Porque prevenir é melhor que remediar, a Guarda Nacional Republicana continua a realizar, regularmente, sessões de esclarecimento sobre burlas. A semana passada, a Biblioteca Municipal Professor Vieira Dinis, em Paços de Ferreira, foi o palco de mais uma, desta vez organizada pela ProSénior – Universidade Sénior de Paços de Ferreira, em parceria com o Destacamento Territorial da GNR de Felgueiras, no âmbito do programa “Operação Idosos em Segurança 2015”.

Cerca de três dezenas de seniores marcaram presença e ouviram os guardas relembrar conselhos que até nem são novos, mas são muitas vezes esquecidos. Numa sessão interactiva e com partilha de histórias falou-se de como actuam os burlões, como melhorar a segurança em casa e na rua e como reagir em situações de burla.

“É preciso ter sempre o pé atrás” e desconfiar de desconhecidos bem-falantes, salienta a GNR. E é preciso denunciar a burla ou a tentativa de burla para evitar que outras aconteçam.

82 casos de burla registados até meados de Novembro

Entre 2010 e Setembro de 2015, a Guarda Nacional Republicana registou, cerca de 20 mil casos de burlas em Portugal Continental. Em 2014, a GNR sinalizou 3.554 burlas e, nos primeiros nove meses do ano em curso, já tinha recebido 2.875 denúncias por este tipo de crimes. Os números desta força de segurança mostram que o Porto é o distrito com mais casos registados e que os principais burlados são os idosos. A maioria das burlas é praticada por falsos funcionários da Segurança Social, ou de empresas da electricidade e telefones.

Os números do Destacamento Territorial da GNR de Felgueiras, relativos aos postos territoriais de Freamunde, Lousada e Paços de Ferreira, mostram um ligeiro aumento de casos registados entre 2013 e 2014. No primeiro ano foram denunciados 42 casos de burla, a maioria em Paços de Ferreira. No ano passado o número subiu para os 57 casos, mais uma vez com o posto de Paços de Ferreira a registar o maior número. De realçar, que a maioria das burlas inclui-se na categoria “outras burlas”, que integra os frequentes casos de conto do vigário e burlas a idosos.

Em 2015, até meados de Novembro, este Destacamento Territorial já tinha registado 82 casos de burla no total, 38 deles nos concelhos de Lousada e Paços de Ferreira. Destaque para alto número de “outras burlas”, mas também para as burlas relacionadas com fraude bancária e informáticas ou nas comunicações.

Burlões dizem sempre que querem ajudar

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Porque os casos repetem-se, muitas vezes com os burlões a usarem os mesmos métodos, a GNR tem um programa destinado a esclarecer os idosos sobre a forma como actuam estas pessoas e como reagir perante uma situação de burla.

Desta vez, estiveram na Biblioteca Municipal Professor Vieira Dinis a falar para uma plateia de cerca de três dezenas de pessoas, sobretudo alunos da Universidade Sénior de Paços de Ferreira. A sessão, interactiva, permitiu aos seniores irem colocando questões e falando sobre algumas experiências pelas quais já tinham passado.

“Porque é que os idosos são os alvos preferenciais dos burlões?”, perguntou um dos militares da GNR que participa nestas sessões de esclarecimento. “São mais fáceis de levar”, refere um sénior. “E acreditam que temos dinheiro em casa”, diz outro. “E porque vivem muitas vezes sozinhos e em locais isolados”, acrescenta o guarda.

Explica-se o que é uma burla: “acontece quando alguém com uma conversa convincente nos leva a fazer o que não queremos”. E o perfil do burlão envolve quase sempre pessoas bem vestidas e bem-falantes, que, muitas vezes, até sabem o nome de quem vão burlar e outras informações pessoais. Na maioria dos casos apresentam-se como funcionários da Segurança Social, do banco, do gás, da electricidade e da água, ou mesmo como familiares e amigos. “Dizem sempre que querem ajudar”, explicam os militares da GNR. Vêm trocar notas porque perderam a validade ou saíram de circulação; substituir o cartão multibanco velho por um novo; entregar uma encomenda de um filho ou familiar, pedindo dinheiro em troca, entre outros. Também há casos em que telefonam e dizem que foram premiados e atraem as pessoas a um local para receber o prémio, tentando vender-lhes produtos.

Ainda em Maio deste ano, o Destacamento recebeu uma queixa sobre um caso de burla em Meinedo, Lousada, quando um casal de idosos foi abordado por um alegado cobrador da EDP. O homem pediu acesso ao contador e à última factura de electricidade e disse aos seniores que tinham que pagar imediatamente 150 euros porque a factura estava fora de prazo. A mulher foi buscar dinheiro ao piso superior da casa e voltou com 270 euros na mão, tendo o burlão agarrado no dinheiro e pondo-se em fuga. Quando se apercebeu o marido ainda pediu socorro, mas de nada adiantou.

“Quanto menos falarmos melhor e é preciso ter sempre o pé atrás”, salienta a GNR, lembrando outro método de burla que se tem tornado frequente, a falsa cobrança de quotas dos bombeiros.

Chaves debaixo de um tapete ou de um vaso estão proibidas

E porque os conselhos nunca são demais, a força de segurança lembrou alguns, que a maioria até já conhecia, mas que nem sempre põem em prática. Não abrir a porta a estranhos e espreitar primeiro a uma janela para confirmar a identidade das pessoas; não deixar ninguém entrar em casa sem ter a certeza de quem é ou pedir sempre identificação a quem diz ser da companhia do gás, luz e telefone são alguns deles.

Depois não se deve dar dados pessoais pelo telefone ou dizer-se sozinho. Deve-se evitar ter grandes quantias em dinheiro em casa e outros objectos de valor à vista e deixar uma luz acesa quando se sai à noite. Chaves debaixo de um tapete ou de um vaso estão proibidas. Em caso de férias ou ausência prolongada, informaram os guardas, a GNR tem um programa gratuito de vigilância à casa.

Em caso de burla, referiram, é essencial que a vítima tente manter a calma e não mostre nervosismo, e que tente pedir socorro, no caso de não estar sob ameaça. Por outro lado, não se deve oferecer resistência física e deve-se tentar memorizar elementos sobre a pessoa que nos abordou, como traços físicos, a roupa que usa, o carro e a direcção que tomam quando fogem.

E “é preciso apresentar queixa e denunciar”, salienta a GNR. “Mesmo quando a burla não se concretiza devem alertar as autoridades para que outros não caiam”, explicaram os guardas aos seniores.

Em média, os guardas Jorge Sampaio e Bruno Ventura têm realizado três sessões por semana, sobre burlas, estupefacientes, violência doméstica, entre outros, e para vários públicos. As dúvidas são muitas vezes as mesmas, reconhecem, mas é sempre bom relembrar e abordar novas burlas, como as bancárias ou pela internet.

“Não abro a porta a ninguém, vou sempre à janela”

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Quem esteve na sessão achou estes conselhos úteis. Foi o caso de Carlos Dias, 77 anos, e Maria Laura, de 67. “Ainda há poucos dias foi lá a casa um senhor tocar à campainha e perguntou se morava sozinha. Fiz como disse o meu filho, disse que morava um polícia na parte de cima”, conta a sénior.

“Nós já sabemos quase tudo o que foi aqui dito”, reconhece o casal. Mas isso não evita que não se cometam erros. “Até há pouco tempo deixava a chave debaixo do tapete, agora já não faço isso. Dantes não tinha medo, agora tenho”, conta Maria Laura.

“Gostei muito da sessão. Vou daqui muito mais rica”, assegura Maria Cardoso. Além de obter mais informação para si, a sénior, prometeu levar estes conselhos a pessoas mais velhas e que vivem sozinhas e isoladas na sua freguesia. “Não abro a porta a ninguém, vou sempre à janela. Nunca aconteceu nada, mas nunca digo que estou sozinha, faço sempre de conta que chamo pelo meu marido”, confessa. “Gostava que se fizesse estas sessões mais vezes, é preciso lembrar sempre estas informações”, acredita a pacense.

“Estamos todos sujeitos a ser enganados e a ter alguém a tentar burlar-nos, até porque estas burlas estão cada vez mais requintadas. O melhor é estarem alerta para se saberem defender”, defende Jorge Diogo, coordenador da Universidade Sénior de Paços de Ferreira. A instituição já tinha realizado sessão idêntica há dois anos. “É preciso falar para prevenir as pessoas”, sustenta.

Casos têm sido frequentes na região

Cuidado com os falsos cobradores de quotas dos bombeiros

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Conceição Ferreira foi burlada em Agosto

O método não é novo, mas nos últimos meses têm-se sucedido os casos de burlões a fazer-se passar por cobradores de quotas das corporações de Bombeiros e delegações da Cruz Vermelha da região. Os principais burlados são, mais uma vez, os idosos, sobretudo os que vivem sozinhos ou isolados.

O VERDADEIRO OLHAR tem vindo a noticiar alguns desses casos. Em Agosto deste ano, uma mulher de 74 anos, de Caíde de Rei, Lousada, ficou sem 212 euros depois de ser abordada por um indivíduo que se fez passar por cobrador de quotas dos Bombeiros Voluntários de Lousada. O homem identificou-se como sendo da associação humanitária e disse que vinha cobrar os 12 euros anuais pedidos aos associados. Quando a sénior se dirigia dentro de casa para buscar o dinheiro, o indivíduo, que nunca saiu do veículo, perguntou-lhe se conseguia trocar duas notas de cem euros para facilitar os trocos. A septuagenária disse que sim e voltou com 212 euros que entregou ao homem, que pôs-se em fuga mal recebeu o dinheiro.

Um caso semelhante aconteceu em Freamunde, Paços de Ferreira, na mesma altura. Uma mulher de 76 anos ficou sem 120 euros em mais uma falsa cobrança. Conceição Ferreira estava sozinha em casa quando ouviu um carro buzinar e veio à porta. Um homem, entre os 40 e os 50 anos perguntou-lhe se era sócia dos bombeiros e disse vir cobrar a quota da corporação freamundense. Perguntou ainda se a idosa podia trocar uma nota de cem euros em duas de 50. Quando a sénior lhe entregou o dinheiro o homem deu-lhe um falso recibo e uma falsa nota. “Quando olhei para os papéis vi que não era nenhuma nota de cem euros. Percebi logo que tinha sido enganada, mas o carro já tinha arrancado a grande velocidade”, contou a septuagenária ao nosso jornal. Um vizinho chamou a GNR.

Um mês antes, em Frazão, outra sénior foi burlada em 70 euros quando um indivíduo bem-falante quis cobrar as quotas de associado da Cruz Vermelha de Frazão dela e da filha. A mulher, de 81 anos, ainda desconfiou, já que o cobrador não era o mesmo do costume, mas o burlão explicou que o colega estava doente e mostrou saber o valor da quota (12,50 euros) e que a idosa também costumava pagar a da filha. A octogenária só tinha 20 euros na carteira e foi dentro de casa buscar uma nota de 50 euros para pagar as duas quotas, que perfaziam 25 euros. Depois de receber a nota de 50 euros, o homem disse não ter troco e pediu à mulher também a nota de 20 euros, dizendo que ia mais à frente, a casa de uma vizinha, fazer o troco. Como não recebeu recibo e o indivíduo tardava a voltar a mulher acreditou ter sido burlada, tendo ligado para a Cruz Vermelha de Frazão que confirmou que não havia ninguém a fazer essa cobrança.

Há uma nova nota de 20 euros, mas não é preciso trocar as antigas

Esta semana entrou em circulação a nova nota de 20 euros, da série “Europa”, com mais segurança contra falsificações, tal como já aconteceu com as notas de cinco e 10 euros.

O Banco de Portugal sublinha que não é preciso trocar as notas antigas por estas. As notas de 20 euros actuais continuarão a circular e podem continuar a ser utilizadas normalmente.

O conselho é simples, se alguém lhe bater à porta e disser que vem trocar as notas antigas recuse e chame as autoridades.