Apanharam chuva e frio, mas depois de terem passado, ontem, o dia à porta das instalações da Sioux Portuguesa, fábrica de calçado de Boim, Lousada, 12 homens mantiveram-se no local durante toda a noite.

Hoje, continuaram a revezar-se em frente à unidade industrial os 150 funcionários a quem ainda não foi confirmada a insolvência da empresa e que temem pelos seus direitos e pela retirada das máquinas. Esta noite a vigília repete-se e assim será até terem certezas, prometem.

Apesar de não terem salários em atrasos querem garantias. “Vamos ficar desempregados, é garantido. Só falta saber se vamos receber alguma indemnização”, acredita Liliana Ribeiro, uma das funcionárias.

“Temos duas filhas e contas para pagar e estamos com medo”

Luís Fernandes trabalha na empresa há sete anos. Fui um dos homens que passou a noite à porta da Sioux Portuguesa. Ainda não tinha ido à cama na tarde desta terça-feira. Promete voltar a ficar, hoje, à porta da unidade fabril para “salvaguardar o património” que ali existe, caso se confirme a insolvência.

“Apanhamos aqui chuva e frio de noite, mas vamos ficar aqui até quando nos derem algumas garantias ou prova da insolvência”, sustenta o funcionário de 32 anos, residente em Boim.

Tem a prestação da casa para pagar e teme a falta do ordenado. “Acho que isto vai fechar e que vou ficar desempregado. Mas achei que ia ser de outra forma e que ia haver mais respeito”, criticava.

A mesma ideia tem Vera Ferreira. “Nunca pensei que nos fizessem isto. Pelo menos falavam connosco”. Ela e o marido, que se conheceram na empresa, trabalham ali há mais de 20 anos. Não sabem como vão sobreviver. “É o nosso único sustento. Temos duas filhas e contas para pagar e estamos com medo”, assume a mulher de 39 anos, de Meinedo. “A minha mãe e o meu irmão também já trabalharam aqui. E a minha mãe foi embora em 2011, mas foi indemnizada, com tudo direitinho, não era isto que esperava desta empresa”, lamentava.

Os funcionários têm cumprido turnos rotativos junto às instalações. Mudam em cerca de quatro em quatro horas e os homens fazem as noites, por questões de segurança.

O que mais criticam é a incerteza em que os deixaram. “Estamos desesperados. Hoje não abriram a porta e ninguém falou connosco, mas estão lá dentro responsáveis da empresa. Ninguém nos confirma a insolvência”, dizia Liliana Ribeiro.

À vereadora da Câmara de Lousada, Cristina Moreira, a Sioux Portuguesa já deu ontem confirmação de que ia avançar com a insolvência.

Recorde-se que a empresa já tinha dispensado os funcionários, nas últimas semanas, por falta de encomendas. Depois pagou os ordenados na sexta-feira – não há salários em atraso -, retirou todas os letreiros identificativos da marca do edifício e, ontem, não abriu portas.

Com a ajuda da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e de um sindicato, os trabalhadores conseguiram apenas uma declaração de empresa que os autoriza a ficar em casa, “mantendo o vínculo laboral e a remuneração”. Ainda assim, até porque muitos trabalham na empresa há vários anos, têm medo de ficar sem os direitos e continuam em frente às instalações.

O Verdadeiro Olhar voltou a tentar ouvir a empresa, mas sem resposta.