1. Nos últimos anos, sob o ambiente de umas autárquicas que se adivinhavam difíceis, a discussão sobre a situação das contas publicas no concelho de Paredes popularizou-se.

De visões apressadas, passando pela busca de julgamentos rápidos e sumários e na ansia de satisfazer egos de vitória, Paredes perdeu a oportunidade de, serenamente, discutir os verdadeiros números da dívida publica.

Foram vários os anúncios do até então líder da oposição que a dívida da Câmara ultrapassava mais de 100 milhões de euros. De cartazes criativos até jornais oficiosos e usando o nome de estruturas de juventude, tudo serviu para intoxicar e mentir perante os paredenses.

As contas eram apresentadas, como a lei exige, nas reuniões de câmara e discutidas até ao mais ínfimo pormenor por todos os vereadores em exercício, os que ganharam e os que perderam, ou seja, era do conhecimento geral de todos os eleitos a real situação das contas publicas.

Até agora, tudo transparente.

Passava pouco mais de 1 mês das eleições autárquicas que trouxe consigo um novo cenário político ao concelho. Seguindo as linhas mestras de histórias em tudo semelhantes a concelhos vizinhos, as noticias da desgraça floriram na imprensa local como cogumelos num tronco apodrecido. Foram títulos sonantes, com letras coloridas e palavras pomposas– quem não se lembra do famoso “Gambão” – que anunciaram com enorme astúcia que a “mudança e verdade” tinha chegava a Paredes.

Até agora, tudo mais ou menos transparente.

Na semana passada e na assembleia municipal, a discussão tinha como ponto alto a prestação de contas do município. Para surpresa de alguns, ou melhor, para surpresa dos mais distraídos (assim quero acreditar), os números da desgraça ou da má herança ficaram-se pelos 58 milhões de euros. Contas feitas, menos de metade do que era anunciado e apregoado pelos bem feitores da desgraça.

Não ouvi, não li, nem muito menos verifiquei qualquer reação daqueles que anos a fio aclamavam pela verdade e transparência dos números. Descobri que mais 50 menos 50, o que realmente interessava era ganhar o poder.

Quanto ao silêncio ensurdecedor que se verificava nas galerias da assembleia municipal e posteriormente nos grupos think tank da política paredense foi também muito clarificador.

Até agora, tudo menos transparente.

A especialização na vitimização política é de fácil ensino, mas que esconde a incapacidade de apresentar soluções de futuro para um concelho que merece sonhar e acreditar que é possível fazer mais.

Paredes precisa de uma oposição forte, exigente e que tenha a criatividade necessária para construir uma verdadeira alternativa que nos dê um horizonte com futuro e não numa história que acabe sempre na desculpa da contabilidade dos números.

Cabe-nos a nós, enquanto agentes políticos lutarmos por este caminho e

exigirmos a fiscalização intransigente das decisões políticas, sem desculpas ou amarras com heranças passadas.

  1. Não podia deixar de em poucas linhas falar sobre o tema que incomoda o status quo da política nacional: a corrupção.

Não estou a falar do Partido A ou B, mas sim, de um problema que é transversal à sociedade e à democracia. Falamos de homens que juraram defender o bem publico e prezar sempre na defesa intransigente do País.

Não consigo entender como é possível aceitar a condição de ser corruptível em detrimento do bem maior que é Portugal.

É por estas ideias peregrinas que, independentemente da cor política, todos nos devíamos bater. Não é por ser do nosso partido que devemos sentir vergonha. Devemos sim, sentir vergonha se a justiça falhar e não for capaz de julgar os culpados no seu tempo.

A minha geração assim o exige.