Autárquicas em Paredes

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No país inteiro e desde as primeiras autárquicas, em 1976, contam-se pelos dedos das mãos os resultados de eleições autárquicas em que os executivos eleitos não renovaram os seus mandatos. É também comum ouvir-se dizer, com lógica, que as oposições não vencem eleições. O poder é que as perde.

Dizia-nos o saudoso Jorge Malheiro que se um dia o CDS perdesse as eleições em Paredes, qualquer boneco pintado de cor-de-laranja as venceria durante muitos anos. Tinha razão, mas, pensamos nós, nunca terá previsto que o PSD as vencesse consecutivamente durante 24 anos. 

Paredes não deverá fugir à regra nas próximas eleições autárquicas. Contudo, um breve olhar sobre a história dos resultados no concelho de Paredes, permite-nos tirar algumas conclusões que, coincidindo com este raciocínio, pelo menos a nós, não deixam de nos fazer refletir. 

Os ciclos autárquicos, normalmente e no máximo, gastam-se em 3 mandatos. O PSD ganhou 6 eleições consecutivas em Paredes. 

 Como se pode explicar isto?  

Em primeiro lugar, o concelho é, social e politicamente, um concelho de direita. Mesmo que o PSD tenha mudado de candidato no fim do ciclo eleitoral que devia terminar ali, isso não deveria implicar mais 12 anos com os mesmos. 

Só a fragmentação do CDS, mais do que previsível por ser um pequeno partido no contexto nacional e, sobretudo, os erros do PS/Paredes ajudam a entender a permanência do PSD no poder, principalmente se tivermos em conta que os primeiros 12 anos do PSD não corresponderam a um exemplo de gestão autárquica. Pelo contrário, tinha decorrido mais de uma década de estagnação apenas disfarçada pela desbragada especulação imobiliária que tornou a sede do concelho num dos piores exemplos urbanísticos do país. Tudo o que era infraestrutura continuava, e continuou, como Malheiro deixou, apesar da abundância de milhões resultantes dos quadros de apoios comunitários que acompanharam as gestões laranja. Da História desses tempos, a ver vamos, se brevemente publicamos um conjunto de interpretações que, entretanto, recolhemos. 

Interessa-nos, hoje por hoje, a menos de 2 meses das próximas autárquicas, olhar com a proximidade temporal e a distância analítica obrigatoriamente subjetiva sobre o que aí vem. 

Ninguém se espantará se dissermos que o PS vencerá as próximas eleições em Paredes. Não se pense, contudo, que há grande mérito nessa putativa vitória. Ao contrário do que nos fazem crer, este presidente e alguns vereadores, lidam com o poder há mais tempo do que imaginamos. Alexandre Almeida foi vereador durante 8 anos e é presidente vai para 4 anos. Que concelho será Paredes com este presidente e com este executivo? Nem uma palavra se ouviu. As intervenções feitas durante este mandato não nos trazem grandes novidades em relação aos mandatos anteriores. Vale mais para nós, neste caso, por exemplo, o presidente da junta da Sobreira que definiu como futuro para a sua freguesia a meta de a tornar numa “Vila Residencial “. Se o vai conseguir ou não é outra questão, mas este pensamento estratégico é mais, muito mais profundo do que qualquer pista futura dada por Alexandre Almeida ou pelo seu executivo. Os munícipes têm o direito de saber para onde vai ou quer ir este concelho. Nem que seja para, como diz Régio, “…não sei para onde vou. Sei que não vou por aí”. 

Das oposições, infelizmente para nós, também não poderemos dizer muito melhor. Do PSD, se não é ambição desmedida, louva-se a coragem de Ricardo Sousa em assumir a alternância. Não lhe chamaremos alternativa porque não estamos convencidos do que diferente faria este PSD em relação ao anterior, mas sobretudo duvidamos que hajam diferenças significativas em relação a este PS que, como se sabe, se fez das sobras do PSD e do CDS. Não há também em Ricardo Sousa um pensamento disruptivo quer em relação ao passado do seu partido no poder nem sequer uma lógica alternativa ao executivo socialista, agora no poder. Concorrer em coligação com o CDS é, talvez, a única vitória que Ricardo Sousa poderá afirmar no dia das eleições. 

Do CDS se poderá dizer que, por ora, é o primeiro derrotado nestas eleições. Ver-se-á o que terá para nos dizer depois dos resultados eleitorais, mas, até lá, vemos apenas o desfazer de um sonho bonito que defenderam no último ato eleitoral. Não nos esquecemos de que, há 4 anos, mesmo depois do PS ter ido “às compras” no universo centrista e mesmo perante o desmoronar do partido a nível nacional, em Paredes, o CDS contrariou a tendência nacional de queda do partido e, apesar dos “desertores”, aumentou o número de eleitores e eleitos. Mais do que isso, mesmo durante este mandato, não será difícil admitir que quando houve oposição ela foi feita essencialmente através dos eleitos do CDS. Houve até momentos em que a agenda municipal não teve outro recurso senão ir atrás das propostas dos centristas. “Nasceu” há 4 anos uma geração de novos quadros políticos centristas que agora se vão perder, em lugares secundários, cedendo a sua competência adquirida e evidenciada aos novos/velhos candidatos laranjas perante a força eleitoral do PSD que, com lógica, é o principal partido da coligação. 

Da CDU, que não conseguiu digerir o facto de, nas últimas autárquicas em Paredes, ter sido ultrapassada pelo CDS, poderão esperar-se bons resultados sobretudo no sul do concelho onde apresenta bons candidatos às juntas de freguesia de Cete, Recarei e Parada de Todeia.  No entanto, em Parada de Todeia, a complacência estratégica da CDU com os poderes instituídos em defesa da manutenção da freguesia na coligação, pode surgir a “surpresa esperada” de se ter aliado ao inimigo e, por via disso, “morrer” nas garras dele. 

Das listas de independentes que, normalmente e quando são mesmo independentes, vemos com simpatia, não se esperam resultados que coloquem em causa os números dos partidos já instalados.