Quem entrar pela porta da sede da Obra de Caridade ao Doente e ao Paralítico (OCDP), em Paredes, sem saber, podia julgar que se estava ali a realizar o jantar de uma grande família. Há seniores e crianças, há conversas e risos. E é mesmo assim que os voluntários e os responsáveis da instituição encaram a Sopa Solidária, iniciativa que surgiu há cerca de 15 anos para ajudar pessoas carenciadas. “Isto é como uma família”, garante a direcção. Actualmente, o âmbito alargou-se. “Não é só para quem tem dificuldades económicas, mas também é um apoio emocional. Há pessoas que estão sozinhas e procuram o convívio”, referem.

Duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras, são servidas cerca de 40 refeições. Um número que cresce até às 90 a 100 pessoas em jantares especiais. “Aqui nunca se fecha a porta a ninguém”, afirma António Pinto, presidente da OCDP.

“Quando se faz por gosto não cansa”, dizem voluntários

Todas as terças e quintas-feiras o cenário repete-se. Por volta das 19h00, homens e mulheres de diferentes idades e famílias com crianças vão chegando e sentam-se à mesa. Conversam até que o jantar é servido por um grupo de voluntários. A maioria já se conhece.

Em média há 40 pessoas à mesa, mas há datas em que chegam às 100. “Nunca sabemos quantos vêm. E temos duas viaturas que vão buscar as pessoas a casa para vir à sopa. Há de tudo, desde idosos a pais com crianças”, explica o responsável pela instituição. Muitos outros, sabe, também precisam e não vêm por vergonha. Há famílias carenciadas, com doentes em casa, que vêm também buscar a refeição.

A Sopa Solidária começou por ser uma vez por mês, depois passou a duas vezes por mês até chegar às duas vezes por semana. Uma vez por mês, além do prato de sopa (que inclui pão e sobremesa e pode ser repetido) há uma refeição completa. O mesmo acontece nas datas especiais como o Natal, a Páscoa, o São João e o São Martinho, com a típica ceia com bacalhau, o pão-de-ló, as sardinhas ou o entrecosto.

Tudo é feito com a ajuda dos muitos voluntários, que preparam, confeccionam e servem a refeição. Por noite costumam rondar as 12 pessoas.

Na cozinha estão quase sempre Maria Glória Costa (76 anos), Margarida Rocha (73), Maria José Ribeiro (78) e Maria Isaura (80 anos). São voluntárias há vários anos e dão corpo à máxima “quando se faz por gosto não cansa”. “Às vezes de inverno custa sair de casa, mas é por uma boa causa”, dizem. Além de prepararem as refeições tratam, com a ajuda de outros, dos tabuleiros, dos ingredientes e da lavagem da louça.

Dinheiro angariado na peregrinação a Fátima ajuda os carenciados

Quem vem não se arrepende. “É uma forma de conviver um bocadinho”, explica António Nunes, que vem desde o início da Sopa Solidária e traz a esposa. “A comida é sempre boa”, garante. Gracinda Soares, de 80 anos, já perdeu a conta aos anos em que participa nesta iniciativa. “Disseram-me para vir, que me distraia um bocadinho. Vim e gostei. As pessoas são simpáticas”, diz. Também Sandra Ribeiro, que vem com os três filhos, concorda: “os miúdos adoram vir aqui e as pessoas gostam deles”.

A OCDP nasceu em 1973 e dedica-se às ajudas técnicas, tendo ainda uma loja social e fazendo a distribuição de cabazes do Banco Alimentar. É sobretudo conhecida pela organização de uma peregrinação anual ao Santuário de Fátima. Este ano foram 430 peregrinos apoiados por 100 voluntários. “O dinheiro aí angariado ajuda-nos a manter a sopa solidária durante o ano”, diz António Pinto.