O investigador do Centro de Estudos Interculturais do ISCAP/IPP, Ivo Rafael Silva apresenta, na sexta-feira, dia 14, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Paredes o seu mais recente trabalho intitulado “Paredenses na Grande Guerra”.

A obra é um trabalho de investigação que retrata o papel que os paredenses tiveram na Primeira Guerra Mundial.

Ao Verdadeiro Olhar, o autor, natural de Recarei, afirmou que a escolha deste tema surgiu na altura em que estava a preparar o livro “Crónicas Recaredenses”, trabalho historiográfico, editado em 2013, que versa sobre assuntos relacionados com a história da freguesia de Recarei.

“Nessa altura percebi duas coisas: que não havia nada na historiografia do concelho sobre o tema e que, apesar de serem esperadas muitas dificuldades, havia forma de colmatar ou de pelo menos de contribuir para colmatar essa lacuna”, disse.

Ivo Rafael Silva confessou que a temática da guerra não lhe é particularmente estranha, estando presente na sua obra anterior, lembrando que no livro “Crónicas Recaredenses”, fez uma abordagem “sintética, pouco aprofundada, que acabou por ser o ponto de partida para este estudo de maior dimensão e maior detalhe”.

 

Falando das fontes e do acervo bibliográfico que usou para “confeccionar” esta obra, o autor realçou que a documentação de base deste trabalho foram as fichas individuais à guarda do Arquivo Histórico Militar, situado em Lisboa.

Ivo Rafael Silva consultou as folhas originais que os oficiais usaram para registar a ocorrência de cada soldado nas trincheiras.

“Se era ferido, se era castigado, se recebia louvores, etc. Cada documento conta a história do percurso de cada combatente e isso é de uma valia extraordinária enquanto fonte”, afirmou, frisando que se muniu, também, de outra documentação dispersa, que ajudou a completar e a entender esses dados.

O autor revelou, também, que se as fichas foram particularmente úteis aos combatentes do Corpo Expedicionário Português (CEP), mobilizados para França, mais difícil foi munir-se de documentação e informação relativamente àqueles que foram para a defesa das colónias de Angola e Moçambique.

“A documentação já é mais escassa e ainda não foi tratada convenientemente”, acrescentou.

Ivo Rafael Silva demorou quatro anos para concluir trabalho

O autor revelou, ainda, que iniciou a preparação do livro no ano de 2013 e demorou o mesmo tempo a estar concluído, que a Grande Guerra, quatro anos.

“Não a full-time, mas de forma muito regular. Como referi, as fontes primárias são os documentos originais à guarda dos arquivos militares. Houve depois consulta dos registos paroquiais para informação biográfica dos combatentes, recolha de dados e depoimentos junto de algumas famílias e, como não podia deixar de ser, consulta da bibliografia especializada”, expressou.

“Houve homens de Paredes nas trincheiras da frente mas também na retaguarda, nos serviços de saúde, nas telecomunicações, nos vários sectores e até em provas desportivas”

Referindo-se ao resultado final do seu projecto, o autor considerou que a obra, agora, publicada é “bastante útil e abrangente”.

“Não se trata apenas de um conjunto de biografias de paredenses, trata-se de conhecer uma realidade e um tempo que a historiografia local nunca havia tratado. Depois é importante notar que a experiência dos paredenses em França é muito rica pela sua heterogeneidade. Eles estiveram em praticamente todo o lado”, avançou, assegurando que “houve homens de Paredes nas trincheiras da frente mas também na retaguarda, nos serviços de saúde, nas telecomunicações, nos vários sectores e até em provas desportivas. Eles estiveram nos principais momentos históricos da campanha portuguesa, como a batalha de La Lys ou a perseguição aos alemães nas margens do rio Escalda. Conhecer o percurso dos militares de Paredes é também conhecer de forma alargada a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial”.

Quanto aos projectos que tem na forja, o investigador referiu que está a realizar um estudo sobre os acontecimentos principais da Primeira República (1910-1926) no concelho de Paredes.

“A participação na guerra é um desses acontecimentos, mas houve outra ‘guerra’ a nível interno. Aliás, neste livro já há um resumo importante acerca dessa época a nível local. É mais uma lacuna historiográfica que urge colmatar”, esclareceu.

Ao Verdadeiro Olhar, o autor manifestou que apesar dos vários trabalhos já realizados e que se encontram publicados, a história do concelho de Paredes ainda está por realizar.

“Não se pode descartar tudo o que foi feito até aqui, nem quero ser pretensioso a esse ponto, mas é preciso que haja noção de que de facto se fez muito pouco. A solitária «Monografia de Paredes» do Dr. José do Barreiro, que foi a fonte primordial dos estudos, entretanto, realizados, não pode continuar a ser a única referência historiográfica do concelho”, concretizou, salientando que Paredes é “infelizmente, um concelho com uma historiografia muito pobre. É preciso rever o que existe, alargar áreas e períodos de estudo, produzir mais e melhor. Temos um longo caminho pela frente”.