Promover a inclusão social e o gosto pela arte junto das crianças mais desfavorecidas do concelho é o grande objectivo do projecto “Orpheu Paredes Social”. Até ao final do mês, cerca de 90 crianças, na sua maioria provenientes de famílias que recebem o Rendimento Social de Inserção, institucionalizadas, da comunidade cigana ou dos empreendimentos de habitação social, estão a participar em oficinas artísticas gratuitas durante as férias.

Música, expressão plástica e expressão dramática são o foco destas oficinas que focam o tema dos Direitos das Crianças e decorrem de forma descentralizada, na Casa da Cultura, na Biblioteca, na Rebord’arte, no Centro Social da Parteira, na Associação S. Pedro e na Cruz Vermelha da Sobreira. No dia 1 de Setembro, os jovens vão apresentar os resultados do trabalho desenvolvido, na Casa da Cultura de Paredes.

“Não tinha possibilidade de os ter aqui se não fosse gratuito”, diz mãe

Promovido pela Câmara Municipal de Paredes, o projecto “Orpheu Paredes Social” visou “criar uma oferta para os tempos livres, promover o gosto pela arte e cultura, junto das crianças e jovens especialmente as mais desfavorecidas, bem como a inclusão social de forma sociocultural, orientada para o seu desenvolvimento integral”, explica o município.

“Estas oficinas têm carácter social. Quisemos levar a arte e a cultura a crianças que vêm de ambientes mais desfavorecidos”, diz o presidente da câmara, Alexandre Almeida. Estas oficinas, refere, assumem um custo de cerca de 3.500 euros, que não é significativo face ao retorno que pode trazer na formação de públicos culturais, defende.

Estas crianças têm tido a oportunidade de frequentar oficinas de música, teatro e pintura a que tradicionalmente não têm acesso. “O conceito de arte e cultura está muitas vezes relacionado com o poder económico de cada agregado e se for tida em conta que a vulnerabilidade e incidência da pobreza atingem máximos elevados quando se fala de agregados familiares com crianças (em geral), estas encontram-se em desvantagem no acesso à cultura e à arte”, sustenta a autarquia.

Seria o caso dos filhos de Angelina Moreira. A paredense tem quatro filhos, três deles menores e confessa que não lhes consegue proporcionar estas actividades culturais. “Tenho dois filhos com 11 e oito anos nas oficinas. Não tinha possibilidade de os ter aqui se não fosse gratuito”, conta. “Um ATL custa 50 a 60 euros por semana para cada um e isso, vezes três, contando com a minha filha de 14 anos, seria impensável”, reconhece. A alternativa seria a do costume: ficarem em casa “fechados a jogar ou a ver televisão”.

“Não costumo ir muito ao teatro ou ao cinema porque os meus pais não podem pagar”, assume Sérgio Costa, de 11 anos, que nunca tinha participado neste tipo de oficinas. “Costumo ficar em casa a jogar ou vou à praia”, diz. O mesmo acontece com Jorge Cunha, também de 11 anos. “Foi a primeira vez que vim a oficinas destas. Gostei de construir as máquinas fotográficas, desenhar e de fazer a medalha do Orpheu”, dá como exemplo. “Costumo estar em casa a ver TV ou ir à piscina”, acrescenta o jovem.

Ambos vão participar num teatro final que retrata o trabalho infantil, tema explorado nas oficinas em que participaram.

Para além da autarquia, a organização está a cargo do Centro Socio-Educativo e Profissional da Parteira, Juntas de Freguesia de Paredes, Rebordosa e Sobreira, Rebord’arte, São Pedro – Centro Social da Sobreira, Cruz Vermelha da Sobreira, Associação para o Desenvolvimento de Rebordosa, RSI e Santa Casa da Misericórdia de Paredes.