Capacitação e colaboração. São esses os dois pontos chaves do Plano Estratégico Paços de Ferreira 2020/2030, apresentado, ontem, no Museu Municipal de Paços de Ferreira.

O documento quer ser orientador e guiar as empresas do sector do mobiliário e o poder político nas acções a tomar nos próximos 10 anos com vista à internacionalização.

Segundo o plano, “o sector do mobiliário constitui a aposta estratégica de Paços de Ferreira para dinamizar o desenvolvimento económico-social do município no horizonte 2020/2030”. Isso tem de passar pela “aposta no desenvolvimento de produtos de maior valor acrescentado, por incorporação de tecnologia, design e materiais mais amigos do ambiente”, trazendo “a diferenciação do sector do mobiliário” e a “melhoria da produtividade das empresas”.

Actualmente, no contexto internacional, o sector é reconhecido pela capacidade de produção e serviço ao cliente para o posicionamento “Bonito, Bom e Barato”. A meta é alterar esse posicionamento, com investimento em comunicação, com vista a reposicionar o sector e a alavancar a notoriedade das marcas portuguesas nos mercados externos.

A par disso, antevêem os responsáveis pelo Plano, que envolveu a Universidade Católica Portuguesa, a Câmara de Paços de Ferreira, a Moveltex, a Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF) e os próprios empresários, as exportações do sector do mobiliário estão muito concentradas geograficamente. “A diversificação dos mercados externos acarreta maior exposição aos riscos inerentes ao processo de internacionalização das empresas, mas este pode ser mitigado através da adopção de estratégias colaborativas para desenvolver novos modelos de negócio e modos de entrada em novas geografias”, diz o documento.

Uma certeza fica: a “cooperação entre entidades”, públicas, associações empresariais, institutos politécnicos, universidades e empresas, é fundamental para conjugar esforços e explorar sinergias de investimento. Além disso, a “adesão dos empresários” ao Plano Estratégico Paços de Ferreira 2020/2030, é fundamental, em particular, no investimento em programas de desenvolvimento de competências da gestão de topo, transversais a todos os sectores e empresas da região.

“Para isto ser bem sucedido é preciso que os empresários se envolvam”

O Plano Estratégico está delineado em torno de sete projectos, quatro de capacitação colectiva e os outros três de colaboração através da Moveltex, Associação Empresarial de Paços de Ferreira e Câmara Municipal, “que agora têm de traçar planos claros e com objectivos concretos em linha com estas ideias”, afirmou Margarida Ramalho, coordenadora do estudo e directora executiva da Católica International Business Plataform.

“Este é um primeiro passo para um caminho”, sendo que agora é preciso que as empresas se juntem, as associações criem sinergias e haja um trabalho em rede e uma capacitação dos empresários locais. “A âncora deste plano estratégico é criar mais valor. Paços de Ferreira tem uma posição de liderança no sector a nível nacional”, salientou Margarida Ramalho.

O plano está estruturado em torno de dois eixos: a capacitação e a colaboração. No primeiro, então integrados quatro projectos, o Centro Tecnológico, Centro de Formação e Academia, o Centro de Business Inteligence e o Centro de Exposições e Parque Temático. Parte da questão passa por preparar a mão-de-obra do futuro e defender a criação de cursos adaptados, além de manter o planeamento estratégico. Também há a ideia de “criar um centro de exposições, um parque temático, para ser uma montra da inovação que se faz a nível nacional”, à semelhança do que acontece com um museu na Suécia e um centro de exposições na Holanda, entre outros. O objectivo seria ter “um centro de atracção para profissionais e até famílias, que dê notoriedade nacional e internacional”.

No âmbito da colaboração, a Moveltex ficará responsável pela dinamização de parcerias estratégicas, a AEPF pela dinamização do tecido empresarial e a Câmara pela dinamização da sustentabilidade municipal (dando apoio à construção de infra-estruturas, ao reforço das redes de transportes e gestão de resíduos, vendendo o sector do futuro e captando mão-de-obra).

“Para isto ser bem sucedido é preciso que os empresários se envolvam. Se as empresas não aderirem isto não avança. Isto é um plano, é preciso virar a página, isto para já é papel”, sentenciou Margarida Ramalho.

“Só trabalhando em conjunto, partilhando know-how e participando activamente conseguiremos resultados melhores”

Antes, Miguel Athayde Marques, vice-reitor da Universidade Católica, sustentou que o grande desafio das pequenas e médias empresas é “criar valor, crescer e internacionalizar”. Apontou ainda a grande dependência de Portugal quanto às exportações europeias, sobretudo mercados como o de Espanha, Alemanha e França, defendendo que isso poder ser “ao mesmo tempo uma grande oportunidade de diversificação”, exportando para outros países.

Mas não basta exportar, salientou, é preciso exportar com valor acrescentado e internacionalizar, passando de exportador passivo a vendedor activo nesses mercados. E as “exportações também não podem crescer se não houver investimento na capacidade produtiva, no capital humano e em inovação e na gestão”. Esse crescimento, disse, pode ser conseguido com estratégias colaborativas, parcerias e consórcios.

Segundo Miguel Athayde Marques há estudos indicam que o sector do mobiliário é o próximo a transitar para o e-commerce, já que 50% dos consumidores estão disponíveis para comprar mobiliário e decoração online. Por isso, é preciso que as empresas se adaptem e apostem no sustentável, no único, ofereçam um serviço personalizado, saibam usar as tecnologias das lojas virtuais, conheçam os consumidores e assegurem a logística desde a compra à entrega.

Samuel Santiago, da AEPF, citou números. “Em Paços de Ferreira as indústrias de mobiliário e vestuário representam 75% do volume de negócios”, sendo que, com um universo de cerca de 4000 empresas que empregam cerca de 34 mil trabalhadores, o mobiliário português está em 160 mercados e tem apresentado um crescimento das exportações na última década, gerando milhões em vendas e sendo reconhecido pela sua qualidade.

O concelho ocupa o primeiro lugar em volume de negócios da indústria de mobiliário, por município. “É o que gera mais volume de negócios neste cluster com cerca de 300 empresas industriais e 450 ligadas ao comércio de mobiliário”, referiu. Juntamente com Paredes e Lousada congrega cerca de 700 empresas industriais do sector e 40% do volume de negócios.

“É preciso transferência de conhecimento para melhorar a competitividade e melhorar processos criativos do tecido empresarial”, argumentou. “É necessário integrar as novas tecnologias para responder aos desafios, produtos com inovação tecnológica, design e sustentabilidade e é preciso cooperação e uma comunicação diferenciadora que promova o sector lá fora. Só assim será possível aumentar a produtividade das empresas e alterar a percepção dos produtos como ‘bom, bonito e barato’”, defendeu o responsável pela AEPF. “Só trabalhando em conjunto, partilhando know-how e participando activamente conseguiremos resultados melhores”, afirmou ainda.

Plano aponta caminhos

O presidente da Câmara de Paços de Ferreira acredita que este plano “aponta caminhos”, sendo que, segundo os eixos, a intervenção passa pela colaboração e a capacitação.

“Paços de Ferreira é líder nacional na produção de mobiliário. Assumimos essa responsabilidade, enquanto líderes, de avançarmos através das políticas públicas com um conjunto de acções concretas”, afirmou.

Em curso está já o investimento de cinco milhões de euros do Centro Tecnológico, um projecto apoiado pela Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, e que tem financiamento garantido, com vista a servir as fileiras da madeira e do mobiliário. Ao mesmo tempo, o município quer que avance a Academia Profissional para fazer face à “necessidade de mão-de-obra e da formação dos profissionais”. A própria autarquia, lembrou, já diligenciou, no sentido de virem pessoas de outros países, nomeadamente Cabo Verde, para suprir as necessidades de trabalhadores do sector do mobiliário e de outros sectores.

É preciso diversificar mercados, concordou. “Há mercados como os Estados Unidos, a América do Sul, que são fundamentais, mas não podemos entrar nestes mercados de olhos fechados e teremos de nos preparar para entrar”, deu como exemplo.

Já um possível museu e parque temático sobre a indústria, pode contribuir “para uma maior afirmação do concelho e de todo o parque expositivo”. “Quando se tem mais de um milhão de metros quadrados de área de exposição não podemos deixar de dar uma resposta que os nossos comerciantes nos exigem”, afirmou o edil pacense.