Joaquim Maia, utente da Associação de Desenvolvimento S. Mamede de Canelas, em Penafiel, é um doente politraumatizado que tem o sonho de assistir a um jogo do clube do seu coração, o FC Porto, e visitar o museu dos dragões.

A instituição onde se encontra desde 2011 tem feito todas as diligências e já encetou vários contactos com o clube portista no sentido de articular esforços que permitam a este utente assistir a um jogo, ver “in loco” e “beber” da magia e do ambiente que é  estar num estádio como o do FC Porto.

Tudo faz parte de um projecto intitulado “Um Dia Sonhei” que iniciou em 2017, com a missão de dar maior qualidade aos utentes desta associação, instituição particular de solidariedade social, cuja missão principal é o apoio à terceira idade. e que já possibilitou que outros utentes pudessem ver os seus sonhos concretizados.

Nunca foi ao estádio mas é fã do clube desde criança

Natural de Fonte Arcada, Penafiel, Joaquim Maia é conhecido dentro da associação como um utente participativo, pro-activo e que gosta de colaborar com as actividades que são desenvolvidas dentro da instituição.

Um acidente de trabalho retirou-lhe, contudo, a mobilidade, passando a circular numa cadeira de rodas, sendo considerado um doente politraumatizado que necessita de cuidados permanentes.

Apesar das dificuldades em comunicar, Joaquim Maia não perdeu a esperança de ver o seu sonho cumprido e de estar, com os adeptos, no estádio, no qual nunca entrou.

“Sou um fã do clube desde criança e como portista esse seria o meu maior sonho”, disse, reiterando que à medida que o tempo passa, a expectativa de ver o sonho cumprido ganha novos contornos.

“Nunca estive nem no antigo estádio das Antas nem no actual estádio do Dragão, pelo que tenho agora essa hipótese. Sei que já foram feitos vários contactos, agora é só aguardar”, referiu, salientando que esta seria, também, uma prenda e uma boa notícia quer para a sua esposa quer para o seu filho, ambos adeptos e fãs do FC Porto.

“Não me interessa a equipa que vou ver. Pode ser uma qualquer. Gostava é que o meu sonho se concretizasse”, atalhou, sustentando que enquanto utente da associação já cumpriu um sonho que foi o de jantar com a sua esposa, que não está com ele no lar, um dia diferente e que jamais esquecerá.

“Aqui sinto-me muito bem, sou acarinhado por todos”, garantiu, sustentando que está a trabalhar numa peça, faz parte do elenco, que vai ser apresentada, hoje, Dia dos Namorados.

A presidente da Associação de Desenvolvimento S. Mamede de Canelas, Laurinda Coelho, admitiu ser uma questão de tempo até Joaquim Maia ver o seu sonho concretizado.

“Já realizamos um conjunto de contactos com o clube no sentido de lhe dar a conhecer a associação e o sonho do nosso utente. Estamos em contacto, a agilizar esforços no sentido de concertar a ida ao Porto, até por causa dos horários. Gostaríamos que fosse num dia à tarde, mas se não for possível levá-lo num dia à tarde, irá na mesma ao Dragão nem que seja à noite. É só uma questão de articularmos”, expressou, sublinhando que tudo se irá conjugar.

“QUERÍAMOS FAZER QUALQUER COISA EM PROL DOS NOSSO UTENTES E COMEÇAMOS  A FALAR COM OS UTENTES sobre OS SONHOS QUE GOSTAVAM AINDA DE CONCRETIZAR. E DAÍ NASCEU ESTE PROJECTO QUE PERMITIU JÁ REALIZAR A VONTADE DE ALGUNS IDOSOS”

Falando do projecto  “Um Dia Sonhei” que iniciou em 2017, Laurinda Coelho esclareceu que, apesar do pouco tempo de vida, tem sido um sucesso, com um grau de adesão dos utentes bastante significativo, contribuindo para motivar e promover o enriquecimento activo de muitos idosos do lar.

“A instituição já realizou vários sonhos. Um dos que teve mais impacto, pela sua dimensão, foram as bodas de diamante  de um casal que tínhamos na instituição que nunca tinha tido uma festa de casamento e realizamos uma festa religiosa com a família e um convívio que contou, também, com alguns amigos, os filhos, os netos e os funcionários da instituição”, avançou, acrescentando que o projecto nasceu da vontade da associação promover o bem-estar dos seus utentes.

“Queríamos fazer qualquer coisa em prol dos nosso utentes e começamos a falar com eles com o objectivo de conhecer os seus anseios, as perspectivas e os objectivos que tinham e os sonhos que gostavam ainda de concretizar. E daí nasceu este projecto que, como disse, permitiu já realizar a vontade de alguns idosos. É evidente que se nos pedirem uma viagem de avião a associação não tem capacidade para concretizar tal desiderato. Só se tivéssemos um grande patrocinador ou mecenas”, afiançou.

“ESTAMOS SEMPRE RECEPTIVOS A ENVOLVER A COMUNIDADE NOS NOSSOS PROJECTOS, A ACOLHER PESSOAS QUE QUEIRAM DE FORMA VOLUNTÁRIA PROMOVER ACTIVIDADES JUNTO DOS NOSSOS uTENTES OU ATÉ MESMO RECEBER GRUPOS”

Laurinda Coelho realçou, também, que no âmbito deste projecto, a instituição conseguiu satisfazer o sonho de uma utente, que, entretanto, faleceu, grande admiradora do artista Zé Amaro que se deslocou de propósito à instituição.

“A senhora era uma grande admiradora do artista e conseguiu ver o seu sonho concretizado. O artista esteve na associação, cantou vários temas e conviveu com a senhora e com os demais utentes”, afiançou, recordando que estas actividades têm tido a melhor aceitação quer dos utentes quer das famílias e da própria comunidade.

“Estamos sempre receptivos a envolver a comunidade nos nossos projectos, a acolher pessoas que queiram de forma voluntária promover actividades junto dos nossos utentes ou até mesmo receber grupos, ranchos folclóricos, teatro e outras actividades que contribuam para proporcionar momentos de alegra e contribuir para a qualidade de vida dos nossos utentes. A última actividade foi o cantar as janeiras. A nossa psicóloga tem formação em música e trabalha com eles, essa vertente, contribuindo igualmente para o seu enriquecimento activo”, sublinhou, mostrando-se satisfeita com o “feedback” que o projecto tem suscitado quer junto dos utentes, quer dos familiares e comunidade.

A directora da Associação de Desenvolvimento de S. Mamede de Canelas assumiu que o seu objectivo passa por continuar a promover o projecto, fomentando o envelhecimento activo e fazer deste projecto um amigo do idoso.

Questionada sobre as instalações e a capacidade para acolher mais utentes, Laurinda Coelho admitiu que a instituição se depara com limitações de espaço. “O lar tem 43 utentes. É o máximo. Teríamos mais utentes se tivéssemos mais espaço. Temos uma lista de espera bastante significativa. O espaço é limitado e não podemos ultrapassar este número. Não podemos pensar e alargar muito, porque já temos muitas preocupações. É difícil gerir uma casa destas, as verbas não abundam. A comparticipação do Estado é escassa e as exigências são inúmeras”, adiantou, reforçando que o Estado deveria olhar para estas instituições de outra forma.

“Somos uma instituição particular de solidariedade social, mas estamos a substituir-nos ao Estado. Compete ao Estado zelar pelos seus cidadãos e pela criação de condições que lhes permitam ter qualidade de vida”, confessou.

Além da valência do lar, a associação dispõe do serviço de apoio ao domicílio, prestando assistência a 30 utentes.