Estar internado no hospital numa altura em que as visitas estão suspensas devido à pandemia da COVID-19 não é fácil, nem para o doente nem para a família. Apercebendo-se desta realidade, alguns enfermeiros do Hospital Padre Américo começaram a fazer video-chamadas dos seus próprios telemóveis, sobretudo para que os mais idosos e sem acesso às tecnologias pudessem matar as saudades.

“A moda” pegou e, agora com telefones dedicados oferecidos, são realizadas dezenas destas chamadas de vídeo que acalmam os medos e angústias, não apenas na Unidade de AVC, onde o serviço nasceu, mas também na Medicina Interna I e no Bloco de Partos.

A meta, explica Carlos Alberto, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, é alargar esta ideia a todo o hospital e mantê-la mesmo depois de ultrapassada a pandemia.

“Isto dá mais ânimo e motivação a quem está internado. Ajuda na recuperação e mantém os laços familiares presentes”

As emoções estão à flor da pele, para doentes, famílias e profissionais de saúde. Por isso, não é de estranhar que haja lágrimas com frequência. Foi o caso de uma das primeiras chamadas realizadas, na semana passada, conta Susana Queirós, enfermeira-chefe da Unidade de AVC do Hospital de Penafiel: “As famílias ficam sempre emocionadas e os doentes sentem-se mais seguros. A primeira video-chamada com o telemóvel oferecido foi para uma família de um doente que fazia anos nesse dia. A filha cantou-lhe os parabéns e ficamos os três a chorar. O doente só dizia obrigado”.

Foi a partir dela que germinou a ideia que foi crescendo pelo hospital. “Quando as pessoas ficaram impedidas de visitar os familiares internados, devido às restrições impostas pela pandemia Covid-19, os enfermeiros começaram a pensar em alternativas. Fazíamos chamadas dos nossos telemóveis e com os nossos dados, mas entretanto o hospital passou a ter wi-fi e lembramo-nos de lançar o apelo para que nos oferecessem um telemóvel. Apareceram logo dois”, resume.

Passou então a haver um “serviço” regular de video-chamadas. Basta à família fazer o pedido através de uma página de Facebook e depois é feito o contacto. Na última semana, só na Unidade do AVC, houve dezenas de chamadas realizadas.

Se há quem aproveite para matar algumas saudades e ver como está a saúde do familiar há casos mais emotivos. Como o da neta que se conseguiu despedir do avô que faleceu momentos depois, ou de filhos que não viam os pais há muito.

“Isto dá mais ânimo e motivação a quem está internado. Ajuda na recuperação e mantém os laços familiares presentes. A quem é da família dá segurança. Uma coisa é dizermos que estão bem, outra coisa é vê-los e falar com eles. Estamos a falar de sobretudo idosas, acima dos 70 anos, que não sabem lidar com as novas tecnologias. Os jovens fazem os seus próprios contactos”, explica Susana Queirós.

“Foi um alívio poder vê-la. Foi uma emoção muito forte”

Alexandra Ribeiro, que vive nos Açores, foi uma das familiares que já recorreu a este serviço para falar com a mãe, de 79 anos, do Marco de Canaveses.

“A minha irmã disse-me que havia esta possibilidade e foi só fazer o contacto.  Falei hoje (ontem) a primeira vez com a minha mãe. Foi um alívio poder vê-la. Foi uma emoção muito forte. Foi a melhor coisinha que podiam ter feito”, diz referindo-se às video-chamadas.

Há seis meses que não a via, apesar de ter por hábito matar as saudades por telefone semanalmente.

“Isto tranquiliza-me. Nunca pensei que no meio disto tudo os enfermeiros tivessem tempo para se disponibilizar para isto. É de louvar”, afirma Alexandra.

É por estas mais-valias que o projecto de humanização se vai manter no pós-pandemia.

“Esta ideia dos enfermeiros veio responder a uma necessidade quando tiveram que fechar as visitas, no início do mês. É uma forma de manter o contacto entre doentes e famílias numa situação que causa angústia e ansiedade. Está em três serviços – Unidade de AVC, Medicina Interna I e Bloco de Partos – e vai avançar para a Cirurgia e Pediatria. Será para manter passada a pandemia e chegar a todos os doentes”, adianta Carlos Alberto, presidente do conselho de administração do CHTS.

Neste centro hospitalar os médicos também fazem consultas via telefone e video-chamada há doentes diagnosticados com COVID-19 que são acompanhados diariamente em casa pelas mesmas tecnologias, refere.