Paredense foi considerado um dos profissionais de TI mais influentes de Portugal

Miguel Teixeira é natural de Sobreira e é agora candidato a “European CIO of the Year”. Evento realiza-se em 2020

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Foto: DR

Miguel Teixeira, natural de Casconha, freguesia de Sobreira, Paredes, foi distinguido, este ano, como um dos profissionais de TI (tecnologias de informação) mais influentes do país, no “CIO of the Year” 2019, da responsabilidade da CIONET Portugal. Estes prémios reconhecem o papel destes “CIO” e a sua aposta no aumento da competitividade das empresas através das tecnologias de informação e comunicação, sendo avaliado o desempenho do próprio profissional, mas também as realizações da sua equipa.

O paredense, engenheiro electrotécnico com pós-graduação em Gestão da Informação, que trabalha na Renault Cacia, em Aveiro, vai agora, no início do próximo ano, representar o país junto dos seus pares europeus, sendo candidato ao “European CIO of the Year”.

“Este prémio, no fundo, reconhece não esforços individuais, como poderia transparecer pelo título, mas sim a dedicação de muita gente e de muito trabalho, que tenho apenas o prazer de representar”, salienta Miguel Teixeira, de 49 anos. Mas o reconhecimento traz ao paredense “muita responsabilidade e um reforço no compromisso diário” com ele próprio e com aqueles com quem coopera, assume.

Acima de tudo, diz-se apaixonado pela profissão. “Amo o que faço. Não me vejo a fazer nada em que não possa aprender todos os dias. O mundo tecnológico permite-me isso e dá-me muito gozo descobri-lo passo a passo”, afirma o paredense.

Moldado pela influência do pai e pelos valores da família

Miguel Teixeira é “proveniente de uma família humilde”, com raízes nos lugares de Alvre, pela parte do pai, e no de Casconha, pela parte da mãe, ambos em Sobreira. Assume que, a constante procura por uma vida melhor, que testemunhou nos pais, o influenciou e lhe moldou o perfil, fazendo-o “estar sempre à procura de desafios e de sair da zona de conforto”.

O paredense, repartiu a juventude entre a aldeia, onde passava os tempos livres, e a cidade do Porto, onde estudou. “Um desafio interessante e que muito contribuiu para saber lidar com situações de adaptação. Na cidade era o miúdo da aldeia. Na aldeia, era o miúdo da cidade. Um imigrante itinerante”, comenta.

No 11.º ano, impulsionado por uma professora, descobriu “uma paixão enorme pela matemática”. Graças a ela, chegou aos 20 valores na disciplina, no 12.º ano. Ainda assim, considera que foi apenas “um bom aluno, sem ser extraordinário” em termos de notas.

Depois de terminar o ensino secundário, foi estudar Engenharia Electrotécnica na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, curso que terminou em 1995. Faria também uma pós-graduação em Gestão de Informação na Faculdade de Engenharia de Universidade do Porto, em 2003.

A electrotecnia e esse gosto por perceber como as coisas se constroem, confessa, “era um sonho de menino” que lhe veio por influência do pai. Desde cedo começou a “meter os dedos nas tomadas” e viu-se impulsionado por pequenos protótipos de um curso de rádio e televisão amador por correspondência e outros pequenos materiais da Força Aérea do tempo da guerra colonial que o seu pai – José Costa Teixeira -, antigo paraquedista, tinha deixado.

Da juventude ficou-lhe essa paixão por aviões e por voar e o sonho – que ainda não concretizou – de saltar de paraquedas. Fez desporto, tendo feito parte da primeira equipa de hóquei em patins de Sobreira. “Jogava bem, mas apenas nos treinos”, brinca.

Já na infância e adolescência sentia que “queria fazer coisas e orientar”, mas nunca assumiu posições de líder. Isso haveria de vir mais tarde.

Já trabalhou em várias empresas e agora passa o dia a falar inglês, francês e espanhol

Quando questionado sobre o seu percurso profissional, Miguel Teixeira diz que começou o seu “a ‘apertar parafusos’ numa pequena empresa de micro-informática”. Mas logo saltou para uma grande empresa têxtil como analista de sistemas informáticos. A partir daí trabalhou em várias indústrias, nas áreas de redes e comunicações, hardware, software e, depois, como responsável de sistemas de Informação de várias empresas, desde o têxtil, ao alimentar e metalúrgico.

Desde que chegou ao sector automóvel nunca mais saiu. Na Renault Cacia ocupou várias posições, sempre ligadas aos sistemas industriais. Esteve em França, durante três anos, na sede técnica do Grupo Renault, onde coordenou uma equipa de âmbito internacional ligada aos sistemas de pilotagem para fábricas de carrosseria-montagem com centro de desenvolvimento offshore na Índia. Regressou depois a Portugal como director de Sistemas de Informação.

Em Março deste ano, assumiu as funções de Digital Transformation Officer para a Europa, fora de França, onde o Grupo mantém instalações industriais (Portugal, Espanha e Eslovénia) com seis fábricas, explica.

Trata-se de “uma função transversal, com muita diversidade intercultural, que envolve mais de 20 pessoas”. Isso faz com que durante o dia fale pouco português. “Divido-me entre o francês, inglês e espanhol. Por vezes, todas as línguas juntas ao mesmo tempo”, comenta.

Tecnologias de informação trazem ganhos de produtividade

Depois de anos de pouco visibilidade e reconhecimento, os profissionais das tecnologias de informação tiveram de se transformar e de se aproximar dos diferentes negócios, salienta. Até porque, as novas tecnologias e a globalização vieram gerar mais produtividade e desafios, como a cibersegurança e a desmaterialização do local de trabalho.

“É apaixonante, mas é necessária literacia digital, rapidamente e em massa, para todas as gerações”, defende, sustentando que “o mundo é agora pilotado por dados em massa e por um potencial enorme com a inteligência artificial, decisões descentralizadas a máquinas, predição, prescrição e com um cliente que deseja produtos cada vez mais costumizados unitariamente”.

Também na Renault Cacia, e nas suas funções, foi preciso que os processos produtivos mudassem para “se adaptarem rapidamente a estes desejos de informação imediata acessível de qualquer lado, produtos e processos rastreados ao detalhe em que cada produto é na realidade individual e único”.

“A estratégia é claramente centrada na Pessoa, na sua qualidade de vida e bem-estar no posto trabalho. A introdução de metodologias ágeis e iteractivas permitem que o colaborador acompanhe a transformação digital e que a sua experiência enquanto utilizador sirva para modelar e orientar o produto final”, acredita Miguel Teixeira.

Por outro lado, “a introdução de processos automatizados e de tecnologias de nova geração em que tudo comunica com tudo, bem e no bom momento, permitem ganhos muitos significativos de produtividade nomeadamente na redução de tempos de ciclo para produzir o mesmo; na redução de não conformidades e seu decorrente processo de detecção; no rendimento operacional; nos desperdícios de tempo das equipas em tarefas de valor não acrescentado; menores stocks intermédios (são euros mortos e parados) e melhor sincronismo entre processos, etc”, explica. Resumindo: a meta é “fazer mais produto, bom, em menos tempo”, com ganhos monetários e de produtividade.

Da sua experiência, o paredense diz-se convicto de que o mundo está a atravessar uma revolução que vai continuar a dar “mais qualidade de vida no trabalho, trabalhando menos e com mais produtividade”, contribuindo para isso as tecnologias aditivas para a indústria, o 5G e a inteligência artificial. “No mundo automóvel significa a concretização da condução autónoma, a verdadeira montra de todos os aceleradores tecnológicos desta vaga”, comenta. Sentencia ainda o fim do “emprego para a vida”, apontando que o trabalho do futuro exige “profissionais com elevadas competências, elevada especialização, constante aprendizagem e vários ciclos de reconversões profissionais ao longo da vida”, já que as tarefas rotineiras serão feitas por máquinas.

Maior prémio é “aprender mais e crescer como profissional e como pessoa”

É dentro deste contexto de trabalho, com uma equipa focada na transformação digital, que surge a nomeação para o prémio CIO of the Year da CIONET Portugal. “Este prémio, no fundo, reconhece, não esforços individuais como poderia transparecer pelo título, mas sim a dedicação de muita gente e de muito trabalho, que apenas tenho o prazer de representar. Não é possível ir longe e rápido sem colaboração, parceiros e sobretudo bom entendimento e compreensão entre todos. São ambientes heterogéneos, diversos e muito gratificantes”, frisa Miguel Teixeira.

Não valorizando tanto o prémio em si, o paredense valoriza mais a oportunidade que teve de conhecer gente interessante, discutir novas ideias e “de aprender mais e crescer como profissional e como pessoa”. “Esse sim é o meu prémio e deixa-me muito feliz”, afirma.

O facto de ser apontado como um dos profissionais de TI mais influentes do país não o envaidece. “Acredito que existem profissionais muito mais influentes e com o raio de acção muito maior do que o meu”, diz, alegando que o título apenas traz “muita responsabilidade e um reforço no compromisso diário comigo e com aqueles que cooperam comigo”, sendo um reconhecimento para a equipa da Renault Cacia e do Grupo Renault.

A representação de Portugal no “European CIO of the Year” deverá acontecer em Fevereiro de 2020. “Estou orgulhoso, porque representa sobretudo uma atitude de resiliência e de afirmação colectiva, dentro do Grupo obviamente, mas também fora dele”, sustenta em relação a esta partilha e competição com pares europeus da área.

Momentos de reflexão ao volante entre Matosinhos e Cacia

Miguel Teixeira é casado, tem dois filhos, e reside em Matosinhos. Garante que a família é o seu “porto de abrigo” que lhe dá força e alegria no regresso a casa. “Sou afortunado quanto isso e faço questão que o saibam, todos os dias. Mesmo aquele que já não pode testemunhá-lo, sabe e de certa forma orienta-me”, acredita o natural de Sobreira.

Todos os dias faz a viagem entre Matosinhos e Cacia, mas não considera essas horas perdidas. “São momentos que reservo para mim, para reflexão. Resolvo e decido muitas coisas ao ‘volante’. Para além disso, fico com tempo para estar a par das notícias e ouvir música. Mas até este conceito está ameaçado, pois parte do meu trabalho posso realizá-lo de casa ou de qualquer outro lugar e assim tenho de encontrar outros mecanismos de introspecção de que necessito para carregar baterias”, salienta.

Apesar de ser apaixonado pelo que faz, diz que no futuro pode trabalhar em qualquer área. “A minha vida gere-se por valores. Onde existir humildade, honestidade, transparência, colaboração e bons desafios é um bom lugar para eu estar”, conclui, dizendo que, para já, só pensa nos próximos passos do desafio que abraça na Renault Cacia.