POLÍTICA PARA TOTÓS: A terra onde o 25 de Abril nasceu murcho e serôdio.

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Nas principais cidades do país a tomada da rua por parte da população na manhã do 25 de Abril constituiu a metáfora do processo de súbita mobilização dos portugueses para a política. Se desta forma podemos caracterizar o próprio dia da revolução nos grandes centros urbanos, em Paredes, teríamos de utilizar outras expressões para o registo do golpe de estado. Ou terá sido uma revolução? Ou ambos? Talvez tenha começado por ser um golpe de estado que se transformou (ainda bem) numa revolução.

Enfim, o dia acordou soalheiro, as notícias foram passando via rádio para o boca- a- boca dos cidadãos que iniciavam, com a tranquilidade de sempre, mais uma jornada de trabalho. A revolução parecia longe dos paredenses, tal era o nível de (desin)formação política da quase totalidade da população. De Paredes e do restante país. Só mesmo nos grandes centros urbanos a revolução indiciava a mudança com cheiro a cravos.

Foram dois os locais da cidade que sentiram, em primeiro lugar, os efeitos imediatos da ação dos militares: na secção do Liceu Garcia de Horta (que funcionava nas atuais instalações da Casa da Cultura) e no edifício da Câmara. No liceu, o dia da revolução durou apenas umas horas. O fim das aulas a meio da manhã foi o único sinal evidente de que algo de importante se passava no país. O vice-reitor ficou à espera de “novas ordens” e os alunos de “novos dias”. Em qualquer dos casos não foi grande a agitação nesse e nos dias próximos até ao primeiro 1º de Maio comemorado livremente.

Do que se passou nesses dias nos corredores da câmara pouco se sabe e, para cúmulo, até os registos oficiais ganharam as asas de liberdade. Nunca mais se viram ou quem os viu não diz deles. Devem existir e alguém deles saberá.

A deposição do presidente da câmara, que na altura não era eleito mas apenas nomeado, aqui como em todo o país, foi feita também de forma silenciosamente pacífica. Sabe-se pouco porque os protagonistas desses factos mantiveram uma incompreensível relutância em falar ou escrever sobre esses tempos.

Hoje, sobre abril, em Paredes, fala quem esteve no poder antes do dia ou os delatores que foram capazes de, quase em simultâneo, retirar os bustos dos fascistas para, logo depois, fazerem o seu elogio fúnebre. Os que restam, mais novos, não se lembram, não querem saber  ou não tiveram quem lhes ensinasse que “a História não serve para nada, mas se não sabem História não sabem nada”. As palavras são de um professor da Universidade de Navarra ditas a um amigo, no passado fim-de-semana, e a mim assim imediatamente transmitidas. É sabedoria que partilho. Sem plagiar.

Estridência, daquela que a revolução deu, só no 1º Maio de 1974. E os novos “antifascistas” apareceram todos. Nunca vi tantos, mas só apareceram depois do fascismo acabar.

É. No meu país a esperança foi gerada num golpe de estado e na minha terra a revolução nasceu murcha e serôdia.

As sequelas ainda saltam à vista.

MEL

Homenagem a António Grácio

De Paredes ou até de António Grácio pouco rezará a História. Muito menos se valorizará o gesto da autarquia no dia 25 de Abril. Deste executivo, contudo, poder-se-á dizer, no futuro, que foi o primeiro desde o 25 de abril a prestar as honras há muito devidas a um verdadeiro antifascista. Contentamento breve que passou quase indiferente à maioria dos paredenses e tristeza funda por tão poucos só por ser feriado sabem para que serviu a revolução dos cravos. Vermelhos!

FEL

Democratas de aviário

Só porque o executivo autárquico de Paredes se lembrou de celebrar o 25 de abril sem a convocatória oficial da tradicional e extraordinária Assembleia Municipal e logo os eleitos se deixaram ficar por casa. Democratas de meia tigela, revolucionários da senha de presença, amantes da liberdade que lhes paga. Só lhes falta trabalhar à hora!