O jornalista portuense Manuel Vitorino vai organizar um ciclo de cinema na Cadeia de Paços de Ferreira. Entre terça e quinta-feira, dias 10, 11 e 12 de Maio, 40 reclusos terão a oportunidade de assistir, diariamente, a filmes alusivos à liberdade (ou falta dela), numa sessão interactiva que pretende dar-lhes uma tarde diferente e com novas aprendizagens.

Manuel Vitorino acredita que ainda há um longo caminho a percorrer no que toca à reinserção social destes homens e espera poder replicar este projecto noutros estabelecimentos prisionais do país.

 

Três filmes e três facetas da liberdade

Foi há cerca de dois anos, quando viu o filme “Cesar Deve Morrer”, dos italianos Paolo e Vittorio Taviani, que a ideia de criar o projecto “Cinema na Prisão” começou a desenvolver-se na mente do jornalista do Porto. O filme, um dos que vai ser exibido neste ciclo de cinema, foi rodado numa prisão de alta segurança italiana, tendo como actores prisioneiros. “Um deles, que cometeu crimes monstruosos, disse, depois da experiência: “A cela é agora a minha prisão”.

Apaixonado pela arte cinematográfica, Manuel Vitorino guardou esta frase e ficou a pensar que seria interessante levar o cinema até à prisão. Contactou os responsáveis pelo estabelecimento prisional de Paços de Ferreira, que acolheram a ideia.

O portuense criou então um ciclo que tem como fio condutor o tema da liberdade mas em três facetas diferentes. Além do filme “Cesar Deve Morrer”, baseado na obra de Shakespeare, que retrata a falta de liberdade numa prisão, será exibido “Taxi”, do iraniano Jafar Panahi e vencedor do Urso de Ouro de Berlim, que mostra um país sem liberdade, onde tudo é vigiado e em que “todo e qualquer atropelo às leis decretadas pelo governo de Teerão são punidos severamente, umas vezes com a prisão, outras com o assassínio cometido em nome dos superiores interesses da nação”. No último dia, o filme em exibição será Roma, de Federico Fellini, que é um hino à liberdade.

 

“A prisão devia ser mais humanizada”

Num mundo diferente, dentro dos muros das prisões, cabe aos organismos que tutelam a administração da Justiça “o dever de incentivar os reclusos à reinserção social e tudo fazer para o cárcere seja, também, uma janela de oportunidades, aprendizagem, novas práticas com vista ao conhecimento e enriquecimento individual”, acredita o jornalista. “A prisão devia ser mais humanizada. A nível global, ainda não há uma cultura forte de reinserção social”, acrescenta, referindo que há bons projectos, mas que devia haver mais oportunidades de levar poesia, teatro ou cinema até às cadeias. “Há um longo caminho a percorrer”, defende.

Nos próximos dias, durante três a quatro horas, Manuel Vitorino vai partilhar a biblioteca da Cadeia de Paços de Ferreira com cerca de 40 reclusos. Promete uma tarde diferente, com descobertas sobre cinema, numa linguagem simples e em tom informal, em que o objectivo será partilhar ideias e analisar os filmes e as mensagens que transmitem.

“Espero que a recepção seja positiva e que a experiência seja gratificante”, afirmou o organizador.

O objectivo é levar, depois, este projecto a outras prisões do país.

 

Quem é Manuel Vitorino?

Manuel VitorinoManuel Vitorino nasceu em Paranhos, no Porto. Frequentou o curso de História, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e possui a Pós-Graduação em Direito da Comunicação, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

Durante cerca de 25 anos trabalhou como jornalista no O Primeiro de Janeiro e no Jornal de Notícias. Assumiu o papel de docente em várias escolas do ensino oficial e particular, entre as quais, a Escola de Formação Profissional Árvore. Nos anos 70, fez parte do Cineclube do Porto e, mais tarde, ajudou a fundar o Cineclube do Norte, sendo responsável também por programar vários ciclos de cinema em instituições culturais da cidade.

Em 2013, publicou o livro “Guiné-Bissau, um país adiado/Crónicas”, na Pátria de Cabral, resultado de um mês de voluntariado realizado nesse país. Este ano, será editado um livro de crónicas sobre o Porto.

Além de ser autor do blogue Mautempocanal.blogspot.com, Manuel Vitorino escreve com regularidade no jornal digital Porto24, a maioria das vezes sobre viagens.