O Teatro Jangada, com sede em Lousada, manifestou-se ontem, a par com outros agentes culturais nacionais, em frente à Assembleia da República (AR), contra a não inclusão no financiamento dos apoios sustentados às artes, avançados pela ministro da Cultura.

Pedro Adão e Silva rejeitou esta quarta-feira, numa audição parlamentar, que iriam ser disponibilizadas mais verbas, admitindo, no entanto, discutir o modelo de distribuição de verbas dos próximos concursos.

Para a única companhia profissional da região, que ficou de fora destes subsídios atribuídos pela ​​​​​​​Direcção-Geral das Artes (DGARTES), ao abrigo do Programa de Apoio Sustentado às Artes 2023-26, esta é uma postura cheia de “incongruências”.

A companhia Jangada apelida a política do Governo, no que concerne a esta matéria, de “injusta”, traduzindo-se num “tratado de incongruências, porque “propostas idênticas de companhias de teatro diferentes merecem considerações opostas – críticas para umas, elogios para outras –, apreciações favoráveis com classificações penalizadoras, desrespeito pelas regras do concurso”.

Sobre este último ponto, contesta os critérios do concurso que “limitava a 40% o valor máximo do financiamento para cada região”, só que “Lisboa leva 44%”.

O grupo vai mais longe e refere que a presente avaliação foi “meramente burocrática, totalmente arbitrária e muito contraditória”, e que vai “impedir a companhia de aceder ao financiamento governamental durante os próximos quatro anos”, pondo em causa esta estrutura.

Assim, não está a ser cumprido o tão “apregoado apoio ao interior”, o “combate ao despovoamento”, “eliminação das assimetrias regionais”, “promoção da inclusão social”, “acesso aos bens culturais”, não passando de “propaganda que emoldura os discursos oficiais”.

Entretanto, o ministro da Cultura disse, na audição na AR, que percebe a “insatisfação e o descontentamento das estruturas apoiadas que perderam apoio”, justificando que lhe cabe apenas “tomar decisões que tenham racionalidade que não sejam baseadas no caso concreto e que contrarie a discricionariedade que existe nas decisões das políticas públicas”.

Sobre os apoios, o governante avançou que as estruturas artísticas que vão receber apoio na modalidade bienal do concurso de apoio sustentado às artes na área da Programação serão 15 e não 13, como constava dos resultados finais.

E porque a quota regional no norte não estava a ser cumprida, Pedro Adão e Silva anunciou que há duas entidades propostas para a apoio como a Casa de Mateus, de Vila Real, e Relevo Residual, de Vila Nova de Gaia, ambas vão ter um apoio de verbas, afirmou o ministro. A Jangada ficou de fora.

Recorde-se que o grupo existe há 23 anos e é a única companhia profissional da região do Tâmega e Sousa.

Fundada em 1999, com o objetivo de elevar o nível cultural da região geográfica onde está inserida, estando aquartelada no Auditório Municipal de Lousada, onde tem o seu espaço de trabalho, artístico e administrativo.

Ao longo dos anos de projecto, a companhia tem vindo a destacar-se no panorama teatral português, tendo-se apresentado nas melhores salas de norte a sul de Portugal e no estrangeiro, levando a que em 2005 tivesse sido agraciada com a medalha de mérito municipal, na área da cultura.

A organização de certames, como o Folia – Festival de Artes do Espetáculo de Lousada e Foliazinho, são da responsabilidade deste grupo que se tem vindo a destacar no panorama dos festivais tradicionais de teatro, por ter assumido, desde a primeira edição, “uma programação multidisciplinar”, uma vez que ali se juntam o teatro, a música, a dança, as marionetas e as artes plásticas.

A nível internacional tem marcado presença em Espanha, França, Lituânia, Brasil, Estados Unidos da América, México, China e Grécia.