge Benido.

A ideia é corroborada por Marco Araújo. “Temos elementos da banda que seguiram a carreira da música, principalmente no ensino superior e nas bandas profissionais, como a do Exército. E há um certo orgulho e acompanhamento. Em todas as audições finais que os nossos fazem no conservatório e em academias há sempre algum elemento da direcção artística ou da direcção pedagógica que faz questão de lá estar para assistir a essa evolução paralela”, explica.

Este ensino a duas frentes permite-lhes evoluir e obter boas notas. “A nossa nota média dos alunos deste ano rondou os 4,3 numa escala de zero a cinco. Nos alunos do ensino secundário rondou os 16,5 a 17 valores São coisas que nos enchem de orgulho, porque a ajuda que damos aqui é fundamental para terem estas boas notas e sucesso”, acredita.

Grande projecto é criar Conservatório

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

A grande meta passa por, assim que ficarem reunidas as condições, criar em Campo o Conservatório de Música de Valongo.

“Após terminarmos a conclusão das novas instalações, o projecto passa pela certificação e conseguir ter aqui um conservatório de Valongo”, resume Jorge Benido. O projecto já existe e foi apresentado. Falta a obra.

“Já foram feitos contactos com o Ministério da Educação no sentido de oficializar a escola em termos de protocolos e apoios financeiros para criar um pólo aqui em Valongo. Estamos numa primeira fase que é a da certificação das infra-estruturas. Havendo essa certificação há a possibilidade de que os nossos alunos saírem daqui com um diploma oficial”, realça o director pedagógico.

“Julgo que será para a vila de Campo e para o concelho de Valongo um motivo de orgulho”, adianta o presidente da direcção.

Marco Araújo não tem dúvidas. “Tive a sorte de cair numa freguesia que tem muito gosto e muito carinho pela Banda e isso facilita muito o trabalho. Foi fácil conseguir incutir a vontade de ir mais longe, uma vontade comum que levou que a banda realmente atingisse patamares que são já motivo de vaidade”, acredita.

Acima de tudo, na Banda de Campo, mais do que formar músicos, procura-se formar pessoas. E criar um sentimento de família.

“Para além das componentes pedagógicas há uma componente de formação pessoal que é dada a cada um de nós, desde o instrumento que é dado a cada um dos miúdos que é responsabilidade dele, desde a atribuição de uma sala de aula em que têm de ter o respeito, a consideração e estima por todo o material que lá está dentro e utilizá-lo de forma correcta e aprumada, desde a conduta relacionada com os horários ao trazer o trabalho de casa feito

Há uma formação também a nível social, pedagógico e psicológico que distingue, e muito, a Banda de São Martinho do Campo das demais, que muitas vezes vocacionam o seu trabalho só para a música”, defende o maestro.

A Banda é jovem, com uma média etária que rondará os 22 anos, apesar de concentrar no seu seio várias gerações, e a escola de música garante-lhe o futuro.

O segredo está em agarrar a juventude, com várias estratégias, que levam a que mesmo os que vão para o ensino superior e sem pretensões de seguir carreira musical não abdiquem da banda.

“Também temos conseguido agarrá-los por actividades extra musicais que a banda executa, normalmente relacionados com paint ball, jogos de futebol, noites de Halloween, a semana das associações… actividades que fazem com que gostem de cá estar. À medida que a idade vai avançando não os leva daqui, pelo contrário, alguns até trazem os primos, trazem os irmãos, a família e isso também para nós é motivo de orgulho”, descreve Marco Araújo.

Uma segunda família onde se juntam avós e netos

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

António Cunha tem 70 anos, mais de 50 deles dedicados à banda de Campo. Foram poucas as alturas em que se afastou.

“Comecei no ensino da música a aprender a ler solfejo quando tinha nove anos”, recorda. O primeiro instrumento que tocou foi trompete. Aos 14 anos parou, devido às “ilusões da juventude”, mas voltaria aos 15 anos. “Trabalhava na Empresa das Lousas de Valongo e eles só me diziam: tens de ir, tens de ir. Vim e fiquei até hoje”, conta. Só falhou os dois anos em que esteve a cumprir o serviço militar.

“Até há 10 anos atrás eu era o único professor que a banda tinha, ensinava todos os instrumentos. Fui solista de clarinete mais de 30 anos e fui director artístico da Banda entre 2000 e 2005”, diz António Cunha.

Depois de um ano parado, recomeçou com outros instrumentos, como trompete, clarinete e saxofone tenor. “Em 2007 regressei como músico, não sou orgulhoso nem vaidoso”, garante. “Geri sempre a banda com o máximo de empenho e dedicação e com prazer, paixão e gosto. Gosto de tudo cá, deste ambiente de música e de família”, acrescenta o natural de Campo, que continua a ensinar.

Os genros também foram músicos, mas foi sobretudo ele quem mais incentivou as netas a juntarem-se à Banda. “São boas músicas”, afirma com orgulho, referindo-se a Beatriz Ferreira, de 18 anos, Catarina Benido, de 13 anos. Com percursos diferentes, ambas se sentem bem ali.

Beatriz entrou no Conservatório aos seis anos e só aos 14 chegou à Banda de Campo. “Era muito envergonhada e não queria entrar na banda. Depois de muita insistência de família e de amigos vim para a banda juvenil e acabei por ficar a substituir um músico”, resume.

Quando começou na música queria tocar violino. Por falta de vagas ainda tentou o piano, mas sem sucesso. Acabou por escolher o trombone, o mesmo instrumento que o pai tocava. “Lembro-me de acompanhar o meu pai nas festas e de estar com ele nas salas de ensaio, ele fazia gosto em que eu viesse. E o avô foi persistente, sempre me incentivou a vir para a música, era ele que me levava ao Conservatório”, revela a jovem, que frequenta o curso de Educação Social.

O ensino superior, garante, não limita a sua participação na banda. Até é uma forma de “distrair dos exames e do estudo”.

Depois de começar a aprender com o avô aos sete anos, Catarina Benido entrou para a Banda de Campo aos 10 anos. “Foi difícil escolher um instrumento. Queria piano, mas o meu avô convenceu-me a aprender um instrumento que desse para entrar na banda. Acabei por escolher clarinete”, conta a também aluna do Conservatório do Porto.

“A música é essencial para nos distrair, ter algo a fazer além da escola, mas não me vejo a seguir música no futuro”, assume a jovem. “Vir para os ensaios e para as festas é uma oportunidade de conviver com a família e amigos que cá tenho, são momentos inesquecíveis. a banda é uma família”, acrescenta.

 

* Esta reportagem foi realizada antes do início da pandemia COVID-19