Em democracia é normal e desejável que se discutam ideias e projetos diferentes para o país, para o concelho ou para uma freguesia. Mas aquilo que jamais deveremos permitir é que, de forma premeditada, a vida política resvale para o campo das insinuações, da mentira ou do insulto. Quem perde com isto é, desde logo, a democracia, mas também quem opta por esse caminho.

Pessoalmente e se a minha única preocupação fossem os resultados eleitorais de Outubro próximo, não estaria a escrever este texto. A história mais ou menos recente da democracia portuguesa diz-nos que os partidos e os políticos que decidiram que o caminho das suas campanhas era o da insídia e do ataque pessoal, foram sempre presenteados com derrotas humilhantes. Mas, como na vida, também na política não pode valer tudo. E mais importante do que os resultados eleitorais, é a obrigação que todos os responsáveis políticos têm em lutar, diariamente, pela sedimentação dos mais elementares valores e princípios democráticos.

Esta breve introdução vem a propósito do primeiro panfleto eleitoral que a candidatura do PSD à autarquia pacense distribuiu esta semana pelo concelho. A forma sobranceira e arrogante como se referem aos seus adversários políticos é inaceitável. Afirmar, como faz o candidato do PSD, que o atual Presidente da Câmara não respeita os pacenses, é mal educado e não é sério, ultrapassa todo e qualquer limite ético e político. Se a isto juntarmos a inenarrável conclusão de que “é até ofensivo tentar encontrar semelhanças entre nós”, somos levados a crer que a arrogância e o complexo de superioridade em relação aos outros começa a ser uma das bandeiras eleitorais da atual oposição.

Sempre tive pelo agora candidato do PSD a amizade e o respeito que me merecem todos aqueles que pensam diferente de mim ou militem em partidos diferentes do meu. Também sei, por experiência própria, que os períodos de campanha eleitoral são difíceis e exigentes. Mas nunca me passou pela cabeça tentar obter alegados dividendos eleitorais, produzindo afirmações deste tipo.

Poderíamos dizer que se tratou de um lapso. Mas o problema é que o chorrilho de ideias vazias e lugares comuns, é interrompido com mais uma acusação profundamente lamentável, que foi com certeza pensada, refletida e estruturada pelo próprio e pela sua entourage. Refere o candidato do PSD que “na rua, as pessoas dizem-me que têm medo de dizer o que pensam”. Esta acusação, mesmo que tenha sido exclusivamente idealizada como forma de atacar o Presidente da Câmara, é um atestado de menoridade a todos os pacenses e um ataque político absolutamente inaceitável a todos os que, como eu, participam e apoiam o projeto político autárquico do PS.

Quando não se tem mais nada de relevante para ser dito, às vezes há quem ache que a solução está na chamada fuga para a frente. O problema é que quando a cegueira política atinge o estado crónico e os sentimentos que lideram um processo eleitoral são apenas a sobranceria e a arrogância, quem assim atua não percebe que as acusações que alegadamente são feitas ao adversário político, na verdade têm como alvo milhares e milhares de cidadãos.

Participo de forma ativa na vida política concelhia há já muitos anos. Em termos estritamente locais, foram várias as derrotas sofridas. Como é natural, ninguém gosta de perder, mas sempre interpretei essas derrotas como um desafio para trabalhar mais e melhor. Nunca pensei, disse ou sequer insinuei que, no passado, o PS perdeu as eleições porque os pacenses andavam com medo de dizer o que pensavam. Não, o PS perdeu porque os pacenses confiaram maioritariamente nos projetos e nas equipas do PSD e fizeram-no, sempre, através do voto livre e secreto. E sim, acredito e com toda a convicção, que no próximo dia 1 de Outubro os pacenses ampliarão o seu voto de confiança no PS, porque a mudança produziu resultados extraordinários, que importam continuar e aprofundar.