José Baptista PereiraHá quantos anos ouvimos o povo de Lordelo queixar-se da poluição do Rio Ferreira? Joaquim Mota, anterior presidente da junta, tem sido um paladino dessa luta por mais de duas décadas. Ficaram famosas as manifestações de protesto em frente à Câmara Municipal de Paços de Ferreira, proprietária e responsável pela resolução do problema das descargas poluentes da ETAR de Arreigada no Rio Ferreira. Foram duas décadas de acusações mútuas e de jogo de “ping-pong” entre as Câmaras e o governo. Nem a amizade e proximidade política do governo PSD de Passos Coelho com os municípios de Paredes e de Paços de Ferreira contribuíram para uma qualquer solução. Ano após ano as queixas e as descargas sucediam-se e os peixes mortos no rio iam invariavelmente parar às portas do município de Paços de Ferreira, levados pelos autarcas em protesto acalorado.

O problema está há muito diagnosticado e a solução mais do que conhecida mas o impasse manteve-se sem um fim à vista. Em 2013 o PS assumiu o poder em Paços de Ferreira. Herdou uma câmara endividada num contexto político de retração do investimento e a limitação legal para maior endividamento. Impossível resolver o problema sem intervenção política séria e ao mais alto nível. Em Novembro de 2015 o PS assume também o governo nacional. Reabre-se a discussão. O governo de António Costa assume que o problema é grave e tem que ser solucionado. Mas há a Lei dos Compromissos. Alguns meses depois surge a solução. Através do Orçamento de Estado para 2017 o governo abre uma janela para as autarquias que necessitam de recorrer aos fundos europeus para resolução de problemas estruturais (artigo 71º do OE 2017). Paços de Ferreira, apesar das dificuldades que todos lhe conhecemos, já anunciou que vai aproveitar essa oportunidade para solucionar o problema de Lordelo, Rebordosa e restantes territórios a montante. Afinal há boa vontade na vizinhança. Sim, porque para usufruir desses fundos o município de Paços de Ferreira terá que recorrer à banca para investir do seu próprio bolso algumas centenas de milhares de euros. Honra lhes seja feita. Tanto quanto sabemos, o projeto está pronto. A candidatura aos fundos europeus estará disponível ainda este ano. Há prazos a cumprir. Primeiro há que esperar a aprovação, depois serão os concursos para que a obra seja adjudicada. Nada é tão rápido como todos gostaríamos. Mas agora acreditamos que em 2017 teremos o problema resolvido. Esperamos que até lá não ocorram novos “acidentes” que manchem tanto esforço.

Desta vez Lisboa ouviu os recados do Vale do Sousa. E foram muitos os recados. Ainda é cedo para deitar foguetes mas temos que concordar que esta é mais uma prova de como este governo, dito da “geringonça”, se encontra disponível para ouvir e para resolver os problemas das populações. Em poucos meses se encontrou uma solução que outros não quiseram encontrar em vários anos. Honra seja feita a todos os que se fizeram ouvir pela sua persistência e resiliência, de onde destacamos Joaquim Mota cuja voz foi durante anos um espinho incómodo nas relações com os poderosos do seu próprio partido. Mas também temos que agradecer a Humberto Brito e restante executivo socialista de Paços de Ferreira que inscreveu a solução deste problema como uma prioridade do seu Município.