Francisco Coelho da RochaA fuga de Lula. Esta foi uma semana com vários acontecimentos relevantes. Comecemos pelo Brasil e pelo polémico pedido de detenção de Lula da Silva. Aqui é importante salientar a manifestação ordeira do povo brasileiro. Saíram à rua num domingo, sem perturbar quem quer trabalhar e encheram ruas e avenidas a pedir a demissão da Presidente Dilma Rousseff. Embora a comunicação social portuguesa quase tenha ignorado o evento, eram tantos que, se a manifestação tivesse acontecido em Portugal, ter-nos-iam dito, na abertura dos telejornais, que todo o país e mais uns espanhóis tinham-se manifestado na rua. Neste episódio brasileiro, é de salientar a possibilidade de Lula da Silva vir a ser nomeado ministro para conseguir, assim, um estatuto privilegiado e conseguir fugir a uma possível detenção. O Governo dos brasileiros aproxima-se, a passos largos, do dos seus vizinhos venezuelanos.

Nem de menos, nem de mais. Por cá, a semana fica marcada pela tomada de posse do novo Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso redondo em que tentou agradar a todos, sem dizer nada em concreto. Começou o seu mandato de “afectos simbólicos”. Ora, já em tempos tivemos um Presidente da República que nos encheu de afectos que contaminaram até o Governo da altura, que distribuiu empregos públicos, nos deu estradas de que não precisávamos, nos baixou o IVA, aumentou os salários aos funcionários públicos e faliu o país. Mas o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa também parece ser um mandato de simbolismo. Visitou simbolicamente Mário Soares na sua casa, terminou simbolicamente a festa de tomada de posse no Porto e até falou ao país simbolicamente por causa da morte de um actor. Ora, se até aqui o Presidente da República falava ao país em ocasiões especiais e excepcionais, agora temos um Presidente que falará por tudo e por nada. Falará tanto que um dia que que tenha qualquer coisa de importante para dizer já ninguém o vai ouvir. Não estranharia nada que, um dia destes, tivéssemos uma comunicação ao país para felicitar o campeão nacional de futebol.

Saída “irrevogável”? A semana terminou com o que parece ter sido a saída de Paulo Portas da presidência do CDS-PP. Escrevi “parece” porque de Paulo Portas pode esperar-se quase tudo. Já em 2005 tínhamos assistido à sua saída da presidência do partido, para, um ano depois, voltar ao mesmo lugar. Durante os seus quase 20 anos de vida política activa, cometeu várias contradições, a mais relevante das quais estará no caso da “demissão irrevogável”. Certamente que o CDS-PP o recordará como o líder que mais tempo pôs o partido no poder. No entanto, o poder do CDS-PP foi construído com base na sua imagem e não no valor real do partido. Por todo o país, Portas deixou um partido com concelhias vazias (basta olhar para as concelhias de Paredes, Paços de Ferreira e Valongo) e irrelevantes politicamente e distritais dominadas pelos mesmos há quase 20 anos. O caminho de Assunção Cristas será duro e penoso.

Dividir votos. Pela região, temos assistido à tentativa de sobrevivência do ex-deputado Mário Magalhães. Em 2011, para facilitar o processo de sucesso na Câmara Municipal de Penafiel, o então presidente Alberto Santos conseguiu incluir o nome de Mário Magalhães na lista a deputados do PSD à Assembleia da República, afastando-o da vida política concelhia. Depois da sucessão tratada e da eleição de Antonino de Sousa, em 2015 Mário Magalhães já não conseguiu concorrer em lugar elegível nas listas a deputados. No que parece ser uma tentativa por se manter à tona da água e forçar o seu partido a encontrar um lugar para si, o ex-deputado desatou a adquirir meios de comunicação social e, na primeira oportunidade, anunciou que é candidato à Câmara Municipal. Mário Magalhães não deve conseguir levar a sua candidatura até ao fim, mas, se conseguisse, a coligação PSD/CDS-PP não seria a mais prejudicada. Em 2013, foi público que Mário Magalhães e outros militantes que se opunham à nomeação de Antonino de Sousa como candidato da Coligação Penafiel Quer incentivaram o voto no candidato do Partido Socialista e talvez isso explique os mais de 40 por cento alcançados por André Ferreira. Ora, aparentemente, uma candidatura de Mário Magalhães serviria apenas para dividir votos com a oposição.