Sentada na sua cadeira de rodas Catarina sorri e gesticula alegremente. Está feliz, atesta a mãe, Maria de Fátima Sousa, que sabe ler as expressões da jovem de 20 anos como ninguém. “Nota-se a felicidade dela. Todos os dias chega a casa cansada, mas muito bem-disposta. As pessoas daqui são muito amorosas com as crianças. Para ela isto são mesmo umas férias. E vão todos felizes, não é só a minha filha”, conta.

Catarina é uma das dezenas de crianças e jovens portadores de deficiência do concelho de Valongo que, durante as últimas nove semanas, puderam integrar o projecto OTL ESPECIAL@rte Férias de Verão, participando em actividades lúdicas e visitas a vários locais.

A iniciativa terminou na sexta-feira com uma mostra dos trabalhos feitos que juntou pais e familiares na EB 2,3 de Alfena, onde as iniciativas decorreram enquanto terminam as obras da Casa do Xisto, projecto que dará resposta à área da deficiência de forma permanente, e que visa “estimular a autonomia das pessoas com deficiência através das artes, dos ofícios e do desporto”. A abertura está prevista para 8 de Outubro, anunciou a vereadora da Acção Social da Câmara de Valongo, Manuela Duarte. “Aqui trabalhamos o momento das férias, a Casa do Xisto funcionará todo o ano. É um projecto em que a Câmara é investidora social”, disse, falando da falta de rectaguarda e de apoio das famílias com portadores de deficiência e do facto de haver muitas cansadas e a precisar de ajuda. “Para os pais é uma oportunidade de descanso. Este OTL não dá resposta à procura”, admite.

“Muitos pais não tinham alternativa antes deste projecto”

Criado em 2015, o projecto OTL ESPECIAL@rte foi pioneiro ao promover actividades lúdico-pedagógicas para crianças e jovens com deficiência a partir dos seis anos, residentes no concelho de Valongo. “O projecto tem crescido. Começaram por ser quatro semanas e agora são 11 ao longo do ano, sendo nove no Verão, uma nas férias lectivas da Páscoa e outra no Natal. Fomo-nos adaptando às necessidades das famílias”, resume Elsa Carvalho, psicóloga do município, técnica da Rede Social e do Banco Local de Voluntariado.

“Muitos pais não tinham alternativa antes deste projecto. O que existia era a título privado e com preços exorbitantes. Isto permite conciliar a vida familiar e profissional e também dá igualdade de oportunidades a estas crianças e jovens”, descreve a técnica.

O tema deste ano foi “Ser Português” e, em cada uma das nove semanas, 18 participantes puderam explorar vários temas e desenvolver visitas temáticas. Alguns repetiram a experiência. Participaram, por exemplo, numa vindima, cantaram o fado ou exploraram o brinquedo tradicional, o azulejo e o galo de Barcelos.

O grupo foi sempre heterogéneo, com deficiências muito distintas, desde a paralisia cerebral, à multideficiência, autismo, ou deficiência motora, entre outros. “A inclusão destas deficiências também é muito importante. Queremos que aceitem a deficiência uns dos outros”, diz Elsa Carvalho. A maioria tinha entre 12 e 16 anos.

Tudo foi feito com o acompanhamento de uma equipa multidisciplinar e de voluntários, incluindo a parceria da EducaSom, entidade que operacionaliza o GAS Porto (Grupo de Acção Social do Porto).

“Estar de férias em casa sem grandes actividades é uma tristeza para ela”

Virgínia com a filha Helena

Virgínia Úria, de Ermesinde, tem uma filha com 55 anos e um atraso psico-motor que nunca foi devidamente diagnosticado. Depois de ter frequentado um colégio até aos 11 anos, Helena foi mandada para casa. “Não a queria ter fechada”, conta a mãe. Passou uns anos no cabeleireiro de uma amiga e depois foi integrada numa instituição onde passa os dias há mais de 30 anos.

Este OTL complementa as férias. “Não foi preciso perguntar-lhe se queria vir mais do que uma vez. Tudo o que seja convívio ela está sempre disposta”, explica Virgínia. Veio duas semanas. “Estar de férias em casa sem grandes actividades é uma tristeza para ela”, admite a mãe.

“Fui ver as uvas e gostei, vimos coelhos e cantei o fado com uma senhora. Aqui são todos simpáticos e é melhor que estar em casa. Depois volto para a escola”, explica Helena.

Maria de Fátima com a filha Catarina

Catarina, de 20 anos, ficou com sequelas para a vida depois de uma meningite aos sete dias de vida. Tem limitações físicas, psicológicas e não fala. Mas sorri com frequência. É utente do Centro de Actividades Ocupacionais do Centro Social de Alfena e, de Verão, costuma aproveitar o OTL para fazer férias. Maria de Fátima Sousa garante que a felicidade lhe fica estampada no rosto. Este ano participou durante duas semanas e não faltou à festa de encerramento.