A manhã é de nevoeiro, mas a aula arranca na mesma. Os jovens já sabem pegar nos tacos e têm as noções mínimas do que é o golfe. E aquilo que era “uma seca” no início, começa a transformar-se em algo “fixe”.

Todas as semanas, 13 alunos do Agrupamento de Escolas de Vilela, com idades entre os 11 e os 16 anos, com mau comportamento e/ou fraco desempenho escolar, vêm até ao Campo do Aqueduto, em Vila Cova de Carros, Paredes, aprender a jogar golfe. O objectivo do projecto, “único” a nível nacional, é estimular o sucesso educativo através desta modalidade, motivando e orientando os alunos para melhores resultados.

“O golfe vai fazê-los evoluir na escola e enquanto pessoas. No final deste ano vão estar mais calmos, focados e conseguir respeitar quem os está a ajudar”, acredita o treinador Miguel Valença.

O projecto decorre durante este ano lectivo e os alunos têm três horas de golfe por semana, sendo acompanhados por professores. A meta é que no final do ano tenham competências para serem atletas federados e possam competir em torneios oficiais.

“Queremos dar mais horizontes a estes alunos”

O projecto Golfe – Estratégia de Promoção de Sucessos, é promovido pelo Paredes Golfe Clube (PGC), com o apoio do Instituto Português do Desporto e da Juventude – no âmbito do Retenção Zero(R0) – e em parceria com o município de Paredes, o Agrupamento de Escolas de Vilela e a Federação Portuguesa de Golfe.

Estes alunos têm aulas extra-curriculares e vão ser desafiados a participar em torneios, sendo que, no final, haverá uma competição no Centro de Formação Nacional, o Jamor, e a meta é que alguns se tornem atletas federados. O projecto implica ainda o convívio com seniores e com pessoas com necessidades especiais, entre outros. Além de promover o sucesso educativo e a melhoria da relação destes jovens com a escola, o objectivo é moldar, através do golfe, o carácter dos jovens e discipliná-los.

“Estes alunos têm aulas de golfe, participam em torneios, têm contacto intergeracional e com adultos com necessidades especiais e vão jogar uma final no Jamor. Isto é para os valorizar, para terem mais auto-estima e estarem mais motivados, melhorando a relação com o desporto e a escola”, explica Arménio Santos, director do PGC. O projecto, refere, nasceu da necessidade de enquadrar alguns alunos “com comportamentos desviantes e mau aproveitamento escolar”.

“O desporto é uma escola de virtudes que faz definir objectivos e treinar para alcançar resultados”, salienta Arménio Santos. “Queremos dar mais horizontes a estes alunos. Este projecto é único e a ideia é alargá-lo a mais crianças no próximo ano”, adianta, acrescentando que querem também criar um torneio com os pais para mostrar o impacto que o desporto tem nos filhos.

Também um dos treinadores, Miguel Valença, acredita nas mais-valias do projecto. “Tem sido uma experiência nova como treinador e é um bom desafio. As maiores dificuldades são o comportamento e mantê-los atentos, mas ainda estão numa fase inicial de aprendizagem”, lembrou.

“No início era uma seca aprender golfe, mas agora está a ficar fixe”

Para os jovens, que têm aulas divididos em duas turmas, a perspectiva sobre esta experiência tem vindo a mudar.

“No início era uma seca aprender golfe, mas agora está a ficar fixe”, assume Bruna Filipa, de 12 anos, que frequenta o 6.º ano, que se diz já interessada em competir. Tiago Andrade, de 12 anos, reconhece que a aprendizagem escolar é importante, embora confesse: “sou mais ou menos bom aluno, mas não gosto da escola”. Quanto ao golfe, “nunca tinha ouvido falar”. “Estou a gostar. É simples de aprender”, diz o jovem. “Agora quero aprender e competir”, acrescenta.

Já Olinda Salomé, de 11 anos, reconhece o seu insucesso escolar. “Tinha más notas e acharam que devia experimentar o golfe. Aceitei. No início era complicado porque não conhecia os colegas. Mas agora gosto, já aprendi muita coisa e acho que isto ajuda a acalmar”, explica.