O ambiente está tenso na freguesia de Abragão, em Penafiel. O padre local, Belmiro Coelho da Silva, decidiu terminar com a tradição de presidir às celebrações religiosas que antecedem o fecho do caixão e o cortejo fúnebre entre a capela mortuária, ou a casa do defunto, e a igreja. Alega que o fez devido às dificuldades físicas impostas pelos seus 88 anos, mas o povo garante que a decisão está relacionada com o facto de a última festa em honra da Senhora da Saúde, padroeira da terra, não ter sido realizada como o pároco pretendia.

Por uma ou por outra razão, o padre concretizou a medida na sexta-feira da semana passada e foi criticado por muitas das pessoas que participaram no funeral.

 

Tensão entre padre e freguesia cresce ao longo dos anos

O padre Belmiro Coelho da Silva está em Abragão desde 1976 e a relação com os paroquianos tem, segundo vários habitantes ouvidos pelo VERDADEIRO OLHAR, vindo a ficar cada vez mais tensa. “Ele diz que não deixa participar em várias cerimónias religiosas quem não pagar os direitos paroquiais”, assume Maria Silva. “Ele não queria baptizar a minha filha porque a madrinha não era crismada”, acusa Manuel Silva.

Na sexta-feira da semana passada, a decisão do pároco em terminar com uma tradição na freguesia tornou ainda menos amigável a relação deste com os paroquianos. Belmiro Coelho da Silva não participou, pela primeira vez deste que está na paróquia, nas cerimónias que antecederam o cortejo fúnebre entre a capela mortuária e a igreja de uma mulher de 75 anos e o povo não escondeu o desagrado. “Toda a vida o padre foi buscar o corpo à capela ou a casa. Acho mal o que está a acontecer”, critica Paulino Conceição. Manuel Silva também se mostra admirado com o fim da tradição. “Acho mal. Os problemas da freguesia com o padre já não são de agora”, disse. Maria Silva integra, de igual modo, o coro de críticos. “Acho esta situação estúpida e não percebo a razão de tal acontecer. O povo até está a evitar vir à missa por causa disto”, alega.

Ao VERDADEIRO OLHAR, o padre Belmiro Coelho da Silva assegurou que a decisão de não participar no cortejo fúnebre e nas cerimónias religiosas que o antecedem estão, apenas e só, relacionadas com debilidades físicas. “Tenho muitas dificuldades para andar e subir escadas. Expliquei isso durante a missa. Não há outra razão”, justifica.