O padre Rodrigo Mendes, natural de Bitarães, Paredes, actualmente pároco de Santa Maria – Barreiro, distrito de Setúbal, está a celebrar, com início já esta sexta-feira, o 50.º aniversário da sua ordenação sacerdotal, efeméride que irá contar com a presença dos artistas Teresa Salgueira e Rão Kyao.

O programa do Jubileu Sacerdotal do Padre Rodrigo Mendes inicia com o concerto “Louvores Marianos”, pela cantora  Teresa Salgueiro, agendado para as 21h30, realizando-se no sábado 18 de Agosto, às 18h30, uma Eucaristia, na paróquia de Santa Maria, Barreiro, seguida de uma confraternização e actuação de Rão Kyao.

No dia 25 de Agosto, o mesmo artista irá estar em Paredes para mais uma actuação. Antes o pároco irá presidir à Eucaristia, seguindo-se um almoço convívio.

Ao Verdadeiro Olhar, o Padre Rodrigo Mendes, que foi Vice-Reitor do Seminário de Almada durante 12 anos, mostrou-se grato pela homenagem que lhe estão a preparar e realçou que pretende continuar a sua missão de consagração à Igreja, à comunidade do Barreiro, onde reside desde os 26 anos de idade e prosseguir a sua missão pela humanização do indivíduo e da sociedade.

“É-me difícil resumir 50 anos de actividade presbiterial. Obviamente que me sinto orgulhoso pelas comemorações que vão iniciar já amanhã, mas acima de tudo, elas representam a oportunidade de estar com as pessoas de quem gosto, com a minha comunidade, com a Teresa Salgueiro e o Rão Kyao, dois artistas que admiro  e que simbolizam a relação que existe entre a arte, a música e a religião”, disse.

Falando dos 50 ano da sua ordenação sacerdotal, o Padre Rodrigo Mendes expressou que esta celebração reveste uma importância acrescida constituíndo um momento para agradecer a Deus a oportunidade que lhe deu de ter optado por seguir esta via e zelar pelos que mais necessitam.

Rodrigo Mendes confirmou que esta celebração é, também, oportuna na medida em que lhe vai permitir dar Graças a Deus pelas pessoas que colocou no seu caminho e pela oportunidade que teve de ajudar outros numa cruzada que quer continuar a prosseguir.

Sobre a sua vocação ao sacerdócio, Rodrigo Mendes reconheceu que a dimensão espiritual da sua família acabou por marcar a sua infância assim como o facto de ter tido um tio padre, irmão do meu pai, que viveu o ministério sacerdotal e o facto de ser da família de D. António Ferreira Gomes, ex-Bispo do Porto.

O pároco, de 74 anos, manifestou que na sua longa actividade presbiterial houve vários momentos que marcaram a sua consciência  quer como cidadão quer como pessoa da  Igreja, nomeadamente, o trabalho que desenvolveu em França em prol da comunidade de emigrantes portugueses, assim como a sua colocação no Barreiro na década de 70, num tempo marcado pelas perseguições políticas e pelas contestações ao Estado Novo.

“Foi em França descobri uma forma diferente de ser padre”

Já em Teologia, no Seminário do Porto, Rodrigo Mendes foi obrigado a interromper a sua formação espiritual, tendo ingressado no “Os Filhos da Caridade”, instituto religioso que tem como objectivos a evangelização do mundo operário, nos bairros mais pobres e carenciados, onde os padres viviam em equipa e trabalhavam em grupo.

“Foi em França descobri uma forma diferente de ser padre”, disse, salientando ter vivido o Maio de 68, época marcada pela euforia juvenil, pela renovação dos valores e os movimentos pela luta pelos direitos civis.

Ao nosso jornal, o presbítero ressalvou que foi, também, nos arredores de Paris, numa paróquia popular francesa, que ajudou a organizar um centro de acolhimento para emigrantes e mais tarde a elaborar um projecto que preconizava uma Igreja aberta aos problemas das pessoas.

” A vida é algo que circula. Se se fecha morre. Sinto que hoje são estes os valores fundamentais”

Depois de ter viajado pelo Canadá, EUA, México, Cuba, Colômbia, Rodrigo Mendes integrou a paróquia de Nossa Senhora do Rosário no Barreiro e assumiu a formação nos “Filhos da Caridade”.

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O pároco esclareceu, também, que a par da consciência pelos direitos das pessoas, pautou toda a sua actividade presbiterial pelo culto da fé e por ajudar as pessoas a descobrirem uma outra dimensão na vida que ultrapassa o meramente utilitário, o imediato e que vai  para além dos valores materiais.

“A vida é algo que circula. Se se fecha morre. Sinto que hoje são estes os valores fundamentais”, frisou.

Outro dos momentos que marcou a longa actividade presbiterial do Padre Rodrigo Mendes foi o período em que esteve à frente da direcção espiritual dos seminaristas no Seminário de Almada, tendo sido responsável pela formação de 23 padres.

Em 2014, o Padre Rodrigo Mendes ingressou na paróquia de Santa Maria, no Barreiro, onde se mantém e estabelece uma relação de proximidade com a comunidade pastoral.

“Nesta paróquia encontrei pessoas fantásticas, padres magníficos, o padre Graça e o padre Sobral, pelo que a minha missão consiste em dar continuidade ao trabalho que estes vinham realizando”, afirmou.

Sobre a sua ligação a Teresa Salgueiro e a Rão Kyao, o pároco confessou  que mantém uma relação  estreita com ambos, assumindo que Rão Kyao, frequentava a missa na paróquia da Parede.

“Através da arte atingimos o significado profundo, esta ânsia de infinito e de perfeição”

Quanto a Teresa Salgueiro, o pároco concretizou que a conheceu numa altura em que esta estava a construir a sua obra “O Mistério”.

“Faz-me muito bem ouvir o Rão Kyao tocar, e assim como também, ouvir Teresa Salgueiro, porque realmente os poemas dela são um pórtico para o cristianismo magnífico”, sustentou, sublinhando que existe uma relação simbólica entre a experiência religiosa e estética que tem na música, um dos seus veículos.

“Através da arte atingimos o significado profundo, esta ânsia de infinito e de perfeição”, confessou, recordando que pelo seminário passaram ainda mais alguns artistas, como o de Mafalda Veiga.

“Não se pretende com estas comemorações dar dois espetáculos. O objectivo passa por avivar a religiosidade de cada um, transformando este momento num acontecimento de comunhão”, acrescentou.

Sobre o futuro da Igreja, Rodrigo Mendes reconheceu que o Papa Francisco veio conferir uma nova dinâmica na forma como esta vive os problemas da família e dá resposta aos inúmeros problemas com que se vê confrontada.

“A função da Igreja é ir nesse sentido. Foi assim que Jesus Cristo se inscreveu e se inscreve na sociedade, potenciando até ao infinito esta necessidade de libertação que as pessoas vivem”, avançou, defendendo uma Igreja aberta que pugne pela o respeito da dignidade e da integridade da pessoa.