Um conto sobre Samir, um jovem de 15 anos que foge com a família à guerra na Síria, escrito por uma turma do 5.º ano da Escola Básica e Secundária do Pinheiro, em Penafiel, foi escolhido para integrar um livro solidário, promovido pela Ajudaris.

Além de pretender estimular a criatividade e a solidariedade junto dos jovens, pondo os alunos a reflectir sobre vários temas, o projecto procura combater a pobreza e exclusão social.

Por isso, os oito volumes do livro de “Histórias da Ajudaris’17”, com os textos dos alunos e ilustrações de artistas convidados, são vendidos por cinco euros. O valor angariado é sobretudo destinado a ajudar crianças carenciadas e as suas famílias.

A obra foi apresentada, esta quarta-feira, na Escola Básica e Secundária do Pinheiro.

“Já conhecíamos o problema na Síria, mas passamos a conhecer melhor. Podíamos ser nós a passar por isso”, dizem alunos

Eram do 5.ºA e são agora do 6.ºA os cerca de 20 alunos que participaram neste projecto com a ajuda de dois professores.

O desafio chegou da professora bibliotecária que conheceu o projecto na Rede Concelhia de Bibliotecas de Penafiel. A ideia foi agarrada e os alunos começaram a trabalhar nas aulas de Assessoria de Desenvolvimento, uma aula que não é uma aula, é mais um espaço de “diálogo e consciencialização”, explicam Teresa Tavares, professora de Português, e João Santana, professor de História, coordenadores do projecto. “Nas aulas de Assessoria de Desenvolvimento procura-se o desenvolvimento integral dos alunos e torná-los conscientes da sociedade em que estão integrados”, referem.

Durante as duas horas por semana desta aula os alunos dedicaram-se, primeiro, a escolher um tema com a ajuda dos docentes. A opção foi pela guerra da Síria e o problema dos refugiados, já que há duas crianças no agrupamento que são refugiadas. “Temos dois meninos na escola que vieram da Síria. Esta é uma chamada de atenção para a escola e o meio em que se insere. É preciso preparar os alunos para acolherem estas crianças com cultura diferente”, defendem os professores.

Os alunos foram então investigar melhor o tema, fazendo pesquisa e vendo vídeos, e depois começaram a elaborar o conto cujo tema é “A família”. Escolheram a cidade da Síria onde a narrativa teria lugar e o nome das personagens para, por fim, escreverem o texto colectivo.

O mais difícil, confessaram os alunos Lara Machado, Samuel Cruz e Tiago Rocha que apresentaram a estória, não foi escrever, mas o facto de haver muitas ideias e um limite de caracteres a cumprir. “Já conhecíamos o problema na Síria, mas passamos a conhecer melhor. É uma situação que nos preocupa. Pensamos que podíamos ser nós a passar por isso”, dizem os jovens, agora no 6.º ano.

Ver o conto seleccionado fá-los querer voltar a participar neste projecto da Ajudaris. Os professores estão dispostos a isso, porque o exercício, além de incutir valores, ajuda a criar métodos de trabalho e a disciplinar a escrita.

A escola do Pinheiro teve outra turma do 5.º ano (5.º B) a participar que elaborou um poema sobre o mesmo tema.

Foto: Fernanda Pinto/verdadeiro Olhar

“Ajudamos cerca de 200 crianças e famílias mensalmente, 100 destas no projecto SOS Fome”

A sessão de apresentação do livro contou com a presença de Rosa Mendes Vilas Boas, fundadora e presidente da direcção da Ajudaris.

Ao Verdadeiro Olhar, Rosa Mendes Vilas boas explicou que a Ajudaris é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) fundada em 2008 por um grupo de voluntários com o objectivo de ajudar os mais carenciados. São vários os projectos desenvolvidos, desde um concurso de ilustração até um projecto ligado às artes que permite angariar verbas para adquirir óculos para crianças carenciadas, projectos de apoio ao estudo e aos idosos sós e sem rectaguarda familiar e o projecto SOS Fome, que apoia crianças e famílias que vivem em situação de pobreza extrema.

O projecto “Histórias da Ajudaris” foi criado em 2009 e promove a leitura, a escrita, a arte e a solidariedade. “Começamos com 12 escolas e hoje são 700 as que participam. O projecto envolve mais de 40 mil pessoas e chega já a São Tomé e Príncipe e à Galiza. As vossas histórias estão a ser lidas também nestes países”, disse aos alunos.

“Este projecto não faz sentido sem as crianças, os pequenos grandes autores, e sem os professores solidários”, defendeu Rosa Mendes Vilas Boas.

Foto: Fernanda Pinto/verdadeiro Olhar

As estórias do ano lectivo transacto foram compiladas em oito volumes que serão vendidos a cinco euros cada. O dinheiro angariado será para ajudar crianças e famílias carenciadas. “Este projecto faz todo o sentido porque trabalha as competências do século XXI, como a cidadania. Ajudamos cerca de 200 crianças e famílias mensalmente, 100 destas no projecto SOS Fome”, pormenorizou.

“Parabéns à escola por abraçar esta rede de afectos. Espero que em 2018 em vez de dois textos tenhamos muitos mais”, concluiu a presidente da Ajudaris.

Também a directora do Agrupamento de Escolas do Pinheiro se mostrou satisfeita com o facto de terem integrado esta iniciativa. “Para mim a escola é um local de magia que permite aprender várias coisas e crescer. Quem nos conhece sabe que somos um polo solidário e gostamos de causas. Agradeço aos nossos mágicos, que são os nossos alunos, por abraçarem mais esta”, disse Luísa Coelho.

Presente na sessão, Rodrigo Lopes, vereador da Educação da Câmara Municipal de Penafiel, felicitou os professores e alunos envolvidos, salientando o contributo do projecto para o desenvolvimento das capacidades literárias dos jovens mas também o sentido de solidariedade.

Foto: Fernanda Pinto/verdadeiro Olhar