Sustentabilidade

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Não foi por acaso que o reconduzido presidente da câmara de Paredes utilizou esta palavra vinte vezes, no mínimo, durante a cerimónia de tomada de posse do novo executivo municipal no recuperado pavilhão gimnodesportivo municipal.

Não nos parece que só agora tenha descoberto que o primeiro e maior problema do concelho de Paredes é o da sustentabilidade. Ou seja, Alexandre Almeida, como quase todos nós conhece os desequilíbrios do concelho que, mais uma vez e, no mínimo, nos próximos quatro anos estará a ser governado pelo executivo a que preside, agora com responsabilidades maiores tal a diferença do número de vereadores no novo executivo.

Não sabemos que de fala Alexandre Almeida quando se refere ao desenvolvimento sustentável como fator decisivo para a rota de crescimento em que, julga, o concelho já está colocado.

Sabemos, contudo, que num concelho onde os salários médios não só são dos mais baixos da região, mas do país, onde a taxa de analfabetismo, apesar dos avanços significativos dos últimos vinte anos, ainda é das mais elevadas do país, sobretudo quando nos referimos ao analfabetismo funcional. Num concelho onde a taxa de cobertura de saneamento básico envergonha quem dirige este território, num concelho destes a procura de um modelo e de um sistema de desenvolvimento sustentado não é tarefa fácil.

Se a isto acrescentarmos as caraterísticas particulares de um concelho onde o conjunto das freguesias só no papel constitui uma unidade territorial ou, pior do que isso, rivalizam e disputam entre si e com a sede do concelho o protagonismo de uma importância que ninguém sabe bem o que é, mas todos adivinham que mais dividem do que unem e, consequentemente, se constituem mais como entropias do que como contribuintes para a resolução dos problemas estruturais, adivinham-se, como sérias e difíceis de alcançar as novas metas que o novo executivo de Alexandre Almeida se propôs alcançar e nos prometeu cumprir. Mais improvável ainda se estiver disposto a executar a parte dos compromissos que foram esquecidos no primeiro mandato.

Duma coisa estamos certos. “Prioridades” como a fábrica do lixo em Baltar, o realojamento da comunidade cigana no centro da cidade de Paredes ou a falta de um plano estruturado de recuperação e revitalização das bacias hidrográficas dos rios Sousa e Ferreira serão sempre obstáculos que impedirão a tal sustentabilidade defendida por Alexandre Almeida. Pelo contrário, continuarão a afastar-nos cada vez mais dos concelhos vizinhos e dos outros.

Sem um plano estratégico de desenvolvimento, sem objetivos prévia e devidamente definidos, sem planificação devidamente calendarizada e sobretudo sem um projeto de afirmação que motive e agregue todas as freguesias do concelho num todo por todos reconhecido nunca Paredes conseguirá dar os passos necessários à tal sustentabilidade que agora preenche os discursos do presidente da câmara de Paredes.

Sobre isto, infelizmente, talvez só daqui a quatro anos possamos voltar a discutir com os atuais detentores do poder. É pena que, como fizeram nos últimos quatro anos, se fechem nos seus gabinetes e só ouçam aqueles que lhes dizem o que eles querem ouvir.

Da cerimónia de tomada de posse regista-se ainda a dignidade com que decorreu, o bom discurso do presidente da câmara – se conseguir passar das palavras aos atos – e sobretudo a renovação e o rejuvenescimento dos órgãos municipais, particularmente da assembleia municipal e das assembleias de freguesia. Talvez, finalmente, possamos ter ideia do que as novas gerações podem trazer à política local. Espera-se muito deles.