Houve acidentes, carros em contra-mão, condutores que não pararam nas passadeiras e que desobedeceram à ordem de paragem da GNR e até multas. Mas grande parte dos 43 alunos do 4.º ano da Escola Básica de Duas Igrejas, em Paredes, procurou cumprir as regras de trânsito. Durante cerca de duas horas assumiram diferentes papéis. Foram condutores, peões e também militares da GNR.

Numa pista à sua medida, na Escola EB 2,3 de Cristelo, as crianças puderam pôr em prática aquilo que já tinham aprendido na sala de aula.

Conhecem as regras, mas muitos infringiram-nas

Sob o olhar atento dos pequenos guardas, os condutores e os peões, também eles de palmo e meio, iam circulando. Nem sempre cumprindo todas as regras, como eles próprios admitem. Houve alturas em que a brincadeira levou a melhor sobre a seriedade da mensagem que a actividade tentou passar.

“Quem é que ainda não foi polícia?”, perguntava-se. “Eu quero ser polícia!”, respondiam logo vários alunos em coro. “Eu vou ser condutora e tu podes ser o meu peão”, brincavam outras duas crianças.

Os papéis foram-se alternando, para saberem o que fazer em cada situação. “Boa tarde senhor condutor. Os seus documentos, por favor. Sabe porque é que o mandei parar? Porque não parou na passadeira para deixar passar o peão”, explicava Pedro Lopes, de nove anos, ao colega condutor, que mandou encostar, quando assumia o papel de um elemento da GNR. Para ele a actividade valeu a pena. “Já aprendi a andar nos carros, a atravessar passadeiras e a ser polícia. Conduzir foi fácil, mas sofri um acidente. Uma amiga bateu contra mim, mas ninguém se magoou”, conta. O menino de Duas Igrejas assegura conhecer as principais regras de trânsito. “O STOP é para parar, há os sinais para contornar rotundas e na estrada deve-se circular sempre pela direita”, explica, referindo que, quando anda de carro com os pais, nem todos respeitam o código da estrada, o que é “grave”. “As pessoas podem ser atropeladas. Eu quando vou à passadeira olho sempre para um lado e para o outro e só depois atravesso”, garante.

A pequena Inês Barbosa, também de nove anos, começou de forma atribulada. “Não cumpri algumas regras no início. Andei em contra-mão e em excesso de velocidade”, admite. Mas depois procurou cumprir. “A experiência foi boa. Foi como se já tivéssemos carta de condução e fôssemos grandes e isto fosse o futuro. Pareceu que estávamos na vida real”, sustenta a aluna. “Gostei de ser condutora, mas não vi um sinal de proibido e tive de fazer marcha atrás. E também gostei de ver os polícias a agir. Ser peão também foi divertido”, resume. Apesar da tenra idade, Inês reconhece a importância destes ensinamentos. “É importante aprendermos agora e já nos vamos habituando para o futuro. O meu pai cumpre sempre as regras, mas já vi pessoas a passar no vermelho. É perigoso”, diz.

Para Rita Marques, de oito anos, o papel mais interessante de assumir foi o de GNR. “Passei uma multa e mandei-os encostar três vezes. Um estava na faixa errada e os outros não pararam na passadeira”, justifica. “Não é fácil ser polícia. Nem toda a gente obedece”, conclui a menina. A aluna diz que ser condutor também foi divertido, mas que apanhou também três multas por infringir regras, apesar de as conhecer. “Gostei desta actividade. Foi divertida e aprendemos o que fazer quando formos grandes”, atesta a aluna de Duas Igrejas.

GNR explica e desmistifica

Cecília Silva, professora, concorda. “Eles adoram isto. Viemos a pé até aqui e a caminhada foi fenomenal. Na escola já leccionamos os sinais de trânsito e aprenderam que têm de respeitar os peões, por exemplo. Isto é importante para a cidadania e eles percebem melhor quando vivem isto na primeira pessoa. Depois ainda vamos voltar a abordar o tema em sala de aula. Isto é lúdico e estão a aprender. Todas as crianças deviam passar por isto”, defende a docente.

A acção de prevenção rodoviária, inserida na Semana Europeia da Mobilidade promovida pela Câmara de Paredes, contou com a dinamização de elementos do Núcleo Escola Segura da GNR de Penafiel. O programa inclui idas às escolas para sessões teóricas, onde explicam o que é ser condutor, um peão e um ciclista. Depois há acções em que interagem na prática com condutores. O objectivo da GNR também é desmistificar o papel dos guardas e mostrar que são a pessoa em quem podem confiar. A meta é também que as crianças apreendam as regras e chamem a atenção aos pais quando não as cumprem.

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