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Apesar dos condicionalismos que marcam a edição do festival Literário Escritaria, em Penafiel, o homenageado deste ano, Mário Zambujal, diz-se admirado e reconhecido e esta festa “é o abraço de uma cidade inteira”.

“Este ano sou eu quem recebe este abraço e sinto que devo retribuir abraçando a cidade de Penafiel que tem dado um grande exemplo ao demonstrar que as grandes ideias culturais não têm de morar só em Lisboa ou Porto”, defendeu na conferência de imprensa realizada esta manhã.

A pandemia não levou o autor, de 84 anos, a dizer não à cidade. “Não hesitei em aceitar o convite. Não vir era dar menos importância ao festival ou ter medo da pandemia. O vir significa estar ao lado destas pessoas e um momento especial do meu trajecto como autor”, afirmou. “Este “é um momento diferente de todos os outros. Vim com muito gosto e sei que estes dias vão ficar marcados na minha agenda mental”, garantiu ainda aos jornalistas.

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À semelhança dos restantes autores que já passaram pelo evento, Mário Zambujal terá uma frase e escultura a eternizar a sua passagem pela cidade. Na frase lê-se: “Os tempos mudam mas não há máquina que substitua a natureza de um abraço”.

“O programa foi reduzido mas o carinho, a gratidão e o reconhecimento são os mesmos”

Durante a conferência de imprensa, Antonino de Sousa salientou que o Escritaria deste ano é “reconhecidamente diferente”.

“Procuramos que, no essencial, mantivesse a sua matriz de prestar homenagem a um dos grandes nomes da literatura lusófona. Este ano há uma grande aposta no online e plataformas digitais”, explicou o presidente da Câmara de Penafiel.

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Não escondeu também que a edição deste ano foi “muito ponderada”. “O mais simples era não haver Escritaria”, sustentou, frisando que resolveram manter uma edição minimalista, sempre levando em conta a segurança, para “manter o Escritaria vivo” e a chama cultural do país “acesa”.

“A cultura tem sido muito sacrificada. Esta é uma decisão mais difícil e mais exigente, que traz mais responsabilidade”, afirmou o autarca, lembrando que as manifestações com mais gente não terão lugar, nem vão andar pelas ruas ou confraternizar com os comerciantes, apesar de as ruas estarem contaminadas com a vida e obra do autor, como é habitual.

“O programa foi reduzido mas o carinho, a gratidão e o reconhecimento são os mesmos. Se calhar até mais gratidão pelo esforço que faz para estar aqui hoje”, disse Antonino de Sousa a Mário Zambujal.

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Feliz por receber este “abraço de uma cidade inteira”, o autor ressalvou a originalidade do evento. “Andei pelas ruas de Penafiel e esta multiplicidade de gestos amigos que se vêem em cada esquina, em cada momento, torna esta festa original em relação a todas as outras”, garantiu.

O autor diz já ter “70% do próximo livro na cabeça”. As suas histórias são de “de fantasia e ligeireza”. “Têm a ver com a minha forma de encarar a vida”, referiu. “Escrevo histórias do que não aconteceu mas podia ter acontecido”, acrescentou ainda.

Esta é a 13.ª edição do Escritaria. O evento termina este domingo. Pelo festival já passaram Urbano Tavares Rodrigues, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Mia Couto, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Mário Cláudio, Alice Vieira, Miguel Sousa Tavares, Pepetela e Manuel Alegre.