De taxista a artesã. Penafidelense dedica-se a trabalhar os materiais com a imaginação

Antónia Santos já trabalhou como vendedora ambulante com o marido, numa instituição de meninos com necessidades especiais e foi, durante quase 20 anos, taxista, em Penafiel. Actualmente, dedica-se ao artesanato nas suas mais diversas formas

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Pode dizer-se que Antónia Santos tem realmente uma veia artística. Desde muito nova que começou a fazer trabalhos de artesanato (a título pessoal) e acredita que ganhou dos pais “o gosto pelas artes”. “O meu pai desenhava muito bem e a minha mãe era uma mão cheia a bordar. Bordou o meu enxoval e o do meu irmão”, acrescenta.

Conta que, na escola, era a melhor aluna a desenho e que lá aprendeu a trabalhar com outros materiais. Quando casou, acabou por acompanhar o marido, que era vendedor ambulante, mas assim que ficou grávida, teve de arranjar outro emprego. Foi parar a uma instituição de meninos com necessidades especiais, em Paços de Ferreira, onde desenvolvia vários trabalhos manuais com eles e continuava a “ganhar mais gosto e conhecer outras técnicas”.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Mais tarde, após a morte da mãe, o pai de Antónia Santos, que era taxista, ofereceu-lhe um carro e ao irmão. A penafidelense acabou por tirar a carta profissional e foi taxista durante 18 anos, no concelho, mas nunca deixou a sua arte de lado. Na altura da Feira do São Martinho, em Penafiel, por exemplo, abria o seu stand e deixava-o a cargo das suas colegas da parte da manhã, enquanto ia levar uns meninos à escola.

No entanto, alguns problemas de saúde ditaram o seu afastamento da profissão há cerca de cinco anos, mas não ficou parada. “Quem gosta de trabalhar, arranja sempre qualquer coisa e, então, dediquei-me a 100% ao artesanato”, conta.

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Começou a explorar também a pintura e a tirar algumas ideias em revistas e na internet, fazendo, ao mesmo tempo, trabalhos de bordado. Nessa altura em que ficou com mais tempo livre, frequentava também workshops ligados a várias áreas artísticas. “Depois de ter frequentado esses workshops, comecei a trabalhar com outros materiais, comecei a fazer imitações de vitrais, decopagem (que não conhecia), em cáustica, bonecos de pano… A gente depois vai inventando, pesquisando aqui e acolá… E comecei a melhorar cada vez mais”, descreve.

Ao entrar em casa de Antónia Santos, é impossível confundir quem lá vive. Todos os recantos têm um toque seu. Há quadros pintados, bordados, peças que reaproveitou e, depois, tem o seu atelier, onde reserva todo o tipo de materiais que se possa imaginar porque podem dar jeito para um próximo trabalho, explica.

A arte é, no fundo, a companhia de Antónia Santos, já que passa muito tempo sozinha. Os seus filhos – que diz que têm também “veia artística”, mas que não a seguiram – emigraram e o seu marido tem, por vezes, de ir para fora em trabalho.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Ultimamente, tem explorado mais a parte do têxtil, com bonecos de pano, aventais, quadros bordados, panos e tem percebido que até gosta. “Eu não sabia que tinha tanto jeito para a costura”, confessa, referindo que usa uma máquina de costura “um bocado rudimentar, ainda a pedal”. “Ando a juntar dinheiro para comprar uma máquina de costura industrial, era o meu sonho”, acrescenta.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Outra das ambições que tinha era poder apresentar os seus trabalhos na Agrival, que conseguiu concretizar este ano. “Foi um sonho realizado porque passa muita gente, de muito lado, e pessoas que, se calhar, valorizam mais”, acredita, indicando que conseguiu, inclusive, vender uma das peças mais caras que tinha por quase 200 euros.

Costuma percorrer várias feirinhas pelo concelho de Penafiel, que, muitas vezes, valem mais é pelos contactos que consegue fazer e que depois lhe encomendam trabalhos. Nas Termas de São Vicente, onde mora, também costuma expor os seus trabalhos num evento que lá se realiza, mas diz que “as pessoas da terra não compram muito”.

Por agora, está a preparar os trabalhos que vai levar para o São Martinho e a tentar juntar dinheiro para arranjar um carro para poder ir a mais localidades do país mostrar a sua arte.