Não tínhamos, mas agora temos

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Na última crónica que aqui escrevemos, e que titulamos de “Não temos, mas já tivemos”, pensamos que na crónica seguinte continuaríamos a desfilar um conjunto de assuntos que demonstrariam à saciedade que hoje o concelho está pior do que há 30 anos.

Ao mesmo tempo tentaríamos provar – não seria difícil – que o rumo seguido agora pelo executivo municipal, ao contrário do que esperávamos e desejávamos, não difere grande coisa nem é melhor do que os anteriores. Melhor dizendo: o governo local de Paredes só mudou de mãos. Passou das mãos do PSD para as do PS.

Quanto ao rumo? Se os outros não tinham, estes não sabem por onde ir.

Qualquer raciocínio que ultrapasse a velha tricotomia do bacoco e serôdio concelho em que as três maiores freguesias (Rebordosa, Lordelo e Castelões de Cepeda) se digladiam para ver qual a que mais prejudica a outra, nenhuma delas ganha e perdem também as restantes freguesias do concelho. O atraso, agora quase estrutural, do concelho de Paredes em relação a muitos dos vizinhos deve-se, em parte substancial, a essa bizarria.

Acrescente-se a isto a incompetência de alguns eleitos, a submissão (ou talvez mais do que isso) aos interesses dos especuladores imobiliários e a passividade dos eleitores para ficarmos perto da nossa verdade.

Mas são outros os motivos que nos fazem escrever estas palavras hoje, embora se prendam com o que se enuncia atrás. Queremos falar do futuro.

Há hoje uma plêiade de jovens, uns mais jovens do que outros, alguns já com assento nos órgãos eleitos e outros com interesse pela coisa pública que poderão constituir-se como o laboratório capaz de descodificar o genoma deste concelho. Sem o contributo deles o futuro de Paredes perde-se nas intrigas do edifício da autarquia, por mão daqueles que se julgam no Palácio de Versalhes e por ignorância e à falta de pão só saberão plagiar Maria Antonieta: Não têm pão? Comam brioches!

Usaremos três exemplos que temos seguido mais de perto. São mulheres e, ultimamente, têm merecido algum mediatismo: Mariana Machado Silva (PSD), Ana Raquel Coelho(CDS) e Filipa Mendes da Silva(PS).

Quem tenha assistido às suas intervenções nos órgãos autárquicos, na comunicação social ou até nos “webinares” em voga, não só se orgulha dos seus desempenhos como começa a acreditar no crescimento de uma geração que se interessa pelo bem público e que reúne as competências sociais e as habilitações necessárias ao novo dirigismo político.

Lembramo-nos destas três jovens, mas podíamos ter referido a Cátia Rúben, o Ricardo Santos ou até alguém menos jovem, mas ainda novo como o Paulo Reis ou o Nuno Serra ou o Paulo Costa. E que me perdoem aqueles – e serão muitos – cujas capacidades não serão menores, mas que não conhecemos ou ainda não se decidiram pela cidadania ativa, pelo menos com a exposição dos nomes que citamos.

Não se pense, contudo, que será fácil a sua afirmação. Os partidos políticos estão cheios de gente bem instalada na política e na vida pela política que se tornaram poderosas máquinas trituradoras, autênticos monstros da destruição dos direitos dos cidadãos, viciados em lamber botas e que grunhem em cada vez que um osso não cai nos seus tachos.

Não se pode, portanto, queixar o concelho de não ter gente capaz. Hoje, há quadros capazes de dar um rumo ao concelho. Resta saber se os quadrados dirigentes partidários estão na disposição de prescindirem dos seus privilégios para darem lugar aos melhores. Não basta dizer que as novas gerações são mais habilitadas. É preciso dar-lhes oportunidades.

Lembrem-se todos que o exercício da política enquanto atividade nobre não se esgota nos partidos políticos e as listas de cidadãos, com ideologia, mas independentes e até à revelia dos partidos, cada vez fazem mais sentido em eleições autárquicas. Os partidos políticos nem imaginam o poder que têm as cidadãs e cidadãos. Nem os partidos nem os próprios.

Há 30 anos não tínhamos quadros políticos, mas agora temos.

 

P.S.:  De fora desta análise deixamos, obviamente, o presidente do CDS/Paredes, apesar de já ocupar um lugar na direção nacional de um partido.