Bota-abaixo

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O confinamento afastou-nos ainda mais do centro habitual das nossas atenções. A pandemia consumiu-nos durante mais de dois meses e quando pensávamos que o nosso alívio correspondia ao abrandamento do vírus eis-nos confrontados, de novo, não sabemos bem se com a insistência do bicho, com a incompetência de quem nos dirige ou com os nossos deveres de cidadania. Não temos motivos maiores para temer a força da Covid-19 nem nos contentamos por, ao que parece, ter escolhido outras geografias.

Contudo, não ignoramos que foi à volta do sítio onde vivemos, em Paredes, e particularmente nos concelhos de Lousada e Felgueiras que a coisa começou. E não esquecemos, dessa altura, o “oráculo” da televisão que nos condenava, e ao norte do país, à contaminação antecipada e prolongada por sermos uma “população menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares”.

 Isto foi quando o vírus entrou no país.

 Agora, que assentou arraiais em Lisboa e arredores dizem-nos que é “porque aquela população esteve sempre a trabalhar e não confinou”.

Tretas, tretas e mais tretas!

Desculpas de quem se habituou a ver o país a partir de Lisboa e a olhar o norte sempre de soslaio. Não, não alinhamos em bairrismos bacocos nem alimentamos rivalidades parolas, mas também não engolimos a palha que nos querem fazer comer.

E por cá?

Isto não é o Entroncamento, embora pareça, às vezes.

Na minha terra, Paredes, ultimamente e porque estamos a um ano das eleições, o bota-abaixo é outro.

Eles lá sabem o que fazem, mas se nos explicassem como deviam talvez merecessem mais respeito nosso.

Ainda estou para saber e não vi ninguém explicar por que raio para recuperar o pavilhão gimnodesportivo tiveram de começar por destruir o Estádio das Laranjeiras, que coabitava com o pavilhão, mas mantinha a distância física que permitia fazer uma coisa sem destruir a outra. Nem sequer nos disseram- e a isso, no mínimo, estão obrigados- o que vão fazer do e no espaço agora arrasado. Muito menos deram uma palavra que fosse que nos garantisse a manutenção, como prometeram, do antigo estádio sintético, para fins públicos e de lazer.

E o novo parque de estacionamento na antiga ETAR?

Mais facilmente lhes provaríamos nós que com o circuito de treinos criado no Parque da Cidade, e com a construção da piscina ao ar livre, no meio, mais útil seria prolongar o parque até à zona ribeirinha do Sousa do que plantar lá um parque de contornos pouco claros. No mínimo poderíamos continuar a dizer que a cidade de Paredes tinha um parque da cidade. Apesar disto tudo, não precisamos de ser pessimistas. Deixaremos de poder dizer que temos um Parque da Cidade, mas ninguém nos retirará o direito de afirmar:

-Não temos, mas já tivemos!

Pior do que isso, como se pudesse isto ser ainda pior, é não nos explicarem o bota-abaixo das árvores que circundavam a extinta ETAR.

Eles não sabem, mas deviam saber que aquelas árvores foram extremamente caras, demoraram décadas a crescer para embelezar aquele espaço e não mereciam aquele fim. Para não incomodarem até estavam encostadinhas ao muro para não estorvarem os lugares de estacionamento.

Depois de sabermos do que tem acontecido em todo o concelho com o abate de árvores, sem dó nem piedade e sem qualquer motivo ou critério, não nos espantamos que tenham feito o mesmo a estas.

Só ficamos com uma dúvida:

-Eram as árvores que estorvavam os carros ou eram estes que iam estacionar em cima das árvores?

E, como se não bastasse o que atrás fica dito, os autores destas façanhas ainda se atrevem a dizer que são outros os bota-abaixo.