Antiga ETAR foi desmantelada para permitir a construção da nova no mesmo local

É o princípio do fim da poluição no Rio Ferreira causada pela ETAR de Arreigada. Pelo menos assim acreditam os autarcas de Paços de Ferreira e Paredes.

O contrato de consignação que permite que avance a obra de ampliação e remodelação daquele equipamento de tratamento de esgotos foi assinado, esta tarde, pelo presidente da Câmara de Paços de Ferreira.

O prazo de conclusão da obra, orçada em 5,1 milhões de euros e apoiada em 80% pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR), é de 30 meses.

Para o presidente da Junta de Lordelo, uma das freguesias mais afectadas pelas descargas da ETAR, que há muito funciona acima das suas capacidades, o momento é de satisfação mas “contida”. Nuno Serra diz que a luta só termina quando a obra estiver feita e depois da fauna e da flora do rio estiverem recuperadas.

“Eram do conhecimento público os crimes ambientais que aqui se iam passando e ao longo de mais de 20 anos foram incapazes de resolver o problema”

Há muito que todos concordavam: a ETAR de Arreigada, em Paços de Ferreira, estava obsoleta e a funcionar acima das capacidades, causando problemas ambientais já que servia mais do dobro dos habitantes para os quais foi projectada.

No final de 2016, foi autorizado que se avançasse com o processo para requalificar o equipamento. Decorreu um concurso público internacional e só agora foi assinado o auto de consignação. Se tudo correr dentro dos prazos previstos estará pronta em 2020.

A intervenção vai permitir implementar uma tecnologia de nova geração, ampliar as linhas de pré-tratamento e de tratamento biológico, bem como a linha de tratamento de lamas.

Com as obras, a ETAR construída em 1993 vai duplicar a capacidade. Até agora conseguia tratar cerca de 5.800 m3/dia e passará a aceitar um volume médio de 10.000 m3/dia, tratando os esgotos de 58 mil habitantes do concelho de Paços de Ferreira. “A capacidade aumenta de 500 m3/hora para 1.000 m3/hora”, explicou a engenheira Goreti Matias, responsável pelo projecto.

Durante a assinatura do contrato, o presidente da Câmara de Paços de Ferreira não poupou críticas aos executivos social-democratas que, antes dele, lideraram o município. Segundo Humberto Brito, esta obra marca o fim de “anos de sucessivos atentados ambientais, que prejudicaram fortemente a qualidade de vida de milhares de cidadãos, para além das graves consequências para o ecossistema da região”. “O município de Paços de Ferreira, em sucessivos governos do PSD não olhou para este problema e não respeitou as pessoas de Paredes, sobretudo as de Lordelo”, sustentou o autarca. “Eram do conhecimento público os crimes ambientais que aqui se iam passando e ao longo de mais de 20 anos foram incapazes de resolver o problema”, criticou, lembrando que, no passado, um autarca de Lordelo chegou a ir despejar os peixes mortos do Rio Ferreira em frente à Câmara Municipal de Paços de Ferreira.

O presidente da Câmara salientou que, nos últimos anos, foi possível reduzir a dívida do município, os impostos aos cidadãos e ainda fazer obras essenciais para a qualidade de vida dos cidadãos. Esta obra, disse, vai custar aos cofres municipais cerca de 1,2 milhões de euros da comparticipação nacional.

Câmara de Paredes vai aumentar emissário para que atravesse Parque do Rio Ferreira

Tanto Humberto Brito como Alexandre Almeida, presidente da Câmara Municipal de Paredes, que falou mais tarde à comunicação social, no Parque do Rio Ferreira, em Lordelo, realçaram o importante papel do Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, na resolução do problema.

Também o autarca se referiu a este dia como sendo importante e elogiou a atitude do congénere de Paços de Ferreira. “Este investimento poucos ou nenhuns votos lhe vai trazer porque as repercussões eram sobretudo em Lordelo e Rebordosa. Presto-lhe a minha homenagem por ser capaz de resolver um problema que todos os outros executivos empurraram com a barriga”, disse Alexandre Almeida.

“Isto é o início do fim do problema, mas há outros investimentos a ser estudados para prevenir problemas futuros”, adiantou o presidente da Câmara de Paredes.

Essas ideias foram reveladas pelo vice-presidente da autarquia e vereador do Ambiente, Francisco Leal. Segundo o lordelense, a SIMDOURO vai investir cerca de um milhão de euros na renovação e ampliação de um emissário que vem de Duas Igrejas até à ETAR de Campo e passa no Rio Ferreira. “Está obsoleto e isso vai aumentar a capacidade e evitar que haja transbordos e que não haja risco de contaminação do rio”, explicou. Por outro lado, agora que já pode avançar com candidaturas a fundos comunitários, a autarquia de Paredes pretende aumentar a extensão do emissário que sai da ETAR de Arreigada para que este apenas desague no Rio Ferreira depois do parque de lazer que atravessa as freguesias de Lordelo e Rebordosa.

Obra é importante, mas recuperação da fauna e da flora também, diz presidente da Junta de Lordelo

Nuno Serra, presidente da Junta de Freguesia de Lordelo, que nos últimos anos tem denunciado, com frequência, as descargas no Rio Ferreira e que, ainda no início do ano veio a público pedir a intervenção do Ministério Público e exigir a atuação do Governo para resolver o problema, diz que está satisfeito, mas que a satisfação é “contida”. Até porque o início das obras não resolve o problema.

“A requalificação da ETAR é indispensável, mas a recuperação da fauna e da flora também é essencial. Só vou estar satisfeito no dia em que pudermos mergulhar e pescar neste rio e a luta só termina quando este rio tiver a vida que tinha há 30 anos atrás”, afirmou à comunicação social.

“Estou contente que comece a obra porque cada dia que passa é um crime que se está a cometer. Mas não posso concordar que se louve uma câmara por deixar de cometer um crime”, adicionou o autarca, referindo que se mantém em tribunal o processo da Junta de Freguesia de Lordelo contra a Câmara Municipal de Paços de Ferreira.

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