ALIMENTAR O MONSTRO OU MATAR O BICHO?

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Quando passamos uma legislatura a falar mais de um deputado do que de grupos parlamentares inteiros, quando nos preocupamos mais com a forma do que com o conteúdo, quando falamos mais deles do que dos nossos, ao contrário do que pretendemos, estamos a dar palco e protagonismo a quem, mereça-o ou não, está longe do destaque que, ávida de audiências, a comunicação social lhes atribui. O crescimento do partido Chega fez-se, queiramos ou não, mais à custa dos seus opositores mais do que dos seus apoiantes, mais pelas mãos dos outros partidos do que do próprio. Fez-se também, por muito difícil que seja acreditarmos, à custa dos partidos que mais o atacaram. E nunca foi ingénuo esse combate. Interessava ao PS dividir a direita depois de se ter vitimizado com a esquerda. E se A. Costa assim pensou, melhor o fez.Toda a esquerda queria que o Chega crescesse. Com isso “esfrangalhava” a direita. Quiseram todos, mas assim só o PS ganhou. Dizemos assim agora porque já o tínhamos escrito muito antes das eleições. Antes até de se saber que as legislativas seriam antecipadas.

E com a recente polémica sobre a eleição ou não de um vice-presidente da Assembleia da República, o processo de promoção do Chega continua. Custava muito permitir que cada partido propusesse os seus candidatos e depois, como terá de ser, votavam em quem quisessem. Mas não, com “vanguardismos” de última hora, aqui d`el rei que há um candidato do Chega. Resultado: deu-se palco à extrema-direita, permitiu-se a sua vitimização. Enfim, mais uma vez ajudamos ao seu crescimento.

Num partido que, já se viu, o que pretende é falar porque hão-de os outros, bem ou mal, dar-lhe razões para isso. Porque hão-de alimentar o “monstro”? Quando nos apercebemos que o protagonismo de Ventura é maior quando dizem mal dele do que quando fazem o contrário, porque é que à moda da extrema-direita, moda antiga- diga-se, não preferimos “matar o bicho” em vez de o alimentar.

A extrema-direita há-de crescer ainda mais. É espectável. A Europa mostra-nos isso, só que, como é costume, chega mais tarde a Portugal. Este como outros fenómenos novos.

Consolemo-nos com a esperança de que a direita muito dificilmente alcançará o poder antes de 2030. Acreditemos que o Chega é um epifenómeno que, tal como, o Bloco de Esquerda, perderá a atractividade ao fim de duas décadas. Os partidos que captam votos sobretudo pela novidade deixam de a ter em vinte anos. Os seus dirigentes deixam de ser novos e as causas continuam a ser as mesmas, mas mais velhas. Com isso provam a ineficácia das suas lutas e tornam-se irrelevantes.

Atentemos, contudo, na novidade da Iniciativa Liberal (IL), essa coisa velha que nos tentam vender como nova. O liberalismo selvagem, inteligentemente escondido pelos dirigentes da IL, chega a ser mais irritantemente radical do que algumas propostas da extrema-direita. E já são muitos os lobos com pele de carneiro ali disfarçados.