Quer conhecer o Papa Francisco?

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A oportunidade acontece a partir do dia 4 de Maio, quando estrear nos cinemas «Francisco – o Papa do povo» (no título original «Call me Francesco»).

É caso para dizer, a vida deste homem dá um filme. O argumento (de Martín Salinas e Daniele Luchetti) é magnífico, as interpretações muito convincentes (com destaque para Rodrigo de la Serna no papel principal), a realização está à altura (do italiano Daniele Luchetti) e a fotografia também. Para os cinéfilos, é um filme a não perder. Para quem se quer informar sobre a vida de Jorge Bergoglio até ele se tornar Papa, ainda vale mais a pena.

Bergoglio vence obstáculos aparentemente intransponíveis, desafios atrás de desafios, conferindo à acção um ritmo de «thriller». O argumento consegue contar histórias densas de forma cinematográfica: a imagem apresenta a situação, uns diálogos breves explicam o resto e o espectador capta a complexidade do problema e a ambiguidade dos detalhes. Os recursos do cinema permitem esta eficiência narrativa, que ocuparia várias páginas para se transmitir por palavras.

O filme é fiel à realidade na medida em que não escamoteia as múltiplas facetas dos acontecimentos, incluindo a imprecisão própria de quem os vive no momento. Estão lá o medo, a alegria, a ternura, a frustração, a admiração, a riqueza das relações humanas, sem caricatura. Ao mesmo tempo, emerge a solidez interior de um homem que reza. A relação de Bergoglio com Deus não é o tema do filme, mas é talvez o aspecto mais interessante. No filme, não há praticamente homilias, nem cerimónias e orações. Subentende-se que um padre faz homilias, mas o argumento não o explicita. A espiritualidade do padre Bergoglio descobre-se implícita nas reacções e em indícios subtis. Por exemplo, a mão que vai ao bolso buscar o terço, sem interromper a vivacidade da acção e quase sem se notar. Depois de tantas emoções fortes, em rajada, é difícil recordar em pormenor todas as aventuras, contudo uma certeza fica clara: Bergoglio vivia em diálogo com Deus.

A vida do padre Jorge Bergoglio foi tão intensa que, apesar da capacidade de síntese dos argumentistas, foi preciso resumir. Por exemplo, não se fala da situação dramática que levou à nomeação do jovem Bergoglio para provincial dos Jesuítas da Argentina. No início da década de 1960 havia mais de 400 jesuítas, passados 10 anos estavam reduzidos a metade, a desorientação era grande, os conflitos pessoais muito agudos, não se via ninguém experiente com capacidade para ultrapassar a crise. Pelo caminho, atravessou-se a guerrilha marxista e a violência descontrolada da resposta militar. Com este ponto de partida, o jovem padre remodelou a formação da Companhia, recuperou o ímpeto evangélico e, por milagre, as vocações afluíram em qualidade e quantidade. Mas nada disto aparece no filme.

Uma época que o filme omite quase totalmente foi um tempo posterior ao mandato de provincial, em que os obstáculos foram ainda mais graves. A sua acção pastoral ficou muito limitada, viu-se proibido de contactar com algumas pessoas e os que tinham trabalhado com ele tiveram de ir para o estrangeiro. A crise agudiza-se ao longo dos anos, até que, quando o Papa João Paulo II beatificou Josemaria Escrivá em Roma, no dia 17 de Maio de 1992, o padre Bergoglio reza ao novo beato para que o ajude. Pouco depois, o Núncio comunica-lhe que o Papa decidira nomeá-lo bispo, notícia que se tornou pública no dia 20 de Maio. O filme não fala do sofrimento destes anos e limita-se a oferecer um «flash» simbólico: o padre Bergoglio está sozinho a cuidar de uma capoeira pobre num local remoto, quando chega um cardeal a transmitir-lhe a nomeação episcopal.

O filme conta algumas histórias do tempo de bispo auxiliar de Buenos Aires, mas salta novamente o período em que ele se tornou o arcebispo titular da diocese e foi feito cardeal.

Apesar destes saltos inevitáveis, o filme é esplêndido. A narrativa está bem construída e, sobretudo, a vida do padre Bergoglio é realmente interessante.

Há apenas um pormenor desagradável, que dura um segundo. Durante um segundo, a despropósito, surge num canto do «écran» um nu feminino, sem rosto, num segundo plano. Dá a sensação de ser a assinatura de alguém que quis mostrar quem manda no mundo do cinema. Noutro filme, nem se notava, numa obra tão valiosa, faz pena