O número de casos de tuberculose notificados por 100 mil habitantes em Portugal diminuiu em 2021, uma redução que tem sido consistente nos últimos anos, é a principal conclusão do Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal de 2022, divulgado ontem pelo Programa Nacional para a Tuberculose da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

No entanto, refere o mesmo documento, “registou-se uma subida dos casos em algumas regiões, nomeadamente no Norte”, sendo as regiões do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo as que continuam a ter as incidências mais elevadas. Os distritos do Porto e de Lisboa mantêm-se como as regiões com maior incidência de tuberculose, em­bora com taxas de notificação decrescentes e próximas dos 20 casos por 100 mil habitantes. Já a mediana de dias até ao diagnóstico mantém uma tendência crescente (79 dias em 2020 e 86 dias em 2021), o que resulta num diagnóstico mais tardio da doença.

A DGS aponta que os homens continuam a ser mais afectados do que as mulheres (66,4% dos 1513 casos notificados em 2021), especialmente na idade adulta, sendo que nesse ano, 2,8% do total de casos ocorreram em crianças e adolescentes com idade inferior a 15 anos. A população imigrante mantém-se como a população de maior vulnerabilidade, com uma taxa de notificação 3,8 vezes superior à média nacional (55,8 por 100 mil em 2021). O relatório refere que a “identificação dos mais vulneráveis, nomeadamente dos que têm risco acrescido de exposição ou que possam ter dificuldade no acesso aos cuidados de saúde, constitui uma prioridade de intervenção” e que “a redução do tempo até ao diagnóstico, que tem vindo a subir, é outra prioridade.

Infografia: Relatório da DGS

Mais uma vez, e na região do Tâmega e Sousa que estão as mais elevadas incidências do país. O Marco de Canaveses tem uma incidência de 57,1 casos por 100 mil habitantes, a maior a nível nacional, seguindo-se Penafiel, com 55,9 casos por 100 mil habitantes, concelho que, no último relatório, encabeçava o ranking. Estes números são muitas vezes explicados com a predominância das indústrias de extracção da pedra, pela silicose que afecta os trabalhadores e pelo consumo de álcool. Já a taxa de notificação de Baião é de 33,1 casos por 100 mil habitantes.

Os concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo somaram quase 500 casos de tuberculose no quinquénio 2017/2021.

Média de diagnóstico da doença em Penafiel foi de 117 dias e fica muito acima da média nacional

A tuberculose mantém-se como uma das principais causas de morte a nível mundial. Em Portugal, a tuberculose afecta sobretudo populações vulneráveis, onde se incluem pessoas que vivem com VIH, imigrantes, pessoas em situação de sem-abrigo ou reclusão, pessoas com dependências e pessoas com exposição ocupacional à sílica, clarifica o documento.

Apesar da diminuição de casos, “Portugal continua a ser o país da Europa Ocidental com a taxa de incidência de tuberculose mais elevada”. Em 2021, foram notificados 1513 casos de tuberculose no país, correspondendo a uma taxa de notifica­ção de 14,6 casos por 100 mil habitantes.

Segundo o documento, entre 2020 e 2021, na região Norte verificou-se uma subida da taxa de notificação de 15,9 para 17,3 casos por 100 mil habitantes, enquanto na região de Lisboa e Vale do Tejo se identificou um decréscimo de 18,7 para 16,5. “A subida da taxa de notificação na região Norte pode ser explicada pelo aumento do número de casos no distrito de Porto (que continua com uma taxa de notificação superior a 20 casos/100 mil habitantes) e dis­trito de Braga (…) Do total do número de casos adicionais, na região Norte, face a 2020, 66,2% estão concentrados nos concelhos de Penafiel (41 casos em 2021 vs 26 casos em 2020), Marco de Canaveses (26 casos em 2021 vs 13 casos em 2020) e Braga (43 casos em 2021 vs 20 casos em 2020)”, revelam os resultados do Programa Nacional para a Tuberculose.

O distrito do Porto teve um aumento dos casos notificados (379 em 2021 vs 349 em 2020), correspondendo a uma taxa de notificação de 21,2 por 100 mil habitantes. A maior incidência de casos foi nos concelhos do Marco de Canaveses (57,2 casos/100 mil habitantes) e Penafiel (55,9 casos/ 100 mil habitantes), descreve o relatório. “Nestes dois concelhos, verificou­-se um aumento do número de casos notificados com reflexo no aumento da taxa de notificação do distrito do Porto. Em 2021, no concelho de Penafiel, foram notificados 41 casos (26 casos em 2020) e no concelho do Marco de Canaveses foram notificados 26 casos (13 casos em 2020)”, mostram os dados.

“O concelho do Marco de Canaveses, na região do Vale do Sousa apresentou, no quinquénio 2017-2021, a taxa de notificação mais elevada em Portugal, o que se atribui à proporção de casos em doentes com silicose (50,0% em 2021). Contudo, neste concelho, a mediana da demora até ao diagnóstico (98 dias) é superior à mediana da demora nacional (86 dias)” esclarece ainda o documento. Em Penafiel a média de diagnóstico foi ainda maior e muito acima da média nacional: 117 dias. Nos distritos de Lisboa e Porto, é só suplantado por Loures (155 dias) e pelo Porto (118 dias). A média do país foi, como mencionado acima, de 86 dias.

Infografia: Verdadeiro Olhar

Incidência só aumentou em Lousada

Em 2021, registaram-se 80 mortes por tuberculose, com a média de idades a rondar os 73,5 anos. “Das comorbilidades encontradas nos casos de morte, destacam-se a diabetes (12,5%), neoplasia (12,5%), DPOC (7,7%) e silicose (6,3%). Re­lativamente aos determinantes sociais, o consumo de álcool (11,3%) e ser imigrante (10%) foram os mais frequentes. Deve ser ainda referido que a totalidade dos doentes em que ocorreu o óbito, pertenciam a populações vulneráveis”, avança a DGS.

Nesse ano, foram notificados 32 casos de tuberculose em crianças com idade igual ou inferior a 5 anos, o que corresponde a uma taxa de notificação de 6,1 casos/100 mil crianças do grupo etário 0-5 anos. Em Penafiel houve dois casos.

Voltando à região, entre os anos de 2017 e 2021, os concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo registaram 485 casos de tuberculose, a maioria deles em Penafiel (195) e Valongo (114). Em Paredes houve 66 casos, em Paços de Ferreira 66 e em Lousada 34. As taxas de notificação diminuíram em todos os concelhos à excepção de Lousada que passou de 12,8, em 2020, para 14,5, em 2021. Com uma taxa de incidência de 55,9 casos por 100 mil habitantes, Penafiel continua a ter a situação mais grave no Vale do Sousa, sendo o segundo concelho do país com maior taxa de notificação. Apesar de ter a segunda taxa de incidência maior entre estes cinco concelhos, Valongo tem uma incidência de menos de metade que a registada em Penafiel.

O número de casos registado no quinquénio em análise coloca Valongo como o 12.º no ranking da maior incidência a nível nacional, Paços de Ferreira em 13.º, Paredes em 26.º e Lousada em 38.º.